quarta-feira, março 25, 2009

Sintomas de uma crise monetária...

A crise financeira está aí, a agravar-se todos os dias, sem que se vejam medidas credíveis para a debelar.
Alguns especialistas começaram a falar nas últimas semanas no risco de uma crise monetária, que mesmo os «amadores» como eu entendem que poder acontecer, com dimensões absolutamente demolidoras dos nossos sonhos.
O primeiro, se bem me lembro, foi o meu amigo Eduardo Paz Ferreira que numa entrevista recente dizia simplesmente isto: «É provável que a zona euro se desfaça, esperemos que a União Europeia não...»
Segundo o relatório do Banco Central Europeu publicado em 24 de Março, em Janeiro de 2009, a balança corrente corrigida de dias úteis e de sazonalidade da área do euro registou um défice de EUR 12.7 mil milhões. Na balança financeira, o investimento directo e de carteira em conjunto apresentou saídas líquidas no valor de EUR 23 mil milhões.
Segundo o mesmo relatório, «o investimento de carteira registou saídas líquidas de títulos de participação no capital (EUR 52 mil milhões) – reflectindo vendas líquidas de títulos de participação no capital da área do euro por não residentes –, que foram em larga medida compensadas por entradas líquidas de títulos de dívida (EUR 48 mil milhões), reflectindo aquisições líquidas de instrumentos de dívida da área do euro por não residentes.».
Os activos de reserva registaram uma diminuição de EUR 5 mil milhões (excluindo efeitos de valorização). No final de Janeiro de 2009, o saldo dos activos de reserva do Eurosistema situava-se em EUR 410 mil milhões.
Pouco depois do anúncio destes resultados, o euro caiu, por relação ao dólar, 0,71%, passando a cotar-se a 1,3536 dólares.
No mesmo dia, o presidente do Banco Popular da China manifestoun o seu desejo de substituir o dólar como moeda de referência nas transações internacionais (Ver mais na MRA Alliance)
Tanto o presidente do Federal Reserve dos EUA, Ben Bernanke, como o secretário do Tesouro, Timothy Geithner, reagiram de imediato, afirmando que não permitirão que o dólar perca seu status de moeda de referência como foi sugerido por Pequim.
A China é o país do Mundo que possui mais títulos do tesouro americano, com 739,6 mil milhões de dólares em Janeiro (546,4 mil milhões de euros, ou seja mais 136,4 milhões de euros que as reservas do Eurosistema.
Tudo isto acontece alguns dias antes da reunião do G20, em Londres, que terá como cenário principal a discussão da reforma do sistema financeiro mundial.
Os recentes anúncios da alocação de moeda à criação de megafundos destinados a salvar os bancos, comprando-lhes os chamados ativos tóxicos (que não são mais do que papel falso, sem nenhum valor) põe, necessariamente em causa o valor das moedas, por via da emissão de papel sem lastro, porém compensável, no médio prazo pela função de imediação que elas têm no comércio global.
O que o dirigente chinês veio dizer, à boa maneira oriental, quando sugeriu a substituição dos direitos de saque especiais do FMI (Special Drawing Rights, do FMI) como uma divisa de reserva soberana, que não seria «influenciada pelas decisões políticas de nenhum país em particular» é que a China - e provavelmente outros países emergentes - não estão dispostos a pagar a aventuras financeiras dos americanos e dos europeus.
Alinhados com a China, parece estar também a Rússia, que sugeriu o mesmo mecanismo, a fazer fé nas notícias do Globo.
Obama e Gordon Brown lançaram-se numa campanha mundial para alocação de recursos à resolução da crise financeira, que passa, no essencial, pela criação de moeda ou pelo endividamento dos estados a niveis considerados insustentáveis. Por contraposição à emissão de moeda, a Europa mantém-se numa posição de reserva, assentando as suas prioridades numa maior regulação, que não permitirá a solução dos problemas financeiros se não forem tapados os buracos existentes no sistema ou se não se criarem condições para a implementação de um sistema financeiro alternativo, emergente da liquidação do património das instituições existentes.
O sinal da China é especialmente importante por poder interpretar-se como aviso de que os países emergentes não estão dispostos a pagar os danos das engenharias financeiras americanas e europeias. Mas é um sinal perigoso, se lhe responderem com arrogância.
Ele pode despoletar uma crise monetária de dimensões imprevisíveis se não houver o bom senso necessário para concluir que os custos e os riscos da vigarice implementada nos mercados financeiros têm que ser suportados por quem a criou.
Dramático, para nós europeus, é que a Europa está completamente dividida. E isso pode conduzir ao fim do euro, como prognosticava Eduardo Paz Ferreira.
Oxalá que não conduza ao fim da União.