segunda-feira, janeiro 24, 2011

O meu voto não mo roubam...

Mais de 53,3% dos portugueses não votaram nas eleições do Presidente da República. Fizeram-no tão conscientemente e com tão respeitável sentido cívico como o fizeram os pouco menos de 46, 7% que votaram.

Fui um desses cidadãos e tenho o maior orgulho por não ter votado, coerente com a conclusão de que nenhum dos candidatos merecia o meu voto.

Os portugueses que consideraram que nenhum dos candidatos merecia o seu voto constituiem a maior maioria de sempre.

O Sr. Aníbal Cavaco Silva foi eleito Presidente da República com 2.230.104 votos, correspondentes a 52,94% dos votos que, na realidade são apenas 24,72% do eleitorado.

O Sr. Aníbal Cavaco Silva não tem o direito de afirmar que é o Presidente de todos os portugueses, porque foi eleito apenas por quem o elegeu.

Não é o meu presidente, não é o presidente da maioria dos cidadãos que se abstiveram nem da outra minoria que votou nos demais candidatos.

75,28% dos portugueses não quiseram eleger o Sr. Aníbal Cavaco Silva.

53,3% dos portugueses não quiseram eleger nenhum dos candidatos.

Aníbal Cavaco Silva é o Presidente da República, mas não é o meu meu Presidente da República, porque eu não quis elegê-lo nem lhe admito que me confisque o voto para mim incluir nessa maralha que são «todos os portugueses».

Sempre votei nas eleições presidenciais e já tive os meus presidentes.

Desta vez não votei porque entendi que nenhum dos candidatos merecia o meu voto.

Esse é um direito de que não abdico e de que nenhum cidadão deve abdicar.

Os discursos da vitória do Sr. 24,72% confirmam que eu tinha razão.

Cavaco Silva não é apenas um deserto de ideias. É uma incógnita.

A afirmação de que os resultados foram «uma vitória da verdade sobre a calúnia» são causa da maior preocupação, quando é certo que o maior problema que afeta a nossa vida pública é o do desconhecimento da verdade.

Pela primeira vez, Portugal tem um Presidente da República que, para além de ter sido eleito por uma reduzida minoria, é suspeito de envolvimento direto ou indireto em operações financeiras que causaram ao País prejuízos de milhares de milhões de euros.

Invoca para si próprio o referencial da confiança porque sabe que a maioria dos portugueses não confia nele, razão porque não lhe deram o seu voto.

Por isso, fique-se com os 24,72% dos votos que lhe deram.

Mas o meu não mo tira, porque não lho quis dar.