quinta-feira, setembro 24, 2009

Promiscuidade

Aníbal ARaújo - o Zé das Medalhas da última campanha - pôs a boca no trombone.
Cito o que me caiu no e_mail:

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José Lello e António Braga acusados de negociarem cargos em troca de financiamento partidário
Hoje às 16:25

Os socialistas José Lello e António Braga são acusados de negociarem cargos em troca de financiamento partidário com o empresário português Licínio Bastos que chegou a ser detido no Brasil. O antigo cabeça-de-lista do PS pelo círculo Fora da Europa, Aníbal Araújo, fez estas acusações numa entrevista à TSF.
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Reportagem de Nuno Amaral com as declarações de Aníbal Araújo sobre este caso

José Lello e António Braga são acusados de negociar cargos em troca de financiamento partidário com o empresário Licínio Bastos, que chegou a estar detido no Brasil.
A acusação partiu do cabeça-de-lista socialista pelo círculo Fora da Europa nas legislativas de 2005, Aníbal Araújo, que também teve a sua campanha financiada por empresário que foi detido após a Operação Furacão que desmantelou a Máfia dos Bingos.
O deputado socialista e o secretário de Estado das Comunidades Portuguesas diziam, em 2007, desconhecer se o empresário financiou o PS, contudo, em declarações à TSF, Aníbal Araújo afirmou que os dois socialistas negociaram directamente com Licínio Bastos.
Ouvido pela TSF no sábado, o ex-candidato socialista que, em 2007, afirmou não haver qualquer promiscuidade no processo, mas explicou agora que decidiu falar por causa da existência de «muito mentira que se diz e da reposição da verdade que não foi feita».
Aníbal Araújo revelou ainda o conteúdo de uma reunião que envolveu o empresário, José Lello e António Braga e onde se falou de assuntos relativos às Comunidades Portuguesas, mas também da «nomeação de Licínio Bastos para a parte das Águas de Portugal e para a Vivo».
O ex-cabeça-de-lista acusou José Lello de oferecer o consulado honorário em Cabo Frio, um lugar da administração da empresa de telecomunicações Vivo e o controlo da Águas de Portugal também em Cabo Frio e que foi alienada em finais de 2007.
Licínio Bastos, que aguarda o seu julgamento em liberdade, chegou a ser nomeado pelo secretário de Estado António Braga, em 2006, cônsul honorário de Portugal em Cabo Frio, uma cidade perto do Rio de Janeiro, acabando por ser exonerado meses depois de a sua nomeação ter sido publicada em Diário da República.
Apesar de lhe terem sido prometidos também os cargos na Vivo e na Águas de Portugal, o empresário acabou por também nunca exercer qualquer destes cargos.
Aníbal Araújo disse ainda que quer José Lello quer António Braga privaram com Jaime Garcia Dias, outros dos implicados na Máfia dos Bingos.
Numa escuta telefónica interceptada pela Polícia Federal brasileira, este elemento que faria os contactos para a extensão do negócio dos bingos e casinos no estrangeiro dizia estar em Portugal e citou os nomes de António Braga e José Lello.
A TSF tenta desde segunda-feira sem sucesso reacções de José Lello e António Braga, tendo apenas conseguido uma reacção do gabinete de imprensa do PS que, na quarta-feira à noite, fez saber que não comenta insinuações delirantes a 48 horas do final da campanha.

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terça-feira, setembro 01, 2009

A rejeição dos emigrantes

Há umas duas semanas gerou-se uma enorme polémica por causa de um artigo de um obscuro jornalista que escreveu uma crónica sobre os emigrantes, acusando-os de ser um fantasma da miséria e da incultura do antigo regime.
Com o coração ao pé da boca, o rapaz disse coisas que não são politicamente corretas mas que, sobretudo, são terrivelmente injustas.
Não sei se é filho de algum emigrante, mas, mesmo que não o seja, provavelmente, é daqueles jovens que, obnubilidados por uma nova «cultura» tem vergonha dos próprios pais.
Será um ser como tantos outros da nova geração, desses que põem os pais no asilo, alegando falta de tempo para os acompanhar na velhice, não porque o tempo não lhes sobre mas porque, literalmente, têm vergonha deles.
Seja como for, o que o referido jornalista pensa dos emigrantes não é nada de novo. Bem pelo contrário, faz parte de um modelo oficial em que os mesmos são classificados como uns broncos, uns alarves, uns incultos.
Só porque eles vivem no estrangeiro, distinguem-nos de forma negativa dos da mesma igualha que, com menos coragem, cá ficaram, sem reparar no absurdo de que não são diferentes.
A ignorância e o analfabetismo com que a ditadura brindou gerações também deixou vestigios em Portugal.
Só que esses vestígos, à falta de aculturação em sociedades mais desenvolvidas, morreram mais cedo, sob a míngua ou a cirrose.
É, em boa parte, essa mentalidade que justifica uma postura colonialista relativamente aos portugueses da diáspora.
Se por cá tivessem ficado, talvez o seu atrevimento os tivesse conduzido à presidência de autarquias ou à liderança de empresas municipais, onde pautam muitos senhores e senhoras, moldados pelo mesmo sacrificio e com iguais deficiências culturais.
Mas como partiram, porque são, na generalidade, vencedores, gente que tem as suas contas em ordem, gente que acumulou fortuna, o melhor é que não voltem e não perturbem a concorrência.
É uma tristeza que, em vez de catalizar a reunião à Pátria, que envelhece, em vez de se desafiar essa gente a voltar, a investir, a renovar o país, lhe digam que o importante é que se integrem nas sociedades de acolhimento, contando com os políticos portugueses para isso, como se fosse lícita um tão grande ingerência nos assuntos de estados terceiros.
Não passam de parvoice essas promessas eleitorais.
Mas o grave não está na parvoice. Está em que tal insistência na integração nas sociedades de acolhimento não passa de uma afirmação de rejeição como a do tal jornalista que tem vergonha dos emigrantes e provavelmente dos próprios pais.