terça-feira, julho 24, 2018

A degradação brutal do Serviço Nacional de Saúde


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22 de julho de 2018


Acordei muito bem disposto, com vontade de escrever numa esplanada. Peguei no meu  Lenovo IogaBook, abri-o e conclui que não funcionaria, porque tem um teclado que deixa de se ver com a luz.
Procurei o outro, o mais antigo e constatei que não funcionava, talvez por estar parado há muito tempo.
Fui ao Colombo, almocei e, depois disso, fui à FNAC para pedir a reparação daquela máquina.
Quando saí do edifício senti-me mal.
Cheguei ao carro apoiando-me nas paredes.
Quando sai do edifício, vi o céu a ficar vermelho e esbranquiçado e senti que deveria parar.
Esse mal estar aliviou; e, por isso, resolvi passar pelo Corte Inglês para comprar um dispositivo de medição tensão arterial e uma balança.
Senti-me mal, de novo, ao descer a rampa que conduz ao parque.
Subi ao piso do material informático e, aí, tive que pedir ajuda, porque me senti a desmaiar.
Fiquei agradavelmente surpreendido com a assistência da enfermeira Andreia, uma jovem com experiência em hemodiálise, que logo que anunciou que estava a ser vítima de uma crise de hipotensão, tão grave que o aparelho não permitia medir os níveis da tensão arterial.
No gabinete médico verificou que a tensão era de 80-50.
Tenho sido assistido no Hospital de Santa Maria nas situações de emergência, marcadas, especialmente, por falta de ar e por baixas pressões.
As recomendações dos médicos que me têm assistido nesse hospital têm sido, sistemática e reiteradamente no sentido de, quando isto acontecer, me dirigir imediatamente às urgências daquele hospital, que, por diversas vezes, já me salvou a vida.
A enfermeira Andreia chamou o INEM que me transportou a Santa Maria, o hospital que melhor me conhece e que mais informação sobre mim.
Dentro da ambulância, a tensão subiu ligeiramente, para 85-55.
Cheguei às 20h35.
Quando me entregaram na urgência, referi que já tinha passado por diversas situações criticas, tendo-me sido recomendado que, quando tivesses estes sintomas me dirigisse aquele serviço.
Pela primeira vez não fui atendido imediatamente por um médico ou um enfermeiro.
Senti-me muito mal; e uma empregada gritou-me e disse-me que a tensão estava a 125-80, como se fosse possível um salto dessa dimensão tão rapidamente.
Perdi a consciência não sei por quanto tempo, tendo voltado a sentir aquela estranha sensação de sair do próprio cadáver e de vaguear no espaço, sensação que já tinha sentido quando fiz a última cirurgia.
Fui assistido por um médica por volta da meia noite; e não sei como me reanimaram.
Sei é que estive inconsciente por tempo indeterminado.
A médica que me assistiu entendeu, já depois de eu ter recuperado a consciência, mandar fazer uma TAC.
Se a minha filha não estivesse a acompanhar-me isso não seria possível. Foi ela quem conduziu a maca até a um outro piso, onde foi feito o exame.
Sobrevivi. Mas não sei como é que isso aconteceu, porque perdi a consciência e não sei o que aconteceu nesse hiato.
O que sei é que, pela primeira vez na minha vida me senti maltratado; e pela primeira vez ouvi o argumento de que “tem que esperar, porque tem mais gente à espera”, quando eu próprio  cumpria as recomendações do hospital e me sentia às portas da morte.
Pela primeira vez senti, também, a falta de serviços de médicos e enfermeiros e a sua substituição por funcionários auxiliares, alguns dos quais arrogantes e mesmo malcriados, comentando mexericos de outros serviços, em voz alta, enquanto os pacientes esperavam.
Uma vergonha, que não se via antes; um quadro de degradação brutal, por relação aos serviços do SNS no tempo dos governos anteriores.

Miguel Reis