quarta-feira, janeiro 31, 2007

Á conquista da China


O primeiro-ministro de Portugal tem que ter bom senso.Por isso não pode escrever, no site que faz sobre a sua visita à China, que Portugal partiu à conquista daquele País...Passamos hoje mais de uma hora a explicar o que está no site:
«Sócrates e 71 empresários à conquista da China
Pudesse o tamanho e a importância da comitiva ditar o sucesso de uma visita oficial do primeiro-ministro, e José Sócrates podia já começar a congratular-se com os resultados da sua visita à China...»
Diplomaticamente dissemos que isto são ainda resquícios de um país com mentalidade imperialista e com uma grande influência chinesa no plano da linguagem. Boa parte dos jornalistas portugueses - e até o actual presidente da União Europeia - foi maoista.
Portugal quase não tem exército e não vai invadir a China...

A infantilidade de um site sobre uma visita á China

O primeiro-ministro português, José Sócrates, colocou on-line um site destinado a divulgar a sua visita à China, que está a gerar uma enorme confusão.
O site está em língua portuguesa, sem tradução para nenhum dos principais idiomas da China e apresenta erros do tipo «Microsoft VBScript runtime error '800a01f4' Variable is undefined: PAGE_ACHINA_GOVERNO' /includes/header.asp, line 38» quando se pretende aceder à comitiva ou ao teor dos comunicados e notícias.
Alguns dos nossos clientes chineses ficaram muito nervosos e pediram-nos a tradução do site e esclarecimentos sobre o seu conteúdo.
O que nos vale é que o nosso escritório está no border do China-town de São Paulo e temos correspondentes na China que respondem aos pedidos de esclarecimento.

Concorrência desleal na visita de Sócrates à China...

A lista elaborada pelo Ministério da Economia e difundida em lingua inglesa aos chineses é ofensiva dos princípios da livre concorrência e constitui um instrumento de propaganda e favorecimento de algumas empresas e empresários, em desfavor de outros.
O conselho que damos ao chineses - em mensagens que produzimos na sua lingua - é que desconsiderem os elementos da lista governamental e se informem sobre os concorrentes, pois que haverá provavelmente em Portugal empresas com quem possam fazer negócios mais interessantes.
O simples facto de ter sido publicada uma lista que não é exaustiva justifica que se afirmem dúvidas sobre a seriedade da selecção. Portugal é muito melhor do que o que a lista em referência contém. E, como bem sabem os chineses, os grandes timoneiros também se enganam.

segunda-feira, janeiro 29, 2007

O peso do dinheiro

Caiu-me na caixa do correio, enviada pelo Portugal Club, esta carta interessantíssima, que reproduzo sem comentários...
Caro Eng. João Cravinho

Foste ministro, foste deputado. No teu percurso de político medíocre, nunca deslumbrei em ti nem acordes de génio, nem acordes da boa causa da Nação.
O tempo passa e para contrariar e castigar a minha falta de desvelo por ti, vejo nascer na tua íntegra pessoa o apelo às grandes causas: inconformidade e vergonha pelos males generalizados que assolam as coisas da Pátria.
Tornaste-te o arauto da luta anti - corrupção com normas, pesos e medidas que até o teu grande chefe – também engenheiro e de nome Sócrates – te criticou pelo destemperado excesso de zelo, transformando em “asneiras” muitas das tuas ideias.
Saía assim do manto negro da política nacional alguém de alvas vestes, tal Hércules empunhando vara de ferro, com coragem para matar a Hidra das sete cabeças da grave crise nacional.
Mas eis que para o lado de Londres soam ventos de bonança, ventos do tal BERD. O convite é tal que não dá para resistir à tentação da fama e do dinheiro.
Puseste os papéis na gaveta – a corrupção e a Nação que espere – fizeste as malas e trataste da vida.
O Durão Barroso cora agora de vergonha por não ser o único a vangloriar-se de tão magno acto “ que prestigia Portugal”.
Os portugueses ainda com alma e sentir fazem votos que do pantanal da política nacional surja alguém que dignifique a Nação e ponha cobro à promiscuidade do capital e política, e que, em nome da dignidade humana, impeça que
os ricos sejam cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres.
Atenciosamente
rancisco de Miranda

Paulo Tock rebate Políbio

Paulo Torck, brasileiro residente em Portugal escreveu um interessante artigo no Portugal Digital, comentando o escrito de Políbio Braga.
Vale a pena ler.
Apetece-me escrever o mesmo quando portugueses, não menos labregos do que Políbio, dizem mal de um Brasil que não conhecem.

terça-feira, janeiro 23, 2007


Joaquim Magalhães por Bernardo Reis (Nov. 2004)
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Comentário de António Braga ao meu desabafo de ontem:

«Soube agora. Obrigado por me fazer chegar esse seu texto, escrito pelos afectos e ditado pelas cumplicidades civicas e pessoais que partilhou com o Joaquim Magalhães.
É uma homenagem, sentida, que retrata uma vida cheia. Confesso que me apanhou de surpresa este desfecho ... sempre tão inesperado.
Tinhamos conversado, muito recentemente, no decorrer do congresso último do PS e senti o Joaquim Magalhães tão animado, cheio de propostas para iniciativas junto da comunidade de S.Paulo.
Conheci-o, aliás, assim: um role imenso de acções que me dirigiu, para se fazerem "já"! Sim, desde o início, a visita de José Sócrates era uma delas. Espero podermos corresponder a essa ambição do Joaquim Magalhães e concretizá-la em tempo oportuno.
Sei da vossa amizade. Conheci em Joaquim Magalhães a nobreza da entrega às causas, com a vivacidade de quem tinha posição, sempre. Aceitava a diferença sem conceder mas ajudava a construir a solução.
O Dr. Miguel Reis sabe disso melhor que eu. É apenas o meu testemunho, singelo ... mas de quem sente igualmente a perda de um amigo. »
Meu Caro António Braga:
Há pessoas insubstituíveis e o Magalhães é uma delas.
Isso tem a ver com afectos, modos de agir, estilos de intervenção... Não é possivel encontrar em S. Paulo, no horizonte das nossas vidas, pessoa que substitua o Magalhães.
Eu, que saí do PS, espero estar aqui para ver se alguém aproveita e respeita o trabalho que o Joaquim aqui vos legou ou se, ao invés, o destrói.
E não vou mais além no que escrevo em público.

É gratificante constatar que, apesar da velocidade dos acontecimentos, há diplomatas que tem a noção dos valores da cidadania e se empenham em representar condignamente o Estado desenhado na Constituição, como a marca da dignidade dos cidadãos. Francisco Seixas da Costa provou, mais uma vez, que é um diplomata notável.
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Da velocidade da morte

Nunca tinha imaginado que uma morte normal tem diversas velocidades, consoante o tempo histórico e geográfico em que ela se dá.
A morte dos papas e dos reis é uma coisa prolongada, mesmo que a maioria dos convivas tenha avião particular. Dura sempre vários dias, como temos visto nos casos que guardamos na memória.
A morte dos que são assassinados é, por regra, uma coisa muita rápida e discreta, mesmo que se trate de figura pública, como foi o caso recente de Saddam Hussein.
Não imaginava que a morte de uma pessoa normal e decente pudesse ser tão expedita como o que vi hoje relativamente ao meu querido amigo Joaquim Magalhães.
Às quatro da manhã de hoje ele tinha deixado de respirar, mas o médico ainda não tinha certificado o óbito.
Passamos a notícia aos amigos que conseguimos contactar e às 10 horas da manhã sabíamos que o corpo do Joaquim seria «liberado» por volta das 14 horas e que o funeral se realizaria às 16 horas, precisamente 12 horas depois do passamento.
O tempo marchou a uma velocidade incrível.
Às 15 horas, um padre de jeans e camisa de manga curta, com uma estola ao pescoço e um estilo afável e esperançoso procedeu aos rituais da praxe, encomendando-lhe a alma.
Às 16 horas em ponto os serviços municipais carregaram a urna e as coroas de flores e todos nos dirigimos para o crematório de Vila Alpina, onde entregamos o esquife, ao som de música brasileira, terminando com Elis Regina.
Foi a única falha do programa...
Nenhum de nós se lembrou de levar connosco um disco do Chaínho, daqueles em que a guitarra fala à alma, como bem precisava o Magalhães neste fim de tarde.
Ainda não passaram 24 horas sobre o momento em que me me apertou a mão e se despediu de mim e já tenho a sensação de que, apesar de toda esta velocidade, a grande cidade e a nossa comunidade nesta metrópole mudaram.
É que o peso deste homem franzino, de olhar vivo, no mundo português de S. Paulo nada tinha a ver com os 40 quilos que hoje entregamos ao crematório.
O Magalhães nunca concordava, em absoluto, com nada.
Criticava, discutia, forçava soluções, negociava, avançava para ganhar e cedia quando era preciso ceder.
Era, intimamente, um perfeccionista, no que se refere à construção de soluções políticas.
A virtude em que levava o perfeccionismo mais longe era a da fidelidade.
Fiel aos amigos, fiel àqueles com quem colaborou, fiel às ideias políticas e ao partido que abraçou, era, todavia, estimado pelos adversários, que criticava mas respeitava.
Apesar da velocidade com que tudo isto se processou - menos doze horas, que começaram às 4 da manhã - o Joaquim viu-se homenageado, na última viagem, por uma coroa de flores enviada pelo embaixador de Portugal em Brasília, o que, por si só, é nota expressiva do reconhecimento da sua intervenção cívica mas também da competência da actual representação diplomática de Portugal no Brasil.
O Joaquim Magalhães era, de facto, uma personalidade impar. Se o não fosse não veriamos a pegar-lhe em peso, pessoas como o Dr. Júlio Rodrigues, presidente do banco Banif, o Dr. Paulo Esteves e o Dr. Paulo Porto, sem agravo para dos demais que o cansaço e a emoção não me deixam recordar.
Gostei especialmente de ver ali o Capitão José Verdasca. Apesar das relações difíceis que ambos tiveram, foi das primeiras pessoas, a oferecer a sua solidariedade económica ao Magalhães, após o seu internamento. Dei-lhe o recado de agradecimento que o Joaquim não teve tempo de dar.
Tudo foi demasiado rápido, como se a morte nas grandes cidades fosse uma questão política.
Acabo este post vinte horas depois de a médica me ter dito que o meu amigo estava morto mas que ela ainda não tinha comprovado a morte.

segunda-feira, janeiro 22, 2007


Joaquim Magalhães em Novembro de 2006, no Shopping Vasco da Gama em Lisboa
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Morreu Joaquim Magalhães

O telefone acordou-me às 4 da manhã, no meu apartamento de S. Paulo.
Era a Susana a informar que o Joaquim Magalhães acabara de sucumbir, depois de mês e meio de intensa luta pela vida.
Visitei-o ontem à tarde, quando se debatia corajosamente pela vida, procurando aproveitar cada segundo do oxigénio que lhe alimentava o pulmão desfeito.
Todos, a começar por ele próprio, tinhamos a noção de que era muito dificil.
À noite, com voz quase imperceptivel, pediu para chamar os amigos, como se quisesse despedir deles.
Chamou-me a mim, ao Luís Cláudio, ao Toninho Reis, à Renata. Pediu para ligar ao Almeida e Silva e sorriu como se as palavras que este lhe transmitiu pelo telefone, a partir de Buenos Aires, lhe inundassem a alma.
Eram 23 horas e o Joaquim tinha nos olhos o brilho da lucidez e nos lábios, dos quais já não saiam palavras, o sorriso de quem encara a vida e a morte com a mesma naturalidade.
Quase impercetivel, ainda chacoteou dizendo «deixa a vida me levar...».
Se ele pudesse, gostaria que estivessem ali todos os seus amigos, para uma grande despedida. O Carlos do Carmo, o Vitorino, o Janita Salomé, o Rao Kyao, o Sérgio Godinho, a Fáfá, a Joana, o Jô, todos os demais das artes e dos espectáculos, mas também o Mário Soares, o Sócrates, o António Braga, o Manuel de Melo, o Amílcar Casado, o Gabriel Cipriano e tantos outros de que me falou nas últimas semanas, a propósito e a despropósito, como se tivesse uma enorme agenda com coisas a fazer, agenda essa que uma tempestade de vento levou.
Há uma semana, antes da minha partida para o Ceará, que ambos prometemos encarar como uma viagem normal, que não podia ser interrompida por qualquer incidente, deixou-me dois recados e dois pedidos, como se tivesse um premonição. Um no sentido de lembrar ao António Braga que é importante agendar a visita de José Sócrates às comunidades portuguesas de S. Paulo e Rio de Janeiro. Outro no sentido de dar um recado ao José Verdasca, a quem devia uma palavra de atenção.
Como prometido, o meu amigo aguentou esta semana como um herói e esperou que eu regressasse a esta grande urbe, para nos despedirmos um do outro.
Lá se foi esta madrugada, deixando atrás de si um imenso vazio.
Joaquim Magalhães foi, apenas, o mais activo promotor cultural que Portugal teve no Brasil nas últimas décadas. Que o digam os artistas portugueses.
Dedicado, desde que o conheço, às causas cívicas esteve em todas as acções políticas importantes para a comunidade portuguesa no Brasil, em especial para a comunidade portuguesa de S. Paulo.
Militante fervoroso do Partido Socialista ainda participou no último congresso. E morreu com o PS (que eu abandonei há algum tempo) no coração.
Custa muito perder uma amigo assim...