Tem
sido inúmeros, nos últimos tempos, os apelos à emigração e à
internacionalização das empresas portuguesas, especialmente por via da
instalação de filiais ou de sociedades por elas controladas, no estrangeiro.
Ainda
num dia destes, numa entrevista a um jornal, o secretário de Estado das
Comunidades, José Cesário, incentivava os empresários portugueses a procurar
parceiros na diáspora, no mesmo sentido da mensagem do primeiro ministro.
Depois
de ter aconselhado os jovens a emigrar, o governo português diz o mesmo às
empresas, como se pretendesse que o país ficasse devoluto.
A diáspora portuguesa tem um enorme
potencial, mas não me parece que haja condições para que empresários falidos ou
em dificuldades encontrem parceiros no estrangeiro, aproveitando a afinidade de
ser português.
A maior parte dos pequenos e médios empresários portugueses que
procura soluções no estrangeiro integra a fileira da construção civil, que é
aquela que sofreu o mais rude golpe com a crise.
A sua maior dificuldade reside no
facto de não disporem de capital e de, quase sistematicamente, terem as fichas
de crédito sujas pelos bancos que agora lhes recusam apoio financeiro e por
bases de dados, onde não é possivel discernir se as pretensões dos credores são
razoáveis ou não.
É hoje possivel, em qualquer país do
mundo, ter um recorte imediato das informações relativas a um empresário ou a
uma empresa, ocorrendo, com frequência, que a informação negativa se mantém,
mesmo depois de regularizadas as dividas.
Os empresários portugueses que têm
sucesso no estrangeiro manifestam, por regra, uma grande abertura à ideia de
ajudar outros portugueses, que com eles se queiram associar, em projetos que se
afigurem viáveis. Mas, também por regra,
não estão dispostos a aventurar relações com quem não tenha capital e,
sobretudo, com quem tenha o nome sujo.
Empresas de qualquer dimensão, que
tenham negócios próprios, sustentáveis e viáveis, à luz das regras dos mercados
para onde tenham a intenção de migrar, só terão sucesso se prepararem muito
cuidadosamente os seus projetos e se dispuserem de recursos suficientes para o
seu desenvolvimento.
A imagem de Portugal no exterior –
especialmente nos paises de lingua portuguesa – é muito negativa, como se o
país estivesse já a morrer de fome e se dele saissem hordas de emigrantes, que
já justificam cuidados especiais nas fronteiras.
No Brasil, por exemplo, já há,
nalguns aeroportos, restrições à entrada de portugueses, desde que eles não
informem do hotel em que se vão alojar e dos recursos de que dispõem para
passar algum tempo no país.
Embora fosse justo que os
brasileiros agissem assim, porque ainda hoje é são assim tratados os
brasileiros que chegam aos aeroportos portugueses, é minha convicção que as
autoridades só atuam deste modo para evitar que os miseráveis portugueses se
juntem aos que existem no próprio país e que inundam de sem abrigo as ruas das
grandes cidades.
É absolutamente compreensível e
justificável que as autoridades do Brasil sejam cautelosas, até porque não é
verdadeira a imagem que se tem do Brasil em Portugal.
Não há lugar para todos nem há
oportunidades para todos. Sobretudo, não há qualquer oportunidade para quem
queira investir sem ter dinheiro suficiente para alavancar o seu projeto.
Para além disso, o investimento no
Brasil é dificultado por processos
burocráticos complexos, que não admitem pressas nem atropelos e que têm
custos enormes para quem não tem condições próprias de instalação.
Os quadros não são diferentes em
Angola ou Moçambique.
Tudo isto é do conhecimento das
autoridades portuguesas que, todavia, insistem na conveniência de processos de
internacionalização por via do investimento português no estrangeiro.
Ora, na atual conjuntura há
excelentes condições para a internacionalização das nossas empresas por via de
fusões e aquisições das empresas portuguesas com/por empresas estrangeiras. E o
governo português age como quem quer ocultar esta realidade, talvez com a intenção
de destruir completamente a economia portuguesa, deixando o lugar livre para as
empresas estrangeiras representadas pelos seus apaniguados.
Em Portugal, há milhares de empresas,
em todas as áreas, que são viáveis, desde que saneadas financeiramente. Muitas
delas têm equipamentos novos ou quase novos, que serão reduzidos a sucata, se
os respetivos parques forem desmantelados. Com isso agravar-se-ão os prejuizos
do setor financeiro, que já começaram a ser suportados pelos contribuintes, por
valores astronómicos (cerca de 9.000 milhões só no que se refere ao BPN).
Para além de o desmantelamento de
uma empresa ter custos enormes, há muitos paises que não aceitam a importação
de bens de equipamentos usados, pelo que o mais interessante é revitalizar as
empresas no local em que se encontram instaladas.
Parece-me evidente que, ao invés de
incentivar os empresários portugueses, quase todos à beira da falência, a
emigrar levando uma mão à frente e outra
atrás, deveriam o governo e as agência governamentais promover a participação
de empresas estrangeiras na recuperação de empresas portuguesas que se
encontram descapitalizadas.
É certo que os salários em Portugal
são ainda ligeiramente superiores aos de países como a China ou o Brasil, mas,
após a últimas alterações ao Código do Trabalho, os niveis do garantismo
laboral passaram a situar-se abaixo dos do tempo da ditadura, aproximando-se, a
passos largos da desproteção que vigora no Oriente.
As empresas portuguesas são
especialmente interessantes para as brasileiras.
Queiramos ou não, a lingua assume
neste quadro um papel de grande relevo,
pois que é o mais importante instrumento de trabalho nas fábricas.
De outro lado, Portugal é – se não
acabarem com ele – um país moderno, com uma qualidade de ensino público muito
acima da do sistema brasileiro e com um sistema de saúde que, sendo tão bom
como os serviços privados brasileiros, é gratuito.
O Brasil é um mercado com quase 200
milhões de habitantes, mas Portugal é a porta de entrada de um mercado com
perto de 500 milhões, o da União Europeia.
Um apartamento em Lisboa custa uma
renda de menos de metade de um apartamento em São Paulo e os valores dos
condomínios são baixissimos, comparados com os dos Brasil.
As
escolas portuguesas de engenharia e de arquitetura correm o risco de
fechar porque a construção civil parou, não se sabe por quanto tempo.
Como já escrevemos aqui, um
brasileiro que mande um filho estudar em Portugal ganha um apartamento de
brinde se o comprar com a diferença do valor das prestações devidas à escola.
Todas estas razões justificavam que
o governo invertesse a lógica da internacionalização e chamasse a atenção para
estes atrativos em vez de, irresponsavelmente, mandar emigrar os empresários a
quem o esgotamento do crédito bancário e a recessão conduziram à falência.
Fortaleza,
5 de agosto de 2012