O terrorismo é um coisa horrível, criada, por regra, pelas próprias sociedades em que os terroristas cresceram. Foi assim nas antigas colónias portuguesas, durante 20 anos. Aí, a motivação do terrorismo era a independência.
O terrorismo mais recente é uma afirmação dos terroristas por relação às sociedades em que os mesmos se integram.
Foi assim no 11 de setembro, em Nova Iorque, foi assim em Paris e foi assim, agora, em Bruxelas.
Os de Nova Iorque eram, na sua maioria, sauditas residentes nos Estados Unidos.
Mas os de Paris e de Bruxelas são, para além de residentes, nacionais franceses e belgas, cidadãos da União Europeia.
O que aconteceu nestas duas cidades põe em crise não só as lógicas da nacionalidade, jure soli, como já tinha acontecido no tempo da Ditadura portuguesa (pois não foi a atribuição da nacionalidade aos nascidos nas colónias que evitou ou terrorismo) como a própria construção europeia, cada vez mais marcada pela diluição das culturas nacionais num conglomerado que não faz nenhum sentido para além da integração económica.
O terrorismo europeu é, essencialmente, um fenómeno de rejeição de uma Europa sem conteúdo, em que alguns cidadãos, porque não são descendentes de nenhum Estado membro, são tratados como párias.
Mas o fenómeno pode alargar-se a outros grupos sociais.
O fim (ou, no mínimo, a decadência da Europa social, a destruição do emprego e das garantias de emprego pode levar a que fenómenos de suicidio coletivo se multipliquem.
Ainda há dias ouvi um jovem dizer numa mesa de 4:
"Se eu ficar desempregado, não vou roubar, como fazem os brasileiros. Suicido-me com um molho de bombas na cintura e numa hora de ponta. Ao menos suicido-me acompanhado..."
Dramático que continuemos a esconder a cabeça na areia ou a prestar homenagens inúteis (porque não são merecidas nem conduzem a nada) às vitimas do terrorismo.