Um
atentado no Sri Lanka – antigo Ceilão e a ainda mais antiga Taprobana – justificou o ridículo da abertura de um telejornal
com a notícia de que morreu um português e com entrevistas não só do secretário
de Estado das Comunidades como de algumas pessoas que conheciam a vítima.
O secretário de
Estado das Comunidade aproveitou para fazer uma operação de propaganda
miserável, dizendo que o Estado ofereceu apoio ao regresso da viúva e do cadáver,
como se isso não fosse discriminatório para os demais portugueses que morrem no
estrangeiro.
É óbvio que a noticia não é a morte de um português – é a
morte de mais de 200 pessoas e existência
de mais de 500 feridos.
É óbvio que a
oferta do funeral do noivo a um casal que foi de viagem de núpcias para o Sri
Lanka não passa de uma proposta indecente, destinada, exclusivamente a aproveitar
a onda da desgraça, difundida pelas televisões.
Só falta o
Marcelo anunciar que vai ao Sri Lanka para acompanhar o cadáver.
Logo a seguir às entrevistas, um pseudojornalista, pôs-se botar opiniões sobre o que foi o atentado, de
um ponto de vista técnico, operacional e
político.
A opinião é marcada por expressões do tipo “temos
claramente”, “é inequívoco”, vai “haver uma vingança”, tudo coisas que ninguém
pode afirmar por não serem passiveis de conhecimento.
A falta de investigação e a a distância não permitem
tirar quaisquer conclusões; nem sequer é admissível falar de tendências relativamente
ao que aconteceu ou ao que irá acontecer.
Estamos perante exercícios que nada têm a ver com jornalismo,
mas, exclusivamente, com manipulação de mensagens.
Após o intervalo, o telejornal continuou com a
informação de que o motorista do acidente da Madeira vai ter alta e com uma
longa entrevista ao meu homónimo Miguel Reis, jovem médico que dirigiu as
operações de socorro.
Anunciou a TV que os procedimentos foram
homenageados além fronteiras.
Depois disto, o telejornal continuou com a informação
de que um individuo não identificado tentou agredir quatro pessoas em
Guimarães, tendo assassinado uma mulher com 5 filhos, segundo dizem.
Foram esfaqueados o filho e a nora; e o alegado
homicida entregou-se à polícia.
Não sou capaz de ouvir mais…
Desligo.
Era o telejornal de 21 de abril.