Olá, Mathis
Soube há pouco, por um jornal, que não te deixaram entrar na escola, aqui em França, porque levavas vestida a camisola da seleção portuguesa. Os teus pais, ao que parece, ficaram aborrecidos com isso.
Queria dizer-te que não deves ficar preocupado com o que aconteceu. Pelos vistos, o objetivo da direção da tua escola foi evitar a possibilidade de outros meninos, de várias nacionalidades - a começar pelos franceses -, poderem meter-se contigo e criar alguma confusão. Se calhar, na tua escola, há meninos da Coreia do Norte...
É muito bom que tenhas sentido orgulho em usar a nossa camisola. A França é o país onde vives mas, como se viu, Portugal é o país que trazes no teu coração. É aqui que, provavelmente, irás fazer a tua vida, no futuro, mas isso não te torna menos português. A França é uma terra onde há muita gente que veio de outros países, como de Portugal, à procura de oportunidades para trabalhar. A França deu-lhes essa possibilidade e os portugueses retribuíram com o seu esforço, com a sua seriedade e a sua honestidade, para a riqueza da sociedade francesa. E aqui estão, também em sua casa. Ninguém deve nada a ninguém. E tu és a melhor prova do sucesso da integração dos portugueses em França, com a tua mãe francesa e o teu pai luso-descendente.
Os portugueses que aqui vivem devem ser sempre leais para com a França que os acolhe, da mesma maneira que a França tem de aceitar que tu, tal como os outros meninos que se sintam ligados a Portugal, possam mostrar isso, nas ruas ou nas camisolas. Pode discutir-se se a escola é o lugar mais indicado para andar com as camisolas da nossa seleção, mas, aos teus amigos de cá, deves lembrar que foi a Revolução Francesa, aquela que está na bela "La Marseillaise", que ensinou o mundo a lutar pela liberdade, a defender a igualdade entre todos e a demonstrar a nossa fraternidade perante os outros.
Para ti, caro Mathis, quero deixar-te um abraço bem lusitano e um convite para, um destes dias, vires, com os teus pais, visitar a Embaixada. E também espero que, qualquer que seja o resultado que a seleção portuguesa venha a ter no Mundial, tragas vestida a camisola das quinas. É que nós, os portugueses, temos por tradição ser muito orgulhosos do nosso país, tanto nos bons como nos maus momentos.
Francisco Seixas da Costa
sexta-feira, junho 25, 2010
sexta-feira, junho 18, 2010
A crise e a falsidade
O mais interessante da crise que vivemos - e cuja sintomatologia é visível desde o verão de 2007 - é a transformação da comunicação social.
Os jornais, as estações de rádio e as televisões continua a merecer crédito no que se refere ao noticiário dos crimes e dos acidentes rodoviários. Mas a história recente (dos últimos três anos) vem demonstrando que não merecem nenhum crédito no plano da informação económica e financeira, em que são usados e abusados por uma manipulação gigantesca gerada a montante.
Dependentes da informação dos auditores e das empresas de informação especializada, nomeadamente das de rating, os meios de comunicação social acabam por ser meras peças de uma engrenagem marcada pelos conflitos de interesses e por uma nova ética, assente, essencialmente, numa lógica lúdica.
Talvez por isso mesmo - e porque têm medo - nenhum meio de comunicação social deu notícia tempestiva dos riscos de falência dos bancos que faliram; como, agora, nenhum ousa avisar que há um efetivo risco de os depositantes perderem os valores que tenham depositados nos bancos, pela simples razão de que os bancos não têm dinheiro para solver as suas obrigações.
E não é só em Portugal. Na Alemanha só um dos bancos principais tem um passivo superior a 95% do PIB alemão.
Os jornais, as estações de rádio e as televisões continua a merecer crédito no que se refere ao noticiário dos crimes e dos acidentes rodoviários. Mas a história recente (dos últimos três anos) vem demonstrando que não merecem nenhum crédito no plano da informação económica e financeira, em que são usados e abusados por uma manipulação gigantesca gerada a montante.
Dependentes da informação dos auditores e das empresas de informação especializada, nomeadamente das de rating, os meios de comunicação social acabam por ser meras peças de uma engrenagem marcada pelos conflitos de interesses e por uma nova ética, assente, essencialmente, numa lógica lúdica.
Talvez por isso mesmo - e porque têm medo - nenhum meio de comunicação social deu notícia tempestiva dos riscos de falência dos bancos que faliram; como, agora, nenhum ousa avisar que há um efetivo risco de os depositantes perderem os valores que tenham depositados nos bancos, pela simples razão de que os bancos não têm dinheiro para solver as suas obrigações.
E não é só em Portugal. Na Alemanha só um dos bancos principais tem um passivo superior a 95% do PIB alemão.
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