Tal como era previsível, está montado, no pior sentido, o negócio dos
refugiados.
A União Europeia vai pagar 6.000,00 € por cada um e os vampiros já se estão
a posicionar.
Vimos isso, no último meio século, pelo menos duas vezes: em 1975, com a
triste “experiência” do IARN e dos retornados; e nos anos 90 com os emigrantes
do Leste.
Ambas as experiências foram marcadas, de forma profunda, pela corrupção.
A última – a dos russos, dos ucranianos e dos moldavos – foi especialmente
marcada pelo tráfico de pessoas que, entretanto, se institucionalizou.
O negócio estava nos autocarros e nas carrinhas que, pela calada da noite,
descarregavam emigrantes transportados como sardinhas em latas de conserva, com
a conivência das polícias dos diversos Estados.
A União Europeia criou um modelo de política de emigração que favorece
especialmente as mafias multinacionais que organizam o tráfico de seres
humanos.
Há anos que cidadãos de países acossados por guerras procuram emigrar para
os mais diversos países europeus, inclusive para Portugal.
São afegãos, paquistaneses, iemnitas, turcos, sírios, líbios, egípcios,
somalis, senegaleses e de outras origens.
Muitos deles têm elevados níveis de educação e dispõem de fortuna, podendo
viajar de avião, em vez de se aventurarem numa qualquer barcaça, sem as mínimas
condições de segurança.
Porém, a generalidade dos Estados não aceita conceder-lhes um simples visto
de turista e muito menos um pedido de asilo, mesmo que provem que têm dinheiro
para investir e para sobreviver.
Isso acontece, em minha modesta opinião, porque o transporte de elevado
risco que é oferecido pelos traficantes é um negócio impar.
Uma viagem entre a costa da Turquia e a ilha grega de Lesbos pode custar
entre 3.000 e 10.000 €. Uma viagem da costa da Líbia até ao sul de Itália custa
entre 5.000 e 15.000 €.
Sobre o montante pago, guardam os refugiados o mais profundo silêncio,
porque, ao que nos dizem, são ameaçados de violarem tal segredo.
Para além do valor da viagem, estes passageiros, por regra, perdem tudo ou
quase tudo, seja porque os que lhe vendem a mesma lhe tomam os bens, seja
porque são forçados a alienar o património para obter a passagem.
Só há uma razão que permite explicar, de um lado, as dificuldades
levantadas a pedidos de asilo “civilizados” e, do outro, a criação de condições
para o desenvolvimento de migrações em condições desumanas e sem as mínimas
condições de segurança: o favorecimento do fantástico negócio destas viagens
loucas.
Só na Turquia estão atualmente mais de 1 milhão de sirios, que têm um potencial
de negócio, para essas “agências de viagem” entre 3.000.000.000,00 € e 10.000.000.000,00 €.
É claro e inequívoco que os países da União Europeia têm condições para pôr
termo ao tráfico de pessoas e a este negócio vergonhoso.
Conseguiriam até obter autorização das autoridades dos países de onde
partem os navios dos traficantes. Mas não têm a coragem de enfrentar os
poderosos interesses do tráfico, onde, seguramente, há europeus, em conluio com
os dos países de origem.
A oferta de um subsidio de 6.000,00 € da União Europeia a cada refugiado
permite outra vertente do negócio: a da exploração dos refugiados pela indústria
da caridade, acabando de vez com politicas de asilo respeitadoras da
individualidade cada sujeito.
Se pensarmos em 1 milhão de refugiados, alcançamos o valor de
6.000.000.000,00 €.
Esta tendência já era verificável, por via de vários sintomas, há alguns
anos, não sendo por acaso que os dirigentes máximos dos serviços que cuidam da
documentação de registo civil e das movimentações de estrangeiros foram presos
e sujeitos a investigação criminal.
Os vistos Gold, que foram uma novidade no nosso direito da imigração,
acabaram, praticamente, com todos os escritórios dedicados ao apoio à
emigração, pois que foram, acompanhados por uma politica restritiva da imigração dos pobres.
O que era um mercado embrionário, mas emergente, foi substituído por uma
selva em que procurados ilegais concorrem, sem pagar impostos, com advogados e
solicitadores, beneficiando do apoios de funcionários corruptos, que podem
gratificar porque não passam faturas a ninguém.
A preços correntes na generalidade dos países ocidentais, a organização de
um processo de legalização de um refugiado, custa, em média, 1.000,00 €, valor
muito inferior a qualquer daquelas perigosas viagens.
A legalização de 1.000 refugiados, custaria, assim cerca de 1.000.000,00 €,
oferecendo garantias de rigor que os curiosos não podem oferecer e permitindo
um planeamento que o negócio dos traficantes, tal como está formatado, não
permite.
A emigração deve ser planeada, antes de tudo, pelos próprios emigrantes.
É preciso ter a noção de que ninguém se arrisca a fazer viagens tão
arriscadas como aquelas a que assistimos todos os dias se tiver a possibilidade
de realizar um projeto de emigração –
como o faz a generalidade dos nossos emigrantes – de forma fácil e segura.
É óbvio que um projeto de emigração limpa derruba todos os negócios do tráfico
e o oportunismo social.
E, por isso – só por isso – as autoridades insistem em branquear a
realidade.
Miguel Reis