No meu tempo de jornalista no ativos
a classe dividia-se entre os repórteres e os pensadores.
Repórteres eram os jornalistas que
noticiavam factos de interesse social relevante.
Quando os temos eram delicados, o
trabalho dos repórteres era burilado – para usar uma expressão de Artur Alpedrinha
– pelos redatores, os jornalistas que, nos termos do contrato coletivo de
trabalho escreviam “com forma definitiva”.
Tanto no tempo do fascismo como
depois do 25 de abril existiram pensadores; jornalistas pensadores, que assim
se chamavam porque repetiam à exaustão a expressão “penso que”.
Não tenho a certeza mas tenho a
ideia de que quem matou os pensadores foi Jorge Nuno Pinto da Costa, numa bela
noite em que declarou eu
penso de que, para gáudio de autores e atores.
Foi um golpe de morte em todos os
pensadores, como se todos tivessem deixar de pensar.
A partir daí todos começaram a dizer
eu acho que, havendo também alguns que, segundo o mesmo tropismo, acham de que.
Os pensadores foram, literalmente, substituídos
pelos achadiços.
Achadiços sim, como o Bobby,
celebrado assim pelo Rouxinol de Pomares:
“Sábado, 29 de Dezembro,
indiferente aos sacrifícios deste ano que agora chega ao fim, está este cão,
que adotou Pomares como sua terra. Já anda por aqui há meses. Parece
gostar de andar à solta, livre, sem trelas nem coleiras. O cão
é simpático, manso, aproxima-se das pessoas de rabo a abanar à espera de uma
festa e de alguma coisa que lhe aconchegue o estômago. Vagueia pelas ruas, é um
cão sem abrigo e sem dono, é um cão achadiço, mas pelo aspeto não está mal
tratado, sinal de que em Pomares há solidariedade até com os animais mais
desfavorecidos. Porque o cão é o melhor amigo do "homem", para
mim passou a ser o Bobby Achadiço!”