terça-feira, outubro 14, 2008

Porque não havemos de retirar o dinheiro dos bancos?

Parece-me que toda a gente já se fez esta pergunta, desde que a crise se acentuou, nas últimas semanas. Ninguém fala disso em público, ninguém responde nem ao ouvido do vizinho, ninguém ultrapassa a afirmação ambígua do politicamente correcto.
Tirar o dinheiro dos bancos é... anti-social. Prejudica todos e pode levar os bancos à falência. Sustentar o levantamento dos fundos é uma heresia que não pode pronunciar-se e que ninguém pronuncia, por medo.
Lembra-me isto o que aconteceu a seguir ao 11 de Março e à nacionalização da banca em Portugal, por outras razões. Chamava-se «sabotagem económica» ao levantamento dos fundos do sistema bancários; e chamavam-se de sabotadores económicos os que tentavam levantar os seus recursos do sistema bancário.
A onda era outra, mas parece que está tudo na mesma. Ao menos no plano dos medos.
Qualquer pessoa minimamente sensata tem a noção de que deixou de ser seguro ter o dinheiro nos bancos. E não é a primeira vez que isso acontece; aconteceu há menos de 100 anos, ainda na vigência da primeira República e durante todo o Estado Novo.
Ninguém acreditava no sistema bancário. E nos anos 60, se queriam que os portugueses depositassem os seus fundos nos bancos, tinham os banqueiros que os tratar muito bem, que mandar os seus empregados a casa dos aforradores, que pagar juros pela utilização dos fundos depositados à ordem.
O que ganhamos nós confiando aos bancos as nossas reservas?
Nada, rigorosamente nada, no que se refere aos fundos colocados à sua ordem.
Ter uma conta bancária é uma fonte de despesas, das mais diversas, em que nós nem reparamos.
São contos de reis ao fim do ano, sobretudo se forem contas pequenas, com reduzido movimento. E para que precisamos nós dessas contas? Nas mais das vezes para nada, sendo certo que as temos, na generalidade dos casos, apenas por medo de sermos assaltados.
Mas assim, com depósitos bancários, corremos o risco de outros assaltos, desde os do fisco, que é conhecedor de todas as contas, até ao de credores pouco escrúpulos, que as penhoram sem pre-aviso, como é de lei.
Se fizermos contas, fica muito mais barato ter um cofre, desses fortes, que se vendiam em segunda mão nos leilões, ou mesmo dos outros que ainda se vendem novos e que prometem ser objecto de uma indústria cada vez mais próspera.
Retirar o dinheiro dos bancos é um direito. E é a única forma que temos de nos defendermos e de exigirmos que nos respeitem e nos retribuam o esforço das nossas poupanças.
Porque é que havemos de pagar X cêntimos por cada dia em que tivemos um pequeno saldo negativo e o banco não há-de pagar-nos na mesma proporção pelos dias em que temos a conta positiva?