Quando cheguei a São Paulo perguntou-me uma amiga se esta coisa do lançamento do Magalhães era mesmo uma homenagem ao Joaquim Magalhães, que foi durante mais de uma década, assessor cultural da Casa de Portugal de São Paulo.
Ele gostava mais do PS do que da família, sacrificava-se pelo seu partido e a homenagem parecia mais do qur justa à minha interlocutora.
Tive que a desmentir, com os maiores cuidados, desfazendo a patranha que lhe impingiram. Depois fiquei a pensar que melhor seria que o Magalhães do Sócratas homenageasse este e tantos outros Magalhães que deram a volta ao Mundo da nossa diáspora, do que o outro, mercenário que se vendeu a Castela para uma circumnavegação em que utilizou dados espiados do conhecimento português.
Fernão de Magalhães foi, literalmente um espião e um traidor, estando ainda por explicar quem o matou nas Filipinas, sendo que há quem sustente que foi alguém da inteligência portuguesa.
O valor acrescentado por Fernão de Magalhães à História de Portugal é o da traição, razão porque não deixo que os meus filhos tenham um computador que o homenageie, sobretudo porque ele era transmontano e os transmontanos são, por regra, gente séria.
Esta conversa de São Paulo permite-me sugerir que o governo emende a mão...
De cada vez que venho a São Paulo relembro com saudade o meu amigo Joaquim Magalhães, falecido em Janeiro de 2007, vai para dois anos.
Só agora, à distância, é possível que nos apercebamos da verdadeira dimensão do homem vivo, de figura miuda que ele era.
Sem margem para dúvidas, foi, durante mais de dez anos o maior promotor da cultura portuguesa que alguma houve em São Paulo.
Graças a ele, tive a oportunidade de conhecer o melhor da música portuguesa da última década. Dos Madredeus ao Carlos do Carmo, passando pelo Vitorinho e pelo Rao Kyao - desculpem-me de não falar de todos os outros - tudo passou pelo excelente salão de festas da Casa de Portugal de São Paulo.
Mas não foi só na música. Foi na pintura, na literatura, na poesia.
Para além da contratação directa, que sempre teve o apoio do comendador António dos Ramos, o Magalhães estava sempre atento à presença de uma figura da cultura portuguesa ou à preservação de um valor português.
Morreu, inesperadamente, e acabou tudo...
A Casa, que fica à frente do meu apartamento, de portuguesa só tem o brasão.
Nunca mais houve um espectáculo - e passaram quase dois anos. Usam-na para congressos de cabeleireiras, promoção de perfumes, reuniões políticas, espaço de milagres de igrejas novas e bem sucedidas.
Uma tristeza...
Ele foi-se, a família ficou - literalmente - na miséria e a cultura portuguesa acabou em São Paulo.
PS - Também não me choca que a escolha do nome de Magalhães possa ser uma homenagem ao José Magalhães, um homem dos homens que mas fez pela difusão das novas tecnologias da informação em Portugal.
O outro - o traidor - é que não...