Portugal vive atualmente uma crise como nenhuma outra ocorrida durante a sua história de 863 anos.
Isso acontece porque, nunca na vida do país se viram os reis ou os governos impedidos de lançar moeda em circulação.
Tivemos moedas com mais de 200 nomes, desde os denários e os áureos de D. Afonso Henriques, que conviveram com moedas romanas e com os dinares e os dirhans árabes, então em circulação, até ao escudo, que foi a moeda com maior duração.
Furaram-se os tostões para os multiplicar com o metal extraído dos furos e até se fez aquele pequeníssima moeda de três vinténs, que se perdia tão facilmente como a virgindade.
As primeiras notas foram lançadas por um banco privado, o Banco de Lisboa, essencialmente para pagar ao 1º Conde da Póvoa de Santo Adrião, Henrique Teixeira de Sampaio, afilhado do Marquês de Pombal, os milhões que ele ganhou fornecendo alimentos ao exército anglo-luso e que o Estado lhe devia.
Morto o Conde, que tinha o monopólio das emissões e quase todos os bancos do Norte obtiveram licenças para emitir moeda.
A economia não parou, por causa disso.
É indiscutível que o euro nos trouxe algumas vantagens nas transações internacionais, essencialmente por via da eliminação de diferenciais de câmbio na compra e venda. Mas não há nenhuma dúvida de que nos trouxe uma série de constrangimentos e prejuízos.
Todos ficamos surpreendidos com os valores ultimamente revelados para a dívida pública, que pode chegar, segundo os mais pessimistas, a três PIB’s, ou seja à produção do país durante três anos. Nada que seja muito dramático, desde que o governo possa adotar políticas monetárias próprias.
Não me parece que seja absolutamente incompatível continuar no clube do euro, mantendo o euro para as transações internacionais e relançar o escudo, fazendo as emissões necessárias para pagar aos bancos e para financiar o funcionamento da economia interna.
Manter contas paralelas, em euros e em escudos? – porque não? Os sistemas informáticos dos bancos são suficientemente evoluídos para o permitir. E se houver um efeito de contágio a outros países qual é o prejuízo que temos com isso, transformado o euro em moeda dos alemães?
É como se tivéssemos escudos, como dantes, e uma conta paralela de marcos alemães.
Talvez não tivéssemos os euros suficientes para importar o que importamos e de que talvez nem necessitemos em absoluto. Encontraríamos nisso um incentivo à produção interna, para a qual temos o que é de mais essencial, que é mão de obra disponível.
É certo que Portugal tem que fazer profundas reformas que, a não ser que adote as terapias de choque da escola de Chicago, implicam políticas sociais caras, que não devem ser suportadas com empréstimos externos, por maior que seja o risco da inflação.
É preciso encerrar empresas públicas, fechar serviços desnecessários, despedir funcionários. Mas destruiremos o turismo se aqueles que ficarem desocupados não receberem os seus salários e indemnizações e não houver meios para eles voltarem a produzir noutras áreas.
Parece-me que só há uma maneira de fazer isso, que é a de recorrermos à criação de moeda, em vez de recorrermos aos empréstimos.
Para isso basta, apenas, ter uma réstia de soberania e considerar que não somos menos que os Estados Unidos, que trabalham para o Mundo produzindo notas de dólar vinte e quatro horas por dia.
Houve, claramente, uma alteração de circunstâncias que impõe uma mudança de atitude.
Mal por mal, se tiver que estoirar, que estoire o euro e se mantenha o projeto europeu.
De outro modo, estoirará tudo.
25 de Abril de 2011