segunda-feira, julho 04, 2011

Escreve o mu distinto Colega, Dr. Abel Dias Ferreira:

«Acabei de chegar de um evento cultural na Coriscada, lá nos fundos do concelho da Meda.
Emocionei-me ao ver e ouvir os ranchos folclóricos, expressão ainda viva da variegada cultura portuguesa.
O que vi e ouvi é, há muito que o sinto, o derradeiro suspiro de um interior quase completamente deserto; de um Portugal que termina.
Longe vão os tempos dos dizeres de Pedro Homem de Mello que retratavam um país pobre, mas rico na sua identidade cultural de tão arreigadas tradições, fervilhando de gente boa e inteligente entregue, a maioria das vezes, a maus governantes.
Um país que esquece o interior, onde nasceram os grandes navegadores, fenece antes de chegar ao mar.
A União Europeia, tal como a conhecemos, vai acabar. Um monstro burocrático, obeso, que se abaterá sob o seu próprio peso. Escrevi o que vai dito há muito e nem sou vidente.
A Europa caminha a passos largos para a deflagração bélica. É quase uma sina milenar. Sempre nos entretivemos com guerras fundadas em múltiplos rastilhos que detonam os barris de pólvora predispostos sem ninguém se aperceber.
Portugal tem uma solução: voltar ao mar. Abraçar o Brasil, Angola, Cabo Verde, Guiné, São Tomé e Príncipe, Moçambique e Timor. Com humildade para não perder a sua glória, que é muita.
Nós, na minha opinião, antes de sermos europeus, somos do mar.
Belmonte, aqui ao lado (vivo, ainda, na Serra da Estrela), viu nascer Pedro Álvares Cabral. Que pena, no Brasil de hoje, Belmonte ser uma cidade pequenina quase escondida nos recônditos do Estado da Bahia.
Na Coriscada, levaram-me a visitar o lar de idosos. A única “empresa” com sucesso. Abracei a Senhora Dona Maria. Noventa e três anos! Ao abraçá-la despedi-me, de vez, de Portugal.
Ela disse-me numa voz ainda jovial:
_ Muito obrigada!
Como as minhas lágrimas não deviam ser vertidas ali, verto-as agora com o sal que do mar se reclama.»

Não posso estar maisn de acordo.