Consta que Pedro Aires de Abreu, o reputado representante do ICEP em Viena vai ser enviado para o México.
Um amigo comum confidenciou-me que a escolha resulta do facto de Abreu falar bem alemão e da consideração de que é importante ter alguém que fale esta língua na cidade do México.
Um segundo disse-me que não é bem assim, que se trata de uma questão de justiça na criação de oportunidades: se Abreu já fala alemão suficientemente bem, é preciso que dê lugar a outro.
Um terceiro contrariou os dois primeiros, concluindo que tudo não passa de uma penalização por causa da posição que o representante do ICEP tomou perante um desvio de alimentos para a despensa do anterior embaixador de Portugal em Viena.
Não sei se isto é verdade ou é mentira.
De uma coisa tenho, porém, a certeza: a de que é necessário democratizar o Ministério dos Negócios Estrangeiros, sujeitando os seus funcionários a um mesmo padrão de exigência, em matéria de respeito pelos direitos dos demais e pelas regras do funcionamento dos serviços públicos portugueses.
A incompetência é a melhor porta de entrada para as vias da prepotência e da anormalidade.
Seria muito interessante que alguém tomasse a iniciativa de promover uma investigação (académica) sobre os desvios comportamentais emergentes da imunidade diplomática garantida pela Convenção de Viena.
Pode lá admitir-se que um alguém mande desviar para a sua despensa pessoal alimentos destinados a um banquete pago pelos dinheiros públicos e que punido seja quem, no cumprimento do dever, afirme discordâncias relativamente a esse espírito de caserna?
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Por mim não vou tão longe. Limito-me a constatar que há nos serviços públicos portugueses uma interessante regra que manda cortar a cabeça a quem ultrapassar os limites da competitivade admissivel.
Quando alguém é bom onde está, muda-se.
É uma espécie de «giracídio», aquela do girassol para o subsídio: se tem mais de X sementes por flor, destroi-se a colheita, esmagando-a sob as rodas de um tractor.
Ali, em Viena e nos paises da vizinhança, Pedro Abreu já é conhecido, porque abriu portas, fez coisas, anunciou projectos.
Talvez tenha feito demais, para o gosto de alguns dos concorrentes.
Talvez o Ministro da Economia ainda não se tenha apercebido de que o excelente trabalho que está a fazer no plano das reformas está já a ser minado.