Caiu-me na caixa do correio um convite para o jantar do 97º Aniversário da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, em São Paulo, em que figura como cabeça de cartaz o Presidente da República Federativa do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva.
O jantar é na Hípica Paulista e o preço dos «convites» é de R$ 500,00 para os associados da Câmara e de R$ 600,00 para os demais.
Somos associados da Câmara e, por isso mesmo, beneficiaríamos de um fabuloso desconto de 16,6%, mas, pensando bem, decidi não participar no evento.
Se uma pessoa for a qualquer cabaret de luxo desta maravilhosa cidade de São Paulo, gasta isso, pela certa, e não conta com a presença do Presidente da República deste país maravilhoso, que é, para além do mais o presidente que foi eleito, até hoje em todo o Mundo, com a maior margem de votantes de sempre.
Talvez por isso mesmo se justifique a comparação, porque no nosso entendimento seria mais pornográfica a participação neste jantar do que num que, de semelhante, acontecesse em qualquer das mais famosas boates de programa paulistanas,
Uma câmara de comércio deve, antes de tudo, promover as relações económicas de acordo com critérios prudenciais de gestão. Não é razoável e toca as raias do saloio, a que aqui se chama brega, promover um jantar de homens de negócios (em que deve pretender-se a presença de bons gestores e não de pessoas que delapidem imprudentemente o património das suas empresas) por um preço que igual o salário mínimo no país.
Dá volta ao estômago de qualquer pessoa honesta participar num jantar com o presidente da república de um país pelo qual se pague um salário mínimo, tanto quanto muitos dos cidadãos que têm a sorte de ter emprego, neste país, ganham num mês. Mas a volta é ainda maior se pensarmos que esse presidente é um homem que veio da esquerda e que tem feito da luta contra as igualdades sociais uma bandeira.
Para além disso, participar neste ágape, que só tem este preço porque tem o Presidente Lula como cabeça de cartaz, é uma forma de aproveitamento desleal da imagem do mesmo, que Lula, um grande amigo de Portugal, não merece.
É absolutamente pornográfico o aproveitamento da presença do conhecido lider para fazer um negócio semelhante, no formato e nas dimensões, àqueles que algumas velhinhas organizam com a participação de gente do cinema para, alegadamente, arranjar fundos que permitam alimentar cães e gatos perdidos na rua, sem que disso se veja o resultado, porque depois do jantares eles continuam lá.
O registo, aqui e agora, deveria ser outro, especialmente neste tempo, tão propício ao desenvolvimento das relações económicas entre Portugal e o Brasil.
Uma vergonha, de que me demarco por simples razões de higiene política.
Por respeito para com os brasileiros e para com os portugueses.