Declarações do antigo ministro de Cavaco deixam PSD espantado
Foi como se uma lâmina fina cortasse o PSD ao meio com um só golpe.
Foi como se uma lâmina fina cortasse o PSD ao meio com um só golpe.
As palavras de Manuel Dias Loureiro, que elogiou a "capacidade de liderança" e a "capacidade estratégica" do primeiro-ministro José Sócrates, deixaram ontem surpresos e embaraçados vários sociais-democratas.
A maior parte, por motivos de amizade, respeito ou pudor, optou por não comentar sequer as palavras de Dias Loureiro, antigo secretário-geral do partido, ex-ministro da Administração Interna e actual conselheiro de Estado do Presidente da República por escolha directa deste.
Ao DN, Pedro Santana Lopes, antigo primeiro-ministro e ex-líder do PSD, assumiu não querer comentar as palavras do conselheiro de Cavaco Silva, alegando afazeres no escritório e uma amizade de muitos anos que o une a Dias Loureiro.
Nuno Morais Sarmento, um dos mais fervorosos apoiantes de Manuela Ferreira Leite e actual presidente do Conselho de Jurisdição Nacional do PSD, também não quis comentar.
Já Ângelo Correia, que deixou na reunião de Guimarães da semana passada o lugar de presidente da mesa do congresso, foi muito directo: "Não tenho qualificativos".
No lançamento do livro biográfico "O Menino de Ouro do PS", esta segunda-feira, Manuel Dias Loureiro desfez-se em elogios a José Sócrates, secretário-geral do PS e primeiro-ministro. Segundo Dias Loureiro, "o optimismo de Sócrates faz muito bem a Portugal" (ver frases ao lado). José Ribau Esteves, regressado ontem ao País depois de um curto período de férias, diz estar "em discordância total" com aquela observação.
Na mesma linha do ex-secretário-geral do PSD, o deputado Rui Gomes da Silva, antigo ministro dos Assuntos Parlamentares e braço-direito de Santana Lopes, resume o sentimento que ontem perpassou todo o PSD: "Estou espantado. As declarações do Manuel Dias Loureiro causam-me um enorme espanto. E mais não devo dizer".
Junto de Manuela Ferreira Leite o espanto terá sido ainda maior, pois a actual equipa dirigente tem feito um esforço nos últimos para se distanciar da ideia de que é possível haver um novo bloco central, entre PS e PSD, depois das eleições de 2009.
José Eduardo Martins, vice-presidente da bancada do PSD na Assembleia da República, já escolhido por Ferreira Leite, afirmou ontem que "vivemos numa democracia saudável, que permite que cada um tenha a sua opinião e seja responsável por ela". Questionado pela Lusa sobre se estaria surpreendido com o grau dos elogios, afirmou: "Não muito".
Será que isto é mesmo sincero ou tem a ver com negócios?