Para conhecer o que é hoje aquilo que foi o Estado da Índia, o melhor é começar por Goa.
À primeira vista, depois de umas horas de passeata a bordo de um riquexó (que é o que os goeses que falam português chamam a uns triciclos da Piaggio que se vêem em toda a Índia) temos a sensação de que estamos numa cidade de onde foi retirada a população.
Em todos os cantos vemos sinais da presença portuguesa, alguns deles deformados pela «libertação», porém com o essencial absolutamente incólume.
Mas ninguém fala português e poucos falam um inglês que se entenda. A maioria fala uma lingua regional (o concani) ou a primeira língua oficial da Índia, que é o hindi.
À medida que o tempo passa vamos descobrindo que não é bem assim. Algumas das pessoas que falam muito mal inglês, falam português perfeito.
Goa está povoada de portugueses encobertos, que há anos liam os nossos autores às escondidas e que agora vão saindo do armário, como o dessa mota que fotografei há dias na baixa de Pangin.
Mudaram o nome a Pangin para Panagi, mas ninguém diz Pangi, como ninguém diz Mormugau, continuando toda a gente a dizer Mormugão, com o mesmo som de cão no fim.
Os Gonçalves passaram a ser Gonsalves, porque foi eliminado o Ç.
É altura de fazer um monumento ao Ç, que é a maior vitima da história recente.
De resto, toda a gente está contente e é unânime na afirmação de que o estado progrediu como nunca teria progredido se não fosse a «libertação».
Exageros das libertações, todos nós sabemos que os há. Mas, felizmente, os tempos mudaram. E hoje respira-se liberdade, como não aconteceu durante anos.
Goa é uma pequena cidade cosmopolita, com a qual todos temos muito que aprender.