«Até agora não houve ainda alguém que tivesse a coragem de traçar uma Diplomacia das Comunidades com princípio, meio e fim. É verdade que alguns secretários de Estado se têm preocupado com a gestão e administração consular, outros com a imagem do Estado na distribuição de subsídios e alguns outros com a imagem de si próprios, ou nos casos mais altruísticos, com a implantação e crescimento dos partidos de que são serventuários. O certo é que para e com quatro milhões e meio de Emigrantes não tem existido uma Diplomacia das Comunidades, com a coerência da designação, com a dignidade do objectivo a que não hesitamos classificar de nacional e com o dispositivo que isso requer.A verdade é que sem Democracia nas Comunidades qualquer actividade externa séria do Estado neste domínio se sumirá com a água pela areia. E não efectivamente Democracia. Os órgãos eleitos pelos Emigrantes – o sistema cívico do Conselho das Comunidades – amiúde têm sido marginalizados e até mesmo maltratados pelos decisores de Lisboa. O movimento associativo dos Emigrantes não é ponderado em função da qualidade e da excelência mas quase sempre em função de oportunismo político, do populismo e do apelo aos sentimentos decadentes. O sistema eleitoral é uma farsa supostamente para esconjurar fantasmas e um fantasma que acaba por crismar farsas – a Emigração equivale a meio-país mas o recenseamento tem uma expressão pouco acima do Concelho de Gondomar e o número dos que, desta vez, exerceram o direito de voto não excede no Círculo da Europa nem chega ao dos votantes da Freguesia de Alcabideche enquanto e no de Fora da Europa esse número fica aquém do dos votantes da Freguesia de Rio Tinto. E com isto se elegem quatro deputados por quatro milhões e meio de Portugueses, tantos deputados quanto o Distrito da Guarda com 173 mil habitantes tem direito…Longe de se sugerir, com isto, que a Emigração possa ou deva eleger metade do Parlamento! Mas se quatro deputados por 150 mil inscritos são demais, os mesmos quatro por quatro milhões e meio são de menos, pelo que alguma coisa está mal, viciado e vicioso no reino da emigração, sendo certo que sem Política coerente e descomplexada para as Comunidades não pode haver uma Diplomacia das Comunidades credível e credibilizada junto dos países de acolhimento, tolhendo os passos a oportunismos inequivocamente identificados e a chantagens de uma disseminada meia dúzia de escrápulas militantes do ilícito que julgam ter tudo nas mãos e não têm – um número escasso que não chega para fazer um fantasma, diria até a Polícia Montada do Canadá quanto mais o Cristo do Corcovado.É evidente que os consulados e a malha de conselheiros (culturais e sociais) têm muito a ver com isto.»