José Sócrates vem ao Brasil numa correria cujo itinerário se desconhece.
Chega a 8, está a 9 em S. Paulo, a 10 no Rio e parte para Lisboa a 11.
Recebi há pouco um telefonema de um amigo informando que me havia inscrito para um jantar, no dia 9, na Rua do Canadá nº 324.
Isto soou-me a alguma coisa familiar.
Pois... é o endereço do Consulado Geral de Portugal em S. Paulo, como se pode ver por este link.
O «convite» é da Câmara Portuguesa de Comércio do Brasil e custa 200 reais para os sócios e 250 reais para os não sócios.
Tudo bem se o local da homenagem não fossem instalações públicas marcadas por uma polémica ainda não acabada.
A marcação da homenagem da Câmara de Comércio a José Sócrates nas instalações do Consulado tem, claramente, o sabor de uma «saia justa» ao Primeiro Ministro, depois do que foram as posições do PS sobre o controvérsio «negócio» daquelas instalações.
Tudo é muito «escuro» desde a contratação da locação, por um valor brutal, comparado com os valores correntes do mercado, até ao seu financiamento.
Parece que uma parte dos «custos» mudança terá sido paga com a venda de dados pessoais do consulado a uma empresa de telecomunicações, do que corre ou correu um processo criminal aberto pela Comissão Nacional de Protecção de Dados.
Para além disso, soube-se na época que a Caixa Geral de Depósitos pagou parte das despesas, do Consulado e da «residência», só de um ou só de outra e que foram recebidos dinheiros com os mesmos fins da Portugal Telecom ou de alguma das suas participadas, da EDP ou de alguma das suas participadas. A PT e a EDP são empresas cotadas em bolsa e não há expressão desses «subsídios», a meu ver ilegais, nas suas contas, para além de que doações desta natureza indiciam práticas passiveis de procedimento criminal.
Nenhuma empresa dá dinheiro a uma entidade pública não caritativa se dela não quiser obter vantagens... E isso tem um nome.
A mudança do consulado processou-se num quadro muito escuro e indiciário de uma grande promiscuidade de interesses, o que motivou pedidos de esclarecimento e denúncias da parte do Partido Socialista.
Tanto quanto sei essas contas não estão ainda esclarecidas e haverá uma investigação no Tribunal de Contas relacionada com elas.
A realização de um jantar de homenagem a José Sócrates naquelas instalações só pode ser interpretada como uma forma de «arrumar» esse processo e de branquear tudo o que é duvidoso e escuro.
Eu ainda estava no PS quando essa contestação se verificou e acompanhei os socialistas do Brasil e de Lisboa na indignação perante essas operações.
Saí do Partido Socialista mas tenho lá a maioria dos meus amigos e considero, apesar disso, que José Sócrates foi para todos nós uma extraordinária surpresa: é, talvez, o melhor Primeiro Ministro que Portugal teve depois do 25 de Abril.
Como se diz em Portugal, «saiu melhor que a encomenda».
Mas isso não justifica tudo...
Parece-me desnecessário que ele arrisque colocar-se na situação de aceitar a homenagem de uma Câmara de Comércio, paga pelos participantes a 250 reais por cabeça, em instalações públicas manchadas por suspeitas de pecado.
Acaso se poderá cogitar na hipótese de alguma entidade privada organizar um almoço de homenagem ao Primeiro Ministro, nos jardins de S. Bento, pago à razão de 20 contos por cabeça? Ou que se diria do Prof. Cavaco se uma qualquer outra Câmara promovesse evento idêntico, ao mesmo preço, nos jardins de Belém?
É preciso que haja nisto tudo um bocadinho de bom-senso...
O preço não é importante, mas ainda assim, a comparação peca por defeito. É que, se tomarmos em consideração o diferencial entre os salários minimos, os 250 reais correspondem a cerca de 300 €, ou seja 60 contos.
O que diria de Sócrates de ele vendesse a sua vaidade nos jardins de S. Bento por esse preço? Tudo, para além do mais, com a agravante de que os jardins de S. Bento não estão sob suspeita de nenhum negócio duvidoso.
Parece-me que José Sócrates não merece isto e que o facto de Francisco Seixas da Costa ter sido, justamente, homenageado como Personagem do Ano, não dá a ninguém o direito de congeminar este tipo de habilidades.
Isto é uma enorme maldade...
A Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil - São Paulo tem o prazer de convidar seus associados e amigos para o jantar em homenagem ao
Primeiro-Ministro de Portugal:
EXMO. ENG. JOSÉ SÓCRATES
Data:
09 de agosto de 2006 – Quarta-feira
Horário:
20:00 horas
Local:
Rua Canadá, 324
Manobrista no local
Adesão:
Sócio R$ 200,00 e Não-Sócio R$ 250,00 - Vagas limitadas
R.S.V.P.:
Até dia 08 de agosto, pelo telefone: (11) 3272-9872 ou por e-mail: administrativo@camaraportuguesa.com.br
Pagamento:
Depósito bancário em nome de Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, Unibanco, agência 7001, conta corrente 250001-6, com posterior envio de comprovante para o fax (11) 3272-9872 ramal 24.
*Curriculo
José Sócrates
José Sócrates
Nascido em Vilar de Maçada, concelho de Alijó, distrito de Vila Real, em 6 de Setembro de 1957, Engenheiro Civil, pós-graduado em Engenharia Sanitária, na Escola Nacional de Saúde Pública, Militante do Partido Socialista desde 1981.
Presidente da Federação Distrital de Castelo Branco entre 1986 e 1995, foi membro do Secretariado Nacional do Partido Socialista desde 1991, e membro da Comissão Política do PS, porta-voz do PS para a área do Ambiente a partir de 1991.
Deputado à Assembléia da República de 1987 a 1995 e desde 2002 (V, VI, VII, VIII e IX Legislaturas), pelo círculo de Castelo Branco, tendo sido, na IX Legislatura, Vice-Presidente do Grupo Parlamentar do PS, membro da Comissão Parlamentar de Defesa Nacional e membro da Comissão Permanente da Assembléia da República.
Foi Também, Membro da Assembléia Municipal da Covilhã.
Ministro do Ambiente e do Ordenamento do Território do XIV Governo Constitucional.
Ministro Adjunto do Primeiro-Ministro do XIII Governo Constitucional, Secretário de Estado Adjunto do Ministro do Ambiente do XIII Governo Constitucional.
Eleito Secretário Geral do Partido Socialista em Setembro de 2004.