sexta-feira, outubro 27, 2006

Comerciante deportada de Dublin denuncia espancamento na Europa

Uma vergonha...

Luzia Procópio foi confundida com prostituta e foi presa na Irlanda



Mariana Rios

Em sete dias, a comerciante paulista Luzia Procópio, 34 anos, conheceu o inferno na Europa. Detida no aeroporto de Dublin, de onde foi deportada pelo serviço de imigração irlandês, ela desembarcou ontem à noite no Aeroporto Internacional Deputado Luís Eduardo Magalhães. Abatida, prestou depoimento no posto da Polícia Federal e relatou o preconceito, as agressões e humilhações pelas quais passou em território europeu. Casada, mãe de dois filhos, Luzia, bastante emocionada, conversou com jornalistas sobre o sonho transformado no pior pesadelo de sua vida.
Foram dois dias, em uma solitária em Dublin, interrogatórios, as roupas jogadas no chão, a mala remexida, a agenda vasculhada. Os agentes de imigração procuravam o contato de Luzia numa possível rede de prostituição na Irlanda. Com os lábios trêmulos, contou sobre os socos que levou de duas policiais femininas, na altura do estômago, no lado direito, e dos pontapés, quando colocaram-na numa pequena cela, que chamou de solitária. Intérprete, através de um telefone, só no segundo dia.
De volta a Lisboa, aguardou por cinco dias numa sala, alimentando-se, conforme relatou, com sobras de alimentos servidos em aviões. Queixando-se de dores, recebeu um analgésico. Dividiu em 12 parcelas de R$295 o desejo de conhecer capitais européias e mesmo com a passagem de volta em mãos foi tratada como uma intrusa. “Quero justiça. Vou encaminhar o meu protesto ao Consulado em Brasília. Se não queriam minha presença lá, não precisavam agredir. Nunca me senti tão humilhada”, afirmou, explicando que por uma questão de saúde, perda progressiva da visão, o marido não pôde acompanhá-la.
A brasileira não seguiu para São Paulo porque não tinha 248 euros. Desembolsou cem euros para comprar a passagem de volta para Salvador. Ela seguiu para Lisboa no dia 16 de outubro, chegou em Dublin no dia 18, e pretendia seguir para Madri e Paris, e retornar para a capital portuguesa. Desembarcaria no Brasil, no próximo dia 16. “Não volto nunca mais”, disse Luzia antes de prestar depoimento ao coordenador da Polícia Federal no aeroporto, Francisco Gonçalves, informado sobre o caso pelo adido do órgão na Europa.
Após o pouso da aeronave da TAP Air Portugal, cujo vôo durou cerca de oito horas até o Brasil, mais quase três horas de atraso para o desembarque, em razão das condições climáticas, Luzia contou sua saga. Nas mãos, o passaporte, que apresentou ao coordenador, com o carimbo da imigração irlandesa, que traz uma cruz, símbolo de que não foi aceita, e outro da imigração portuguesa. Ela entregou ainda uma carta do serviço irlandês de que não foi aceita e notificação da polícia portuguesa, obrigada, por um acordo internacional a cumprir as deportações dos países signatários.
Segundo Gonçalves, o depoimento e toda a documentação seguem para a Divisão de Controle de Imigração da Polícia Federal, em Brasília. Então, será encaminhada para o Ministério de Justiça e para a Comissão de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU). “O governo brasileiro cobrará uma posição sobre o que aconteceu”, declarou. Somente essa semana, pontuou, foram 15 brasileiros deportados que desembarcaram em Salvador. “As mulheres são mais discriminadas na Europa. Brasileira, sozinha, na Europa é taxada de prostituta”, concluiu Gonçalves.
Perguntado sobre como a atitude de Luzia mudaria tal situação, pontuou que a denúncia é uma forma de protesto. “São poucos os deportados que nos procuram”. Até as 21h de ontem, o dia de Luzia não tinha terminado. Ela continuava depondo na Polícia Federal.

http://www.correiodabahia.com.br/

segunda-feira, outubro 23, 2006

Luso-descendências...

Não resisto a publicar esta mensagem enviada por uma luso-descendente ao PortugalClub.
Sem comentários. Vale para memória futura.


Prezados Amigos,

Agradeço por vocês por me aceitarem no grupo, mas antes quero esclarecê-los do porque sobre a minha decisão. Eu estou no Brasil e sou filha de português e bisneta de espanhois e alemão, logo o passaporte português ficou "mais fácil" para eu tirar, então, esperei muito tempo (desde 2004) a boa bontade do Consulado Geral de São Paulo para que isto finalmente acontecesse em Maio deste mesmo ano. Logo, eu começei a acessar muitos sites sobre Londres e achei bastante coisas interessantes. Como eu sei que ficar longe da pátria é difícil, já tem um bom tempo que procuro me enturmar com pessoas de minha língua para trocar informações sobre a cultura britânica, emprego, etc., antes de embarcar.
Como sei um pouco de inglês, localizei algumas agências em Londres e já saio do Brasil empregada em Outubro de 2006, graças a Deus! Estou nos preparativos.
Mas enfim, procurei contatos interessantes e lamentavelmente no msn achei um grupo de pessoas brasileiras falsificando passaportes na maior cara de pau e oferecendo para quem ainda está no Brasil. E infelizmente o nosso, é o que tem maior giro!
Eu estou envergonhada da palhaçada que infelizmente alguns brasileiros estão fazendo descaradamente e ainda humilhar as pessoas decentes que debatem contra este tipo de coisa.Eu coloquei este e-mail
critico69@servidor.com.br , porque o outro e-mail pessoal que havia cadastrado anteriormente, recebi insultos de uma tal de Darlene da Silva me chamando de ignorante e que as pessoas no Brasil morrem de fome, por isto fazem este tipo de coisa.
Que eu saiba, apenas no Norte e Nordeste isto acontece, porque no Sul o padrão de vida é muito bom e parece um pedaço da Europa e as cidades são limpas e organizadas. Gramado é um verdadeiro sonho! Em São Paulo, tem muita pobreza e crimes organizados, pessoas perambulando pelas ruas, mas no final de feira é um pecado tantas frutas e legumes que sobram e ficam pelo chão! Então, eu tenho 36 anos de SP e nunca vi ninguém morrer de fome e sim de frio , mendigos de rua que não suportam nosso inverno. O programa que nosso presidente tanto fala da fome zero é para pessoas do Norte, Nordeste, daí sim isto acontece!
Mas elas são tão miseráveis que vivem em meio rural e não sabem nem o que é um automóvel! Acho improvável que saibam o que é uma viagem internacional e como penetrar em países de 1º mundo. É lógico, que no Nordeste, devido ao turismo tem muitas prostitutas que acabam tendo este acesso e querem uma vida melhor em troca de "serviços" e também temos problemas de conjuntura em todo país com nossa economia instável, taxas e impostos que lamentavelmente nossos governantes não param de aumentar a cada dia, mas é um absurdo usar estes argumentos como desculpas esfarrapadas para pessoas se venderem e conquistar dinheiro!
Uma passagem custa mais de R$ 2500,00 e documento falso também não é barato!
O pior foi receber o e-mail em letras maiúsculas, o que denota total falta de educação me chamando de filinha de papai e ignorante.
Ainda com erro grosseiro de português! Quem sabe foi um erro de digitação, mas é vergonhoso que até o termo nóis é usado frequentemente por algumas destas pessoas. Então, infelizmente vou ter que procurar outros grupos para conversarmos coisas que me enriquecem culturalmente e me trazem paz de espírito. Porque eu posso até concordar com a mesma que realmente sou "ignorante" e nunca saí de minha pátria, então eu admito que tenho muito para aprender... Mas aqui no Brasil eu cursei 3 Universidades e tenho ótima formação e não sou filhinha de papai como a mesma citou em suas ofensas. Meu pai veio para o Brasil em 1951 e trabalhou duro para deixar 3 filhas com diploma superior. Deixo saudações para os que estão longe de suas famílias, porque só estando fora para sentir o gosto desta experiência que vou sentir a partir de Outubro.
Eu pretendo contribuir com este espaço com boas informações e peço desculpas pelo meu desabafo e minha indignação.
Magali Parreira

quinta-feira, outubro 12, 2006

Comunicado do Consulado de Portugal em S. Paulo

Tinha decidido evitar, tanto quanto possível, voltar a referir nest blog os acontecimentos do Consulado Geral de Portugal em S. Paulo.
Publiquei a carta dos funcionários, que é por si sintomática.
Não posso deixar de publicar a resposta do Cônsul, agora conhecida através de comunicado:
Comunicado


Não posso deixar de manifestar publicamente a minha enorme indignação com mais uma peça de finíssima manipulação lançada para o caldeirão dos azedumes, infâmias e mentiras que um pequeno grupo de pessoas vêm enchendo e remexendo desde que acabaram as filas de espera no Consulado-geral em São Paulo, há dois anos atrás.

Trata-se de uma carta enviada ao Senhor Ministro dos Negócios Estrangeiros, datada de 28 de Setembro mas tornada hoje pública, cujos 15 subscritores, “funcionários dos quadros” que são também membros do sindicato STCDE, ou, como a si próprios se classificam, os “donos da casa”, se queixam de estar a ser “moralmente assediados”, não só por mim, o que não seria novo, como por uma coligação de “coniventes”, composta afinal por todos os outros, desde os restantes 15 trabalhadores administrativos, dos quais 12 são depreciativamente chamados de “visitas”, isto é, “prestadores de serviço” e “contratados”, até aos agentes de segurança e às empregadas da limpeza, acusados unanimemente de terem “arrogância”.

Ao meu escândalo incontido com esta desconsideração inqualificável pelos que hoje em dia mais contribuem para os níveis elevadíssimos de serviço do Consulado, e cujo comportamento pessoal se caracteriza justamente pela discrição e humildade, soma-se também a perplexidade com o que poderia eventualmente substanciar tais queixas de perseguição:

Perseguidos porque a sua correspondência privada é violada? Não, certamente, pois não se compreenderia que o endereço do Consulado-geral de Portugal em São Paulo continuasse a ser usado para fins privativos.

Porque são deliberadamente filmados? Mas para quê e como, pois se, das dez câmaras que são usadas no Consulado, sete estão no exterior, uma na Sala de Espera dos utentes, e duas no Centro Emissor de BI, das quais uma por dentro e outra por cima da respectiva porta de acesso ?

Porque não podem comunicar-se com o exterior ? Também não, pois cada um dos subscritores da carta tem um número externo próprio de telefone e acesso irrestrito às máquinas de fax e à net.

Porque são más as instalações onde trabalham ? Não, certamente, pois todos os que as conhecem são unânimes em considerá-las muito, muito acima da média da rede consular portuguesa, em todos os aspectos.

Porque têm que lidar directamente com utentes enfurecidos pelos atrasos no processamento dos seus requerimentos ? Não, pois há mais de dois anos que acabaram as filas de espera físicas e administrativas no Consulado de São Paulo.

Porque têm que responder a centenas de perguntas? Ainda menos, pois desde 2001 que uma Central de Atendimento Telefónico as processa, mais de 600 por dia.

Porque são obrigados a trabalhar muito? Não, pois nunca nenhum membro da “gerência” pediu que trabalhassem mais do que as 5,30 horas que a lei estipula, e que são escrupulosamente respeitadas pela maioria dos signatários.

Porque ganham pouco ? Também não, pois, até mesmo em Portugal, é muito robusto o vencimento médio que os 15 subscritores auferem, de 3130 dólares por mês, líquidos de impostos, 14 vezes por ano.

Porquê então ?

Será que a “perseguição moral” de que se queixam advém de ser intolerável conviver na mesma sala com as 12 “visitas”, pessoas esforçadas e motivadas que trabalham voluntariamente mais de dez horas por dia, e amiúde durante o fim-de-semana, para evitar qualquer atraso no processamento dos requerimentos dos utentes, apesar de auferirem remunerações bem menores ?

Ou será que resulta de ser moralmente inaceitável verificar todos os dias a contradição entre a propalada insatisfação dos utentes com o Consulado e o verdadeiro contentamento que a esmagadora maioria teima testemunhar a quem estiver genuinamente interessado em saber ?

Será que se deve a não termos ainda conseguido encontrar o paradeiro da maioria dos mais de 7000 utentes cujos Bilhetes de Identidade e Passaportes válidos estavam no Consulado à espera de serem levantados, porque nunca ninguém se preocupou em perguntar-lhes se queriam recebê-los em casa ?

Ou será por fim que a percepção de “assédio moral” resulta de o número de portugueses que se inscreveram nos Cadernos Eleitorais desde Setembro de 2004 já ter ultrapassado os 6000, depois de 20 nos 4 anos precedentes, tornando cada mais (in)compreensível a “manifestação” de 10 adultos e 5 meninos que teve lugar em frente do Consulado dia 10 de Janeiro, contra o “fecho das portas” e consequentes “dificuldades de recenseamento” ?

Só os próprios poderão responder.

Espero no entanto que a opinião pública portuguesa de São Paulo ajuíze com serenidade, sobretudo aqueles que têm suficiente experiência de vida para poder comparar o que foi com o que é, e concluir se agora o Consulado-geral está ou não mais perto dos utentes ─ os que fomos educados a acreditar serem os únicos “donos da casa”, na qual quem trabalha não passariam de meros servidores, que só se deveriam distinguir entre si pela intensidade do “serviço” que todos foram “contratados” para prestar, com a máxima isenção.

O Cônsul-geral
Em 10 de Outubro de 2006

quarta-feira, outubro 11, 2006

Grande diplomata...

Depois de nos ter surpreendido recentemente com um livro excelente - porque são cada vez mais raras as manifestações de frontalidade - eis que Francisco Seixas da Costa nos trouxe ontem um novo contributo para a reflexão sobre as relações internacionais.
Homenageado pela Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, como personalidade do Ano 2005, Seixas da Costa proferiu um importante discurso, que não resisto a reproduzir:
«Permitam-me que comece por agradecer à Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, na pessoa do seu Presidente, Dr. António Bustorff, o facto de ter escolhido o meu nome para receber esta prestigiosa distinção.

Fico muito grato por se terem lembrado de mim e só espero que o meu trabalho futuro continue a não desiludi-los.

A circunstância de ter recebido este prémio das mãos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, que é uma figura que há muitos anos me habituei a ler e a apreciar, bem antes de ele próprio vir a ter elevadas funções políticas, acresce ainda mais à honra que sinto neste momento.

E gostava também de dizer que estou feliz pelo facto de ter, como parceiro neste dia, o empresário André Jordan, uma personalidade que faz hoje parte da história do desenvolvimento do turismo de elevada qualidade em Portugal.

Quero também felicitá-lo, pessoalmente, neste momento.

E se agradeço a presença de todos, julgo que me perdoarão se sublinhar o facto de termos hoje connosco nesta mesa o meu querido amigo Dr.Jorge Sampaio.

Confesso que, quando fui informado da ideia de me destinarem este prémio, fiquei um pouco perplexo, como o Dr. António Bustorff se lembrará.

É que, pela primeira vez na minha vida, estava a ser distinguido, muito simplesmente, por ter cumprido o meu dever.

E nós, portugueses, não estamos muito habituados a isso...

O acompanhamento e o apoio à acção empresarial portuguesa no exterior foi sempre, historicamente, uma função típica da diplomacia.

Ao longo das mais de três décadas que levo na carreira diplomática, sempre observei colegas meus muito empenhados no trabalho de suporte às empresas na sua actividade internacional.

Tenho hoje aqui, como meu convidado, o meu amigo Embaixador Paulo Ennes, o qual, precisamente há 30 anos, e então como sub-director geral dos Negócios Económicos, me deu as primeiras directrizes sobre o modo como um diplomata deve trabalhar, no apoio às movimentações internacionais dos nossos empreendedores.

O novo Secretário-Geral do Ministério, Embaixador Fernando Neves, que entrou comigo no mesmo dia para as Necessidades, é testemunha privilegiada do que acabo de dizer.

Recordo, desse interessante trabalho que então fizémos sob a sua direcção, o reforço das relação aos mercados árabes, onde, por exemplo, abrimos caminhos para empresas portuguesas construírem alguns palácios, num país do Médio Oriente cujo nome agora me escapa, palácios esses que hoje, ao que se sabe, parece estarem outra vez a necessitar de obras...

Nessa altura, aprendi como o MNE sabia articular-se com o então Fundo de Fomento de Exportação, com a velha Direcção-Geral do Comércio Externo, bem como com os sectores de relações internacionais dos ministérios económicos.

Desde esse tempo, todos adaptámos a nossa maneira de trabalhar, os organismos interlocutores foram evoluindo, uma maior exigência e até uma maior tecnicidade foi necessária.

O próprio Ministério dos Negócios Estrangeiros alterou as suas estruturas, eliminou estranhamente a sua Direcção-Geral dos Negócios Económicos e, bem mais tarde, veio a ter de criar, para corrigir aquela decisão, um Gabinete de Assuntos Económicos.

Mas, no que pessoalmente me toca, tenho a sensação de que, não obstante essas mutações formais, me fui sempre comportando de forma basicamente similar em todos os postos onde servi, quer em relação aos agentes económicos privados, quer na articulação com os restantes ministérios.

E vi sempre os meus colegas fazê-lo, naturalmente cada um a seu modo, alguns com mais vocação que outros, mas, na esmagadora maioria dos casos, com um elevado sentido de responsabilidade e de empenhamento.

Por essa razão, quando, aqui há poucos anos, apareceram por aí uns “descobridores da pólvora” a dar-se ares de que estavam a criar uma coisa nova chamada “diplomacia económica”, só me não ri porque estas coisas do serviço público são muito sérias e não tem nenhuma graça vê-las tratadas de forma leviana.

As estruturas diplomáticas e consulares portuguesas, que são órgãos de apoio a toda a acção económica externa, sempre estiveram, e devem continuar a estar, ao serviço dos empresários nacionais que actuam no exterior.

Repito aquilo que tenho dito e redito no Brasil, aos nossos empresários, em todos os contextos: usem a nossa embaixada, usem os nossos consulados, peçam-nos para os apoiarmos nas vossas diligências, utilizem os nossos serviços.

As vossas empresas pagam impostos para terem, ao dispor, uma rede de acompanhamento e apoio oficial no exterior.

Se não funcionarmos eficazmente, se não satisfizermos os vossos interesses – os interesses legítimos e razoáveis, naturalmente – peço que reclamem.

Se a culpa não for nossa, ou se não dispusermos de meios para corresponder aos vossos pedidos, lá estarão o embaixador ou os cônsules para dizerem isso mesmo à respectiva tutela.

Nós somos servidores públicos – e eu quero dizer, neste que é um ambiente onde prevalece uma cultura de economia privada, que tenho um grande orgulho pelo facto de, há mais de 35 anos, ser servidor do Estado português.

Digo-o bem alto num tempo em que se assiste a alguma diabolização do serviço público.

Também eu me queixo do mau serviço público, da burocracia, do deixa-andar, da indiferença, da incompetência, da arrogância de quem tem um balcão ou um carimbo como fonte medíocre de poder.

Mas o que a administração publica portuguesa necessita, mais do que soluções simplistas e caricaturais, de quem parece que vê o Estado como um eterno inimigo, ou um mero intermediador de subsídios europeus, é de uma cultura de transparência e de responsabilização.

A nossa administração deve ser sujeita a um escrutínio constante de funcionalidade, de saber abrir-se a um juízo sério de “accountability”.

É que, também no serviço público, quem não deve não teme.

E quero poder interpretar, na distinção que hoje me é atribuída – e que eu desejo partilhar com todos os meus colaboradores no Brasil –, que ela representa a vossa apreciação de que, afinal, há sectores do serviço do Estado que merecem um juízo e uma avaliação positiva da vossa parte.

E isso, naquilo que me toca, deixa-me imensamente satisfeito.

Permitam-me ainda algumas palavras, mais directamente voltadas para a minha actividade no Brasil.

Nestes quase dois anos que levo no país, pude concluir que, para um diplomata português, servir no Brasil é um raro privilégio.

Digo-o com a maior sinceridade, até porque nem sempre tive exactamente essa ideia.

Há, no relacionamento entre Portugal e o Brasil, algo de atípico, de muito diferente, difícil de definir, nos encontros e nos desencontros, que nos estimula a procurar trabalhar mais e a perceber melhor.

Sem retóricas, e deixando por uma vez as caravelas de lado, aprendi que há cada vez mais, no Brasil de hoje, um espaço muito interessante para a actividade dos agentes económicos portugueses.

Mas também aprendi que, no campo específico do comércio, não vale a pena sermos megalómanos nas nossas ambições, nem ficar iludidos pelo fenómeno do crescimento anual a dois dígitos das nossas trocas bilaterais.

Os números do nosso comércio são o que são, podem crescer imenso mas, por muito tempo, atendendo ao seu ponto de partida, serão um pouco mais que irrelevantes, no contexto geral do comércio externo dos nossos dois países.

Se não conseguirmos mudar o paradigma dos nossos produtos de exportação, as coisas podem continuar a evoluir, mas o seu ritmo nunca será significativo.

Além disso, permanece no Brasil uma ideosincrasia proteccionista que, ainda hoje, nos cria grandes dificuldades na área comercial e que só um acordo entre a União Europeia e o Mercosul permitiria ajudar a superar.

Pode parecer politicamente incorrecto estar a dizer isto, de forma tão frontal, mas a mim pagam-me para trabalhar com a verdade.

Já no que toca aos investimentos, as coisas têm outra dimensão.

Se alguns parâmetros essenciais se mantiverem no Brasil, nomeadamente nos equilíbrios macro-económicos a médio prazo – e creio que, no essencial, devem manter-se, se dependerem apenas da vontade interna brasileira -, o Brasil continuará a ser um mercado muito interessante para os investidores portugueses.

Alguns deles, porém, talvez tenham de aprender a trabalhar mais em articulação com outros parceiros, europeus ou doutras origens, para poderem ganhar uma escala competitiva, num mercado que tende a tornar-se mais exigente.

E estou a falar de empresas de maior dimensão: no caso das PME’s, o panorama não é exactamente o mesmo e haverá que ter uma atenção bastante maior, em especial em certos sectores.

É que há importantes diferenças entre o ambiente empresarial brasileiro e a cultura de inserção - normativa administrativa e de crédito - em que as empresas portuguesas dessa dimensão estão habituadas a actuar na Europa, ou mesmo em outros mercados, tidos como de recuperação rápida dos investimentos.

Esta é uma mensagem que pretendo de cautela, embora não deva ser lida como desmotivadora.

É neste trabalho com as PME’s que me parece da maior relevância o papel das Câmaras de Comércio portuguesas no Brasil, cuja articulação em rede tenho vindo a estimular, desde que cheguei ao país.

Temos actualmente 10 Câmaras de Comércio portuguesas no Brasil, uma das quais criada há poucos meses, e conto podermos anunciar a criação de uma outra, muito em breve.

Mas, no trabalho da nossa promoção no Brasil, em que muitos têm feito esforços louváveis e meritórios, temos de nos convencer a mudar radicalmente o perfil de algumas iniciativas.

Os eventos não podem, como muitas vezes acontece, continuar a ser meros “talking shops”, intermináveis seminários, colóquios, simpósios e quejandos, uma espécie de conversas quase só luso-portuguesas, com meia dúzia de “habitués” brasileiros, e que ficariam bem mais baratas se fossem feitas “off season” na Costa da Caparica.

Temos de habituar-nos a trabalhar melhor a montante desses eventos, despertar e assegurar o interesse dos potenciais contrapartes brasileiros e, só então, avançar com realizações de eventos concretos.

Organizar reuniões só para inventariar ou actualizar os números do passado e expressar intenções para o futuro, pode sossegar as almas, mas, há que reconhecer, acaba por transformar-se em momentos de clamorosa inutilidade.

E as pessoas têm cada vez menos tempo para ouvir sempre as mesmas coisas.

Uma última palavra – e prometo que com isto termino: é importante que saibamos ser muito mais agressivos na captação do investimento directo brasileiro.

Temos de saber explicar melhor aos nossos amigos brasileiros que uma qualquer empresa criada em Portugal passa a ser uma empresa europeia, com tudo o que isso significa de oportunidades num imenso mercado.

O Brasil, pela dimensão do seu próprio mercado interno e pela habituação de trabalho com a sua vizinhança próxima, tem uma experiência pouco diversificada, embora já bastante rica, em termos de investimento nos mercados externos.

Tenho a sensação de que a percepção dos responsáveis económicos brasileiros para as novas oportunidades, numa economia global onde o Brasil tende a estar cada vez mais presente, está a mudar muito rapidamente.

Acho que Portugal pode ajudar a reforçar esta percepção e sugerir-se como um óptimo terreno, com vantagens comparativas ímpares, para concretização de interesses dos nossos parceiros brasileiros.

Sinto que, também aqui, as coisas estão a mudar. »

Como já um dia disse, e contrariamente ao que cantava Chico Buarque, sinto que agora já não há “tanto mar” a nos separar.


Sem deixar de ser fiel à sua gente, Seixas da Costa pôs o dedo nalgumas feridas e afirmou princípios que deveriam ser melhor ouvidos.
Gostei especialmente desta tirada:
«Mas, no trabalho da nossa promoção no Brasil, em que muitos têm feito esforços louváveis e meritórios, temos de nos convencer a mudar radicalmente o perfil de algumas iniciativas.
Os eventos não podem, como muitas vezes acontece, continuar a ser meros “talking shops”, intermináveis seminários, colóquios, simpósios e quejandos, uma espécie de conversas quase só luso-portuguesas, com meia dúzia de “habitués” brasileiros, e que ficariam bem mais baratas se fossem feitas “off season” na Costa da Caparica.»
Parabéns... E vamos ver se alguém o ouve...

segunda-feira, outubro 02, 2006

Gerir silêncios...

Às vezes é preferível gerir silêncios do que dizer o que temos atravessado na garganta. É o que tenho feito, nos últimos tempos, sobretudo para não melindrar amigos nem chocar pessoas com quem tenho excelentes relações.
Fiz 55 anos no dia 7 de Setembro e sinto, cada vez mais, uma grande necessidade de medir as palavras e de reduzir o sentido cáustico da escrita.
Talvez sejam sinais do meu tempo e dos tempos que vivemos.
Respondo com isto a várias mensagens que questionam o meu silêncio. Podem ter os meus amigos a certeza de que não me calei... Tenho, aliás, escrito sobre outras coisas. Veja-se, por exemplo A Falência da Justiça...

domingo, agosto 13, 2006

... Posted by Picasa

Para consumo interno...

Expresso Posted by Picasa



Correr em Copacabana poderia ser noticia para o Brasil, neste tempo brasileiro de campanha eleitoral. Mas não foi. Não teve nenhum impacto na comunicação social brasileira, porque este grupo de cidadãos não se distingue, mesmo às 6 da manhã, de qualquer grupo idêntico, dos que fazem jogging na Atlântica.
Obviamente que os assessores do primeiro ministro são competentes e conseguiriam que esta foto fosse primeira página de qualquer jornal do Rio...
Se isso não aconteceu foi, seguramente, porque Sócrates quis que o facto se destinasse apenas ao mercado português.

sábado, agosto 12, 2006

O enigma da visita de Sócrates ao Brasil

Pouco ou nada se sabe, com um mínimo de rigor e detalhe, sobre a visita de José Sócrates ao Brasil.
Sócrates fez-se acompanhar por quatro ministros (Negócios Estrangeiros, Obras Públicas, Economia e Cultura) e por umas dezenas de empresários.
Sabia-se que era intenção da diplomacia portuguesa que a viagem fosse rodeada de um certo segredo e que nada com impacto aparecesse nos jornais até que ela tivesse o programa completo. Por isso se esperava que, a final, houvesse algo que permitisse, pelo seu impacto, rentabilizar o silêncio.
A montanha pariu um rato...
Não é normal este tipo de procedimento, que justifica o título do artigo.
Nunca se viu uma visita de um governante português ao Brasil ser tratada como esta pela imprensa brasileira, o que só se justifica por um interesse - oculto mas objectivo - de que esta fosse uma viagem para o consumo interno português.
O programa era do completo desconhecimento da imprensa brasileira, para o que contribuiu a atitude do próprio gabinete do primeiro ministro português, em cujo site a visita não estava agendada, poucos dias antes do seu início.
Sócrates não deu entrevistas a nenhum grande jornal brasileiro nem a nenhuma estação de televisão e a sua viagem foi completamente ignorada pelos principais jornais do Brasil .
Estive presente no jantar organizado pela Câmara de Comércio Portuguesa de S. Paulo, nas instalações do consulado português nesta cidade e, ainda, na recepção oferecida em nome do primeiro ministro do Palácio de S. Clemente, no Rio de Janeiro.
Em ambos os eventos, José Sócrates deu especial importância aos investimentos portugueses no Brasil e apelou a um movimento inverso, no sentido do investimento dos brasileiros em Portugal.
Se outras razões não houvesse - e há razões clássicas... - só essa justificava que não se tivesse adoptado uma estratégia de silenciamento relativamente a esta visita de José Sócrates ao Brasil.
A pergunta que, afinal, se tem que fazer é esta: como pode o governo português pretender que os empresários brasileiros invistam em Portugal, ocultando-lhes o mais possivel, mensagens sobre a realidade portuguesa e sobre essa vontade do governo?
O facto é tanto mais estranho quanto é certo que a representação portuguesa em Brasília conta com um adido de imprensa que é um jornalista respeitado e que não chegou ao país há dois dias.
Normal seria que o serviço de imprensa da embaixada tivesse criado condições para que o primeiro ministro e os ministros que se deslocaram ao Brasil fossem entrevistados por órgãos da comunicação social brasileira e que deles houvesse noticia ou mensagem antes da própria viagem.
Normal seria que, houvesse sido feito um programa de comunicação para cada um dos membros do governo que se deslocou ao Brasil, relativo ao tempo da sua presença no Brasil.
Normal seria que se houvesse previamente providenciado no sentido de criar condições para que, ao menos o primeiro ministro, aparecesse dos jornais televisivos em horário nobre e desse, pelo menos, uma entrevista a uma cadeia de televisão nacional.
Isso não tinha nenhuma dificuldade e não foi feito deliberadamente por alguma razão desconhecida.
Ainda recentemente tivemos a oportunidade de verificar isso, quando da campanha eleitoral para as presidenciais, com a viagem de Mário Soares ao Brasil, em que tive o gosto de participar.
Para além de uma conferência de imprensa, em que estiveram representantes de todos os grandes jornais brasileiros, Soares (que era um mero candidato presidencial) passou em horário nobre em duas estações de televisão e foi noticia de primeira página em quase todos os principais periódicos.
Isso aconteceu porque o «pusemos em pauta», o que não tem nenhuma dificuldade.
O enigma desta viagem está na questão de saber porque não quiseram colocar José Sócrates e os seus ministros em pauta na comunicação social brasileira.
Não acredito, francamente, na teoria da incompetência de Carlos Fino. Toda a gente sabe que é um jornalista muito experiente e que sabe fazer relações públicas.
Ele não tinha, no Brasil, nenhuma dificuldade em dar a esta viagem uma visibilidade que nos parece que ela merecia, para que se justificasse o investimento que nela foi feito.
Sendo assim, só outras obscuras razões poderão justificar os motivos que levaram a que a visita de Sócrates ao Brasil fosse, autenticamente, escondida aos brasileiros.
Será que se trata apenas de uma operação para o mercado interno?
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Notícias dos jornais portugueses:
«Diário de Notícias»

Mais uma corridinha privada tornada pública no 'Calçadão" do Rio Pedro Correia
Começa a tornar-se um hábito: José Sócrates transformou a prática de jogging em marketing político.
Tudo começou na primeira visita oficial ao estrangeiro como chefe do Governo, em Abril, na marginal de Luanda com uma corridinha matinal fotografada e filmada para aparecer com destaque nos telediários.
Ontem o primeiro-ministro repetiu a graça, desta vez em Copacabana. Na véspera à noite, depois de alguns dias de suspense, os seus assessores passaram palavra aos jornalistas que acompanham esta visita ao Brasil: "O primeiro-ministro vai correr amanhã."
E assim foi, a partir das 6 da manhã (hora local), no calçadão da Avenida Atlântica - era ainda noite quando Sócrates saiu de calção e sapatilhas do Hotel Pestana, onde estava hospedado, e se dirigiu em direcção à praia para a corrida "que nunca dispensa sempre que pode", segundo confidenciou um dos seus assessores ao DN.
Os temómetros marcavam já 22 graus neste quente dia de "Inverno" no Rio.
O sol, em forma de bola de fogo, não tardou a nascer na linha do horizonte.
Ao mobilizar as atenções jornalísticas para um acto estritamente privado, que nada teve a ver com o reforço das relações luso-brasileiras, Sócrates confirmou a importância que atribui à propaganda da sua própria imagem como corredor de fundo, um simbolismo que ultrapassa a circunstância em que as imagens são colhidas.
A verdade é que a estação pública acompanhou a corrida, que durou cerca de 45 minutos.
Os outros canais televisivos não quiseram ficar atrás.
No caso da TVI, pelo menos, está já garantido que as imagens serão igualmente aproveitadas para uma das revistas "sociais" pertencentes ao grupo Media Capital, que detém o canal de Queluz.
"Então não correram? São preguiçosos...", gracejou Sócrates para alguns dos jornalistas que assistiram ao final da prova, em que o primeiro-ministro foi acompanhado pelo seu chefe de gabinete, pelo assessor diplomático e por um dos assessores de imprensa, além de elementos da sua segurança. E lá regressou ao hotel, com a T-shirt suada, para um retemperador duche. Sob o signo da cultura
O jogging prolongado acabou por contribuir para adiar todo o programa de ontem no Rio, que a meio da tarde já levava mais de duas horas em relação ao previsto.
Só às 15.30 Sócrates conseguiu almoçar com agentes culturais cariocas num restaurante da cidade.
E a sua anunciada presença na inauguração de uma exposição de pintura de José Pedro Croft ficou sem efeito: ao fim da tarde havia que apanhar o avião de regresso a Lisboa, após uma visita à escola de samba da Mangueira.
Foi sob o signo da cultura que o primeiro-ministro cumpriu as suas últimas 24 horas no Brasil. Ainda em São Paulo, na tarde de quinta-feira, visitou o fabuloso Museu da Língua Portuguesa - único do seu género no mundo - instalado na estação ferroviária da Luz.
"Pensamos em português, sonhamos em português, a língua é a nossa pátria mais profunda", diz a actriz brasileira Fernanda Montenegro num texto da "Praça da Língua" neste museu inaugurado em Março e que já conta com cerca de 50 mil visitantes por mês.
Nessa mesma noite, já no Rio, Sócrates ofereceu uma recepção a cerca de dois mil membros da comunidade portuguesa na cidade, incentivando-os a serem "bons cidadãos brasileiros" para melhor poderem "honrar o nome de Portugal".
Expresso
Logo no dia em que chegou a Brasilia, Sócrates afirmou taxativamente que os imigrantes ilegais não só não eram um problema como «estavam fora da agenda bilateral» a discutir no Planalto.
A verdade é que, menos de 24 horas depois, o chefe do Governo Português anuncia, ao lado do Presidente Brasileiro, que o Conselho de Ministros aprovará uma nova lei da Imigração, que adopta o conceito Simplex, isto é, mais simples e menos burocrática para os cerca de 65 mil brasileiros que continuam em Portugal em situação irregular.
Antes do encontro entre os dois, Lula tinha avisado na imprensa brasileira que o assunto era «para discutir e resolver».
Na conferência de imprensa conjunta, ou melhor, nas declarações sem direito a perguntas (é assim que funciona a comunicação no Planalto), Lula usou da sua arrogância para dizer que «não descansará enquanto a comunidade brasileira não viver toda com dignidade».
Tudo isto acontece depois de José Sócrates ter dito a Lula, mas em privado, que a Lei da Imigração ia ser alterada. Tudo isto acontece em período pós eleitoral no Brasil. Tudo isto acontece no dia em que uma sondagem dá pela primeira vez como certa a vitória de Lula à primeira volta.
Dizem os jornalistas brasileiros que com esta atitude, Sócrates ajudou Lula a garantir quase o pleno dos votos dos brasileiros que vivem em Portugal.
Desta forma, a visita de quatro dias que deveria servir para relançar as relações económicas entre os dois países, acabou por ter como desfecho o apoio do primeiro-ministro português ao Presidente e recandidato do PT.
Sócrates no Brasil
Embraer adia decisão de construir aviões

Afinal tudo não passou de um processo de intenções.
O primeiro-ministro português sairá do Brasil sem qualquer garantia de que a Embraer, líder mundial no sector da aeronáutica e principal accionista das Ogma, venha a construir componentes de aviões em Portugal.
O gabinete de José Sócrates, antes da visita oficial, havia anunciado que o acordo com a Embraer seria "muito importante", um dos pontos altos da viagem - em paralelo com o protocolo que deverá ser hoje assinado entre a Galp e a Petrobras.
Ontem, contudo, durante a visita da comitiva oficial à sede da empresa em São João do Campo, perto de São Paulo, ficou a saber-se que se trata apenas de um compromisso com as Ogma para a realização de estudos no sentido de "projectar e fabricar estruturas de aeronaves".
Às intenções do Governo, a Embraer, terceira maior construtora de jactos particulares, respondeu "vamos ver".
Um responsável do staff do primeiro-ministro disse ao PÚBLICO que a decisão deverá ser tomada até ao final do ano. Mas o assessor de imprensa da empresa brasileira, Ricardo Santos, disse desconhecer qualquer prazo, reconhecendo apenas o objectivo "de avaliar" o investimento na construção de estruturas para aviões através das Ogma.
Questionado pelos jornalistas, Sócrates voltou a manifestar o desejo de que a Embraer possa vir a criar um "cluster aeronáutico" em Portugal, realçando que o acordo é "um primeiro passo nessa nova ambição".
O ministro da Economia, Manuel Pinho, falando ao PÚBLICO, reforçou a ideia, já expressa pelo primeiro-ministro, de que a entrada da Embraer nas Ogma fora uma "aposta estratégica" de Lisboa, no sentido de que as antigas oficinas de manutenção aeronáutica se tornassem numa "unidade mais importante".
Durante a visita ao Brasil - que hoje termina -, Sócrates tem repetido que um dos principais objectivos é levar mais investimento brasileiro para Portugal. O primeiro-ministro referiu essa intenção no Palácio do Planalto, após a reunião com Lula da Silva, e voltou a salientá-lo anteontem à noite, num jantar no consulado português em São Paulo.
Falando para dezenas de responsáveis de grandes empresas sediadas no Brasil e em Portugal, lembrou que, se já existem perto de 600 empresas portuguesas implantadas no Brasil, empregando perto de 110 mil trabalhadores, esse investimento não tem a mesma expressão em Portugal.
"Portugal é também um bom destino" para a "crescente internacionalização da economia brasileira", apelou.
Nessa ocasião, o primeiro-ministro inaugurou um centro virtual de distribuição de produtos portugueses, um investimento da Cisa Trading, que pretende aumentar as exportações nacionais para o Brasil.
Ainda no âmbito das diligências governativas no sector da economia, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, encontrou-se com o ministro da Defesa brasileiro para o persuadir a aumentar as linhas aéreas entre os dois países (actualmente 47 ligações semanais).
De acordo com Lino, o Congresso brasileiro ainda não ratificou o protocolo bilateral, já aprovado por Portugal em 2003.
Brasília parece mais preocupada em diversificar as rotas aéreas, tendo proposto uma ligação entre Lisboa e Brasília, que Portugal ainda está a estudar.
Durante a visita de hoje a uma plataforma da Petrobras, no Rio de Janeiro, a Galp e a petrolífera brasileira deverão concretizar os termos de uma nova cooperação, que prevê a prospecção de petróleo na costa alentejana.
Renovação de autorizações de residência
Nova Lei da Imigração já foi aprovada em Conselho Ministros
10.08.2006 - 13h56 Lusa

O Governo aprovou hoje a nova Lei da Imigração, que vai permitir às autarquias locais renovar as autorizações de residência aos estrangeiros que vivem em Portugal.
Em conferência de imprensa, o ministro da Administração Interna, António Costa, explicou que as autorizações de residência vão ser concedidas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas a sua renovação vai ser feita ao nível das autarquias, "com mera intervenção do SEF a título de parecer".Esta foi uma das principais alterações ao ante-projecto da Lei da Imigração apresentado em Maio pelo Governo e que esteve em consulta pública durante o mês de Junho.~
"O envolvimento das autarquias neste processo favorece o relacionamento e a aproximação entre os imigrantes" e as câmaras municipais, disse António Costa.
Sócrates salienta simplificação do processo
A nova legislação "irá tornar mais fácil a integração e será mais rápido e simples conseguir autorização de residência", afirmou ontem o chefe do Governo português, em declarações aos jornalistas após uma audiência com o Presidente brasileiro, Lula da Silva, no Palácio do Planalto, em Brasília.
Ainda de acordo com José Sócrates, o diploma aprovado hoje representa "um passo muito significativo para o reconhecimento da importância da comunidade" brasileira residente em Portugal.
O anteprojecto do Governo da nova Lei de Imigração, que esteve em discussão pública durante o mês de Junho, prevê a atribuição de um visto de residência temporário aos estrangeiros que pretendam procurar trabalho em Portugal, desde que possuam as qualificações adequadas à bolsa de emprego anualmente fixada, mediante parecer da Comissão Permanente da Concertação Social.
Este sistema, que o Executivo chama de "contingentação global de oportunidades de trabalho", exige que os estrangeiros entrem no país com uma promessa de contrato de trabalho ou com interesse na bolsa de emprego que será divulgada através da Internet pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional.
O anteprojecto estabelece igualmente um novo regime de vistos para a imigração temporária e a concessão de autorizações de residências a investigadores e quadros qualificados estrangeiros.
O Governo pretende também criar um único título para todos aqueles que residem legalmente em Portugal e estabelecer um regime mais adequado para combater o tráfico de seres humanos e a imigração ilegal.
As coimas às entidades patronais que contratem imigrantes ilegais vão ser também aumentadas e os casamentos por conveniência passam a constituir crime.
Ao abrigo da nova Lei da Imigração, os menores nascidos em Portugal que frequentem o primeiro ciclo do ensino básico vão poder obter uma autorização de residência, bem como os seus pais.
O Governo já garantiu que não vai haver um processo de legalização extraordinária, mas o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, José Magalhães, afirmou que a nova Lei da Imigração possui "vários mecanismos" que permitem a legalização da maior parte dos estrangeiros a trabalhar ilegalmente.
Correio da Manhã

Um consórcio formado pela Galp, pela Partex e pela brasileira Petrobras vai iniciar, em Setembro, os trabalhos preparatórios para a exploração de petróleo na Bacia de Peniche.

O acordo, ontem assinado no Rio de Janeiro, representa um investimento inicial de cinco milhões de euros.
“Esperamos resultados positivos e que o sucesso do Brasil se repita em Portugal”, afirmou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabriel, durante a cerimónia da assinatura do acordo.
Segundo José Sócrates, este acordo “é uma grande notícia para Portugal”, em especial “depois do concurso lançado em 2002 para prospecção de petróleo ter ficado deserto”.
Segundo apurou o CM, os brasileiros da Petrobras (que detém 50 por cento do consórcio) devem chegar a Peniche em Setembro, começando a analisar os estudos geológicos e geofísicos que já se encontram concluídos.
Aqueles documentos dão uma ideia da riqueza do subsolo marítimo naquela zona da costa portuguesa e deverão agora ser interpretados com a ajuda de programas informáticos específicos.
A análise e interpretação dos dados deverá demorar pelo menos um ano antes de se passar à fase seguinte que é a da primeira perfuração, o que não acontecerá antes de 2008. Só a montagem da plataforma, que terá tecnologia brasileira e portuguesa, poderá levar quase um ano.
Os trabalhos de prospecção serão realizados entre os paralelos de Sintra e Aveiro, em especial ao largo de Peniche, numa distância entre 60 a 100 quilómetros da costa. A exploração far-se-á numa zona onde a profundidade das águas é superior aos três mil metros.
“O consórcio estará num futuro não muito longínquo a produzir crude”, disse o presidente da comissão executiva da Galp, José Marques Gonçalves.
Menos optimista mostrou-se, contudo, o presidente da Partex Brasil, Álvaro Ribeiro, que admitiu ter um “optimismo moderado” nos resultados que o consórcio vai obter na prospecção na Bacia de Peniche.
A Galp ganhou a licitação da exploração de 54 poços de petróleo na costa brasileira, 29 dos quais têm responsabilidade operacional portuguesa.
PENICHE QUER ALTERNATIVAS
Já vi este filme há muitos anos, concretamente em Peniche: Quando os preços do petróleo estão em alta...”
O desabafo do presidente daquela autarquia não é de oposição à prospecção de petróleo, mas sim de “expectativa”. Só que a aposta de António José Correia vai para as energias alternativas. As que provêm das ondas de superfície e de fundo.
“Se houver petróleo tudo bem, mas que há mar nós sabemos e que há ondas também.”
Opinião idêntica tem o presidente da Associação para o Desenvolvimento de Peniche.
Rogério Cação considera que, dada a fragilidade do ecossistema local, se algum dia for dada luz verde para a exploração petrolífera, duas coisas acontecem: “Ou havia uma possibilidade económica muito grande, ou mais valia deixar as coisas como estão.”
DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA
Com o preço do petróleo a bater sucessivos recordes, a factura energética de Portugal tem vindo a agravar-se a cada mês que passa. Por isso, locais de prospecção que não eram interessantes com o barril a 30 dólares, começam a ser cobiçados quando o preço atinge os 76. É o que está a acontecer em Portugal.
A espanhola Repsol começou os ensaios de exploração na costa algarvia já em 2006, e agora chegou a vez da Galp e da Petrobras se lançarem em testes ao largo da costa de Peniche.
Também a região de Alcobaça tem merecido o interesse dos prospectores, com a empresa Mohave a desenvolver vários trabalhos de prospecção nos últimos anos, tendo encontrado gás.
Bruno Contreiras Mateus /Miguel Alexandre Ganhão, com O.R

A OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.) tem mais de 500 trabalhadores abaixo do nível mínimo de formação académica exigido pela Embraer aos seus cerca de 20 mil funcionários.

A revelação foi feita por Maurício Botelho, presidente deste gigante brasileiro na área da indústria aeronáutica. Sobre este facto, o Gabinete de Sócrates reconhece o problema e avança que a OGMA é uma das empresas que aderiram ao programa ‘Novas Oportunidades’ que o Governo lançou para a requalificação dos níveis académicos dos adultos activos.Sócrates aspira a que a indústria aeronáutica seja “um cluster” de Portugal como deixou expresso na sua intervenção nas instalações da empresa brasileira.
A cerimónia serviu para a celebração de um protocolo entre o Estado, a OGMA e a Embraer (que detém 65% da empresa portuguesa) e cujos termos são ainda tão vagos como “a Embraer compromete-se a avaliar futuras oportunidades de crescimento dos seus investimentos na indústria aeronáutica em Portugal”.
Dependendo obviamente a decisão dos brasileiros daquilo a que se comprometem as outras partes: à OGMA caberá “fazer migrar para a restante indústria aeronáutica nacional uma parcela do trabalho a realizar” e o Estado assume o compromisso de “estudar e enquadrar formas de apoio financeiro e de partilha de risco destas actividades com a Embraer e com a OGMA”.
O objectivo é a médio prazo colocar a OGMA no segmento da produções de componentes para os modelos da Embraer.
UM LEGACY PARA SÓCRATES
Enquanto fazia a apresentação dos vários aviões que a Embraer produz, Maurício Botelho pôs especial ênfase no modelo Legacy 600, um pequeno jacto com capacidade para 13 pessoas, grande autonomia, luxuoso e que se transforma num verdadeiro escritório aéreo.
Botelho olhou para Sócrates e provocou: “O avião ideal para primeiro-ministros.”
E este pequeno jacto foi um dos dois modelos que Sócrates visitou em seguida.
O preço ronda os 20 milhões de euros e a Embraer já vendeu 70 para 17 países.
CLIQUE NAS EXPORTAÇÕES
José Sócrates deu, na noite de anteontem, o ‘clique inaugural’ no Centro de Distribuição Electrónico de Produtos Portugueses no Brasil.
Na linha ‘simplex’ e choque tecnológico este serviço virtual (www.exportarptbr.com) promete reunir toda a informação relevante para as empresas portuguesas interessadas em operar no mercado brasileiro e ainda assegurar a distribuição em qualquer ponto do Brasil nas condições financeiramente mais favoráveis.
Este serviço resulta de uma parceria entre o ICEP e a Cisa Trading, um dos maiores importadores do Brasil.
O ICEP pretende lançar serviços semelhantes para Angola, China, Rússia e EUA, até final de 2007.
Na ocasião José Sócrates sublinhou que as exportações para o Brasil subiram 50%, no primeiro semestre deste ano.
BRISA CONCORRE NA AMÉRICA DO NORTE
A Brisa celebrou ontem, em S. Paulo, um acordo com a sua parceira brasileira CCR que visa a entrada no mercado da Europa do Norte.
José Sócrates apadrinhou o aperto de mão entre os dois presidentes das empresa, Vasco Mello (Brisa) e Renato Vale.
Para Vasco Mello “o objectivo comum é garantir o crescimento dos negócios através do desenvolvimento de uma estratégia de internacionalização”.
Quanto à importância desta parceria luso-brasileira que pretende concorrer à concessão de auto-estradas na América do Norte, Vasco Mello considera que “estes dois mercados” (EUA e Canadá) “representam as melhores oportunidades que este sector apresenta na actualidade”.
ESTADO APOIA INVESTIMENTO DA PT
O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, anunciou ontem que o Estado apoia o investimento de cerca de 400 milhões de euros que a Portugal Telecom (PT) irá fazer para a “reconversão tecnológica” da empresa brasileira Vivo.
“O Governo apoiará esse esforço da PT”, afirmou Mário Lino em declarações aos jornalistas em São Paulo, onde acompanha a visita oficial do primeiro-ministro ao Brasil.
O ministro frisou que o investimento da PT na Vivo é, agora, “o maior” português no Brasil.
“A Vivo ficaria desactualizada se não fizesse essa reconversão”, afirmou.
A PT, tal como a Telefónica espanhola, detém 35 por cento da empresa.
“A Vivo vai ficar valorizada com a reconversão”, sublinhou, considerando que “mesmo que vingue a OPA da Sonae sobre a PT”, esta operação “será sempre uma mais-valia”, já que é “um investimento relativamente pequeno face aos benefícios”.
Mário Lino lembrou que a desblindagem dos estatutos da PT decorrem da OPA.
Visão
Aviões, auto-estradas e petróleo

Com José Sócrates como padrinho, Portugal e Brasil assinaram acordos importantes em áreas fundamentais, no terceiro dia da visita oficial do primeiro-ministro

Sónia Sapage, no Rio de Janeiro 11 Ago. 2006

Num dia em que a Europa acordou com receio de novos ataques terroristas, desta vez em aviões londrinos, o primeiro-ministro português foi obrigado a fazer três viagens aéreas.
Mas as ameaças terroristas não chegaram ao Brasil, onde Sócrates cumpria o penúltimo dia da sua visita oficial.
Foi para visitar a fábrica de aviões da Embraer (o terceiro maior fabricante de aviões do mundo, parceira das OGMA), que José Sócrates fez o primeiro vôo. Em pouco mais de 15 minutos, o «premiê» português, como lhe chamam os brasileiros, cumpriu o percurso entre S.Paulo e S. José dos Campos, a cidade anfitriã da Embraer.
Aí, Sócrates assistiu à assinatura de um protocolo que, em última análise, ditará o reforço da aproximação entre as OGMA e a Embraer e que pretende contribuir para a construção de um cluster de empresas aeronáuticas em Portugal.
«Queremos que os campeões brasileiros estejam também em Portugal», assumiu o primeiro-ministro.
De regresso a S. Paulo, outro acordo foi assinado sob o olhar atento de José Sócrates. A portuguesa Brisa e a brasileira CCR (parceiras no negócio das auto-estradas) comprometeram-se a desenvolver, em conjunto, a prospecção e eventual exploração subsequente dos mercados dos EUA e do Canadá. Brisa e CCR pretendem concorrer juntas à grande operação de renovação das auto-estradas norte-americanas, que foram construídas depois da segunda guerra mundial, sem nunca mais terem sofrido obras.
Este acordo foi assinado na Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (FIESP), ao almoço de ontem, dia 10, durante o qual o primeiro-ministro voltou a apelar à entrada do investimento brasileiro no nosso País.
«Encontrarão em Portugal um companheiro de estrada para transformar a vossa economia numa economia mais global», disse Sócrates, sublinhando que Portugal é um «país seguro, confiável e com uma economia sólida».
Um terceiro convénio, desta feita na área petrolífera, deverá ser assinado ao fim da manhã de hoje, dia 11, antes de José Sócrates visitar a Cidade do Samba, mais concretamente a escola da Mangueira.
Esse acordo envolve a Galp e a Petrobras (sua congénere brasileira), duas empresas que já estão habituadas a trabalhar juntas nas plataformas de extracção de petróleo no Brasil. Marques Gonçalves, presidente da empresa portuguesa, explicou o espírito do protocolo aos jornalistas que acompanham a comitiva.
«É um acordo estritamente técnico e de cooperação que se destina a avaliar as oportunidades de prospecção de petróleo nas águas profundas da costa ocidental de Portugal, entre Aveiro e Sintra» - mais precisamente ao largo de Peniche.
O investimento neste projecto ronda os cinco milhões de euros.
Para demonstrar o seu aval ao esforço conjunto que as duas empresas vão fazer, José Sócrates visitará esta manhã uma das plataformas exploradas ao largo do Rio de Janeiro pela Petrobras. Só depois se dará a assinatura do documento que formaliza a importante parceria.
Mais uma vez, Sócrates desloca-se à plataforma a voar (mas num helicóptero).

quinta-feira, agosto 10, 2006

Desilusão...

Estou em S. Paulo e acabo de chegar do jantar oferecido ao Primeiro Ministro José Sócrates pela Câmara de Comércio Portuguesa de S. Paulo.
Estávamos à espera que fosse anunciada nesta viagem a abertura de um centro de distribuição de produtos portugueseses no Brasil.
O que foi anunciado foi um centro virtual - ou seja: um site na internet.
Cheguei a casa e tentei ver o que continha...
Procurei registar-me e diz que só é acessivel a operadores de Portugal.
Uma desilusão.
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domingo, agosto 06, 2006

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