sábado, agosto 12, 2006

O enigma da visita de Sócrates ao Brasil

Pouco ou nada se sabe, com um mínimo de rigor e detalhe, sobre a visita de José Sócrates ao Brasil.
Sócrates fez-se acompanhar por quatro ministros (Negócios Estrangeiros, Obras Públicas, Economia e Cultura) e por umas dezenas de empresários.
Sabia-se que era intenção da diplomacia portuguesa que a viagem fosse rodeada de um certo segredo e que nada com impacto aparecesse nos jornais até que ela tivesse o programa completo. Por isso se esperava que, a final, houvesse algo que permitisse, pelo seu impacto, rentabilizar o silêncio.
A montanha pariu um rato...
Não é normal este tipo de procedimento, que justifica o título do artigo.
Nunca se viu uma visita de um governante português ao Brasil ser tratada como esta pela imprensa brasileira, o que só se justifica por um interesse - oculto mas objectivo - de que esta fosse uma viagem para o consumo interno português.
O programa era do completo desconhecimento da imprensa brasileira, para o que contribuiu a atitude do próprio gabinete do primeiro ministro português, em cujo site a visita não estava agendada, poucos dias antes do seu início.
Sócrates não deu entrevistas a nenhum grande jornal brasileiro nem a nenhuma estação de televisão e a sua viagem foi completamente ignorada pelos principais jornais do Brasil .
Estive presente no jantar organizado pela Câmara de Comércio Portuguesa de S. Paulo, nas instalações do consulado português nesta cidade e, ainda, na recepção oferecida em nome do primeiro ministro do Palácio de S. Clemente, no Rio de Janeiro.
Em ambos os eventos, José Sócrates deu especial importância aos investimentos portugueses no Brasil e apelou a um movimento inverso, no sentido do investimento dos brasileiros em Portugal.
Se outras razões não houvesse - e há razões clássicas... - só essa justificava que não se tivesse adoptado uma estratégia de silenciamento relativamente a esta visita de José Sócrates ao Brasil.
A pergunta que, afinal, se tem que fazer é esta: como pode o governo português pretender que os empresários brasileiros invistam em Portugal, ocultando-lhes o mais possivel, mensagens sobre a realidade portuguesa e sobre essa vontade do governo?
O facto é tanto mais estranho quanto é certo que a representação portuguesa em Brasília conta com um adido de imprensa que é um jornalista respeitado e que não chegou ao país há dois dias.
Normal seria que o serviço de imprensa da embaixada tivesse criado condições para que o primeiro ministro e os ministros que se deslocaram ao Brasil fossem entrevistados por órgãos da comunicação social brasileira e que deles houvesse noticia ou mensagem antes da própria viagem.
Normal seria que, houvesse sido feito um programa de comunicação para cada um dos membros do governo que se deslocou ao Brasil, relativo ao tempo da sua presença no Brasil.
Normal seria que se houvesse previamente providenciado no sentido de criar condições para que, ao menos o primeiro ministro, aparecesse dos jornais televisivos em horário nobre e desse, pelo menos, uma entrevista a uma cadeia de televisão nacional.
Isso não tinha nenhuma dificuldade e não foi feito deliberadamente por alguma razão desconhecida.
Ainda recentemente tivemos a oportunidade de verificar isso, quando da campanha eleitoral para as presidenciais, com a viagem de Mário Soares ao Brasil, em que tive o gosto de participar.
Para além de uma conferência de imprensa, em que estiveram representantes de todos os grandes jornais brasileiros, Soares (que era um mero candidato presidencial) passou em horário nobre em duas estações de televisão e foi noticia de primeira página em quase todos os principais periódicos.
Isso aconteceu porque o «pusemos em pauta», o que não tem nenhuma dificuldade.
O enigma desta viagem está na questão de saber porque não quiseram colocar José Sócrates e os seus ministros em pauta na comunicação social brasileira.
Não acredito, francamente, na teoria da incompetência de Carlos Fino. Toda a gente sabe que é um jornalista muito experiente e que sabe fazer relações públicas.
Ele não tinha, no Brasil, nenhuma dificuldade em dar a esta viagem uma visibilidade que nos parece que ela merecia, para que se justificasse o investimento que nela foi feito.
Sendo assim, só outras obscuras razões poderão justificar os motivos que levaram a que a visita de Sócrates ao Brasil fosse, autenticamente, escondida aos brasileiros.
Será que se trata apenas de uma operação para o mercado interno?
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Notícias dos jornais portugueses:
«Diário de Notícias»

Mais uma corridinha privada tornada pública no 'Calçadão" do Rio Pedro Correia
Começa a tornar-se um hábito: José Sócrates transformou a prática de jogging em marketing político.
Tudo começou na primeira visita oficial ao estrangeiro como chefe do Governo, em Abril, na marginal de Luanda com uma corridinha matinal fotografada e filmada para aparecer com destaque nos telediários.
Ontem o primeiro-ministro repetiu a graça, desta vez em Copacabana. Na véspera à noite, depois de alguns dias de suspense, os seus assessores passaram palavra aos jornalistas que acompanham esta visita ao Brasil: "O primeiro-ministro vai correr amanhã."
E assim foi, a partir das 6 da manhã (hora local), no calçadão da Avenida Atlântica - era ainda noite quando Sócrates saiu de calção e sapatilhas do Hotel Pestana, onde estava hospedado, e se dirigiu em direcção à praia para a corrida "que nunca dispensa sempre que pode", segundo confidenciou um dos seus assessores ao DN.
Os temómetros marcavam já 22 graus neste quente dia de "Inverno" no Rio.
O sol, em forma de bola de fogo, não tardou a nascer na linha do horizonte.
Ao mobilizar as atenções jornalísticas para um acto estritamente privado, que nada teve a ver com o reforço das relações luso-brasileiras, Sócrates confirmou a importância que atribui à propaganda da sua própria imagem como corredor de fundo, um simbolismo que ultrapassa a circunstância em que as imagens são colhidas.
A verdade é que a estação pública acompanhou a corrida, que durou cerca de 45 minutos.
Os outros canais televisivos não quiseram ficar atrás.
No caso da TVI, pelo menos, está já garantido que as imagens serão igualmente aproveitadas para uma das revistas "sociais" pertencentes ao grupo Media Capital, que detém o canal de Queluz.
"Então não correram? São preguiçosos...", gracejou Sócrates para alguns dos jornalistas que assistiram ao final da prova, em que o primeiro-ministro foi acompanhado pelo seu chefe de gabinete, pelo assessor diplomático e por um dos assessores de imprensa, além de elementos da sua segurança. E lá regressou ao hotel, com a T-shirt suada, para um retemperador duche. Sob o signo da cultura
O jogging prolongado acabou por contribuir para adiar todo o programa de ontem no Rio, que a meio da tarde já levava mais de duas horas em relação ao previsto.
Só às 15.30 Sócrates conseguiu almoçar com agentes culturais cariocas num restaurante da cidade.
E a sua anunciada presença na inauguração de uma exposição de pintura de José Pedro Croft ficou sem efeito: ao fim da tarde havia que apanhar o avião de regresso a Lisboa, após uma visita à escola de samba da Mangueira.
Foi sob o signo da cultura que o primeiro-ministro cumpriu as suas últimas 24 horas no Brasil. Ainda em São Paulo, na tarde de quinta-feira, visitou o fabuloso Museu da Língua Portuguesa - único do seu género no mundo - instalado na estação ferroviária da Luz.
"Pensamos em português, sonhamos em português, a língua é a nossa pátria mais profunda", diz a actriz brasileira Fernanda Montenegro num texto da "Praça da Língua" neste museu inaugurado em Março e que já conta com cerca de 50 mil visitantes por mês.
Nessa mesma noite, já no Rio, Sócrates ofereceu uma recepção a cerca de dois mil membros da comunidade portuguesa na cidade, incentivando-os a serem "bons cidadãos brasileiros" para melhor poderem "honrar o nome de Portugal".
Expresso
Logo no dia em que chegou a Brasilia, Sócrates afirmou taxativamente que os imigrantes ilegais não só não eram um problema como «estavam fora da agenda bilateral» a discutir no Planalto.
A verdade é que, menos de 24 horas depois, o chefe do Governo Português anuncia, ao lado do Presidente Brasileiro, que o Conselho de Ministros aprovará uma nova lei da Imigração, que adopta o conceito Simplex, isto é, mais simples e menos burocrática para os cerca de 65 mil brasileiros que continuam em Portugal em situação irregular.
Antes do encontro entre os dois, Lula tinha avisado na imprensa brasileira que o assunto era «para discutir e resolver».
Na conferência de imprensa conjunta, ou melhor, nas declarações sem direito a perguntas (é assim que funciona a comunicação no Planalto), Lula usou da sua arrogância para dizer que «não descansará enquanto a comunidade brasileira não viver toda com dignidade».
Tudo isto acontece depois de José Sócrates ter dito a Lula, mas em privado, que a Lei da Imigração ia ser alterada. Tudo isto acontece em período pós eleitoral no Brasil. Tudo isto acontece no dia em que uma sondagem dá pela primeira vez como certa a vitória de Lula à primeira volta.
Dizem os jornalistas brasileiros que com esta atitude, Sócrates ajudou Lula a garantir quase o pleno dos votos dos brasileiros que vivem em Portugal.
Desta forma, a visita de quatro dias que deveria servir para relançar as relações económicas entre os dois países, acabou por ter como desfecho o apoio do primeiro-ministro português ao Presidente e recandidato do PT.
Sócrates no Brasil
Embraer adia decisão de construir aviões

Afinal tudo não passou de um processo de intenções.
O primeiro-ministro português sairá do Brasil sem qualquer garantia de que a Embraer, líder mundial no sector da aeronáutica e principal accionista das Ogma, venha a construir componentes de aviões em Portugal.
O gabinete de José Sócrates, antes da visita oficial, havia anunciado que o acordo com a Embraer seria "muito importante", um dos pontos altos da viagem - em paralelo com o protocolo que deverá ser hoje assinado entre a Galp e a Petrobras.
Ontem, contudo, durante a visita da comitiva oficial à sede da empresa em São João do Campo, perto de São Paulo, ficou a saber-se que se trata apenas de um compromisso com as Ogma para a realização de estudos no sentido de "projectar e fabricar estruturas de aeronaves".
Às intenções do Governo, a Embraer, terceira maior construtora de jactos particulares, respondeu "vamos ver".
Um responsável do staff do primeiro-ministro disse ao PÚBLICO que a decisão deverá ser tomada até ao final do ano. Mas o assessor de imprensa da empresa brasileira, Ricardo Santos, disse desconhecer qualquer prazo, reconhecendo apenas o objectivo "de avaliar" o investimento na construção de estruturas para aviões através das Ogma.
Questionado pelos jornalistas, Sócrates voltou a manifestar o desejo de que a Embraer possa vir a criar um "cluster aeronáutico" em Portugal, realçando que o acordo é "um primeiro passo nessa nova ambição".
O ministro da Economia, Manuel Pinho, falando ao PÚBLICO, reforçou a ideia, já expressa pelo primeiro-ministro, de que a entrada da Embraer nas Ogma fora uma "aposta estratégica" de Lisboa, no sentido de que as antigas oficinas de manutenção aeronáutica se tornassem numa "unidade mais importante".
Durante a visita ao Brasil - que hoje termina -, Sócrates tem repetido que um dos principais objectivos é levar mais investimento brasileiro para Portugal. O primeiro-ministro referiu essa intenção no Palácio do Planalto, após a reunião com Lula da Silva, e voltou a salientá-lo anteontem à noite, num jantar no consulado português em São Paulo.
Falando para dezenas de responsáveis de grandes empresas sediadas no Brasil e em Portugal, lembrou que, se já existem perto de 600 empresas portuguesas implantadas no Brasil, empregando perto de 110 mil trabalhadores, esse investimento não tem a mesma expressão em Portugal.
"Portugal é também um bom destino" para a "crescente internacionalização da economia brasileira", apelou.
Nessa ocasião, o primeiro-ministro inaugurou um centro virtual de distribuição de produtos portugueses, um investimento da Cisa Trading, que pretende aumentar as exportações nacionais para o Brasil.
Ainda no âmbito das diligências governativas no sector da economia, o ministro das Obras Públicas, Mário Lino, encontrou-se com o ministro da Defesa brasileiro para o persuadir a aumentar as linhas aéreas entre os dois países (actualmente 47 ligações semanais).
De acordo com Lino, o Congresso brasileiro ainda não ratificou o protocolo bilateral, já aprovado por Portugal em 2003.
Brasília parece mais preocupada em diversificar as rotas aéreas, tendo proposto uma ligação entre Lisboa e Brasília, que Portugal ainda está a estudar.
Durante a visita de hoje a uma plataforma da Petrobras, no Rio de Janeiro, a Galp e a petrolífera brasileira deverão concretizar os termos de uma nova cooperação, que prevê a prospecção de petróleo na costa alentejana.
Renovação de autorizações de residência
Nova Lei da Imigração já foi aprovada em Conselho Ministros
10.08.2006 - 13h56 Lusa

O Governo aprovou hoje a nova Lei da Imigração, que vai permitir às autarquias locais renovar as autorizações de residência aos estrangeiros que vivem em Portugal.
Em conferência de imprensa, o ministro da Administração Interna, António Costa, explicou que as autorizações de residência vão ser concedidas pelo Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), mas a sua renovação vai ser feita ao nível das autarquias, "com mera intervenção do SEF a título de parecer".Esta foi uma das principais alterações ao ante-projecto da Lei da Imigração apresentado em Maio pelo Governo e que esteve em consulta pública durante o mês de Junho.~
"O envolvimento das autarquias neste processo favorece o relacionamento e a aproximação entre os imigrantes" e as câmaras municipais, disse António Costa.
Sócrates salienta simplificação do processo
A nova legislação "irá tornar mais fácil a integração e será mais rápido e simples conseguir autorização de residência", afirmou ontem o chefe do Governo português, em declarações aos jornalistas após uma audiência com o Presidente brasileiro, Lula da Silva, no Palácio do Planalto, em Brasília.
Ainda de acordo com José Sócrates, o diploma aprovado hoje representa "um passo muito significativo para o reconhecimento da importância da comunidade" brasileira residente em Portugal.
O anteprojecto do Governo da nova Lei de Imigração, que esteve em discussão pública durante o mês de Junho, prevê a atribuição de um visto de residência temporário aos estrangeiros que pretendam procurar trabalho em Portugal, desde que possuam as qualificações adequadas à bolsa de emprego anualmente fixada, mediante parecer da Comissão Permanente da Concertação Social.
Este sistema, que o Executivo chama de "contingentação global de oportunidades de trabalho", exige que os estrangeiros entrem no país com uma promessa de contrato de trabalho ou com interesse na bolsa de emprego que será divulgada através da Internet pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional.
O anteprojecto estabelece igualmente um novo regime de vistos para a imigração temporária e a concessão de autorizações de residências a investigadores e quadros qualificados estrangeiros.
O Governo pretende também criar um único título para todos aqueles que residem legalmente em Portugal e estabelecer um regime mais adequado para combater o tráfico de seres humanos e a imigração ilegal.
As coimas às entidades patronais que contratem imigrantes ilegais vão ser também aumentadas e os casamentos por conveniência passam a constituir crime.
Ao abrigo da nova Lei da Imigração, os menores nascidos em Portugal que frequentem o primeiro ciclo do ensino básico vão poder obter uma autorização de residência, bem como os seus pais.
O Governo já garantiu que não vai haver um processo de legalização extraordinária, mas o secretário de Estado Adjunto e da Administração Interna, José Magalhães, afirmou que a nova Lei da Imigração possui "vários mecanismos" que permitem a legalização da maior parte dos estrangeiros a trabalhar ilegalmente.
Correio da Manhã

Um consórcio formado pela Galp, pela Partex e pela brasileira Petrobras vai iniciar, em Setembro, os trabalhos preparatórios para a exploração de petróleo na Bacia de Peniche.

O acordo, ontem assinado no Rio de Janeiro, representa um investimento inicial de cinco milhões de euros.
“Esperamos resultados positivos e que o sucesso do Brasil se repita em Portugal”, afirmou o presidente da Petrobras, José Sérgio Gabriel, durante a cerimónia da assinatura do acordo.
Segundo José Sócrates, este acordo “é uma grande notícia para Portugal”, em especial “depois do concurso lançado em 2002 para prospecção de petróleo ter ficado deserto”.
Segundo apurou o CM, os brasileiros da Petrobras (que detém 50 por cento do consórcio) devem chegar a Peniche em Setembro, começando a analisar os estudos geológicos e geofísicos que já se encontram concluídos.
Aqueles documentos dão uma ideia da riqueza do subsolo marítimo naquela zona da costa portuguesa e deverão agora ser interpretados com a ajuda de programas informáticos específicos.
A análise e interpretação dos dados deverá demorar pelo menos um ano antes de se passar à fase seguinte que é a da primeira perfuração, o que não acontecerá antes de 2008. Só a montagem da plataforma, que terá tecnologia brasileira e portuguesa, poderá levar quase um ano.
Os trabalhos de prospecção serão realizados entre os paralelos de Sintra e Aveiro, em especial ao largo de Peniche, numa distância entre 60 a 100 quilómetros da costa. A exploração far-se-á numa zona onde a profundidade das águas é superior aos três mil metros.
“O consórcio estará num futuro não muito longínquo a produzir crude”, disse o presidente da comissão executiva da Galp, José Marques Gonçalves.
Menos optimista mostrou-se, contudo, o presidente da Partex Brasil, Álvaro Ribeiro, que admitiu ter um “optimismo moderado” nos resultados que o consórcio vai obter na prospecção na Bacia de Peniche.
A Galp ganhou a licitação da exploração de 54 poços de petróleo na costa brasileira, 29 dos quais têm responsabilidade operacional portuguesa.
PENICHE QUER ALTERNATIVAS
Já vi este filme há muitos anos, concretamente em Peniche: Quando os preços do petróleo estão em alta...”
O desabafo do presidente daquela autarquia não é de oposição à prospecção de petróleo, mas sim de “expectativa”. Só que a aposta de António José Correia vai para as energias alternativas. As que provêm das ondas de superfície e de fundo.
“Se houver petróleo tudo bem, mas que há mar nós sabemos e que há ondas também.”
Opinião idêntica tem o presidente da Associação para o Desenvolvimento de Peniche.
Rogério Cação considera que, dada a fragilidade do ecossistema local, se algum dia for dada luz verde para a exploração petrolífera, duas coisas acontecem: “Ou havia uma possibilidade económica muito grande, ou mais valia deixar as coisas como estão.”
DEPENDÊNCIA ENERGÉTICA
Com o preço do petróleo a bater sucessivos recordes, a factura energética de Portugal tem vindo a agravar-se a cada mês que passa. Por isso, locais de prospecção que não eram interessantes com o barril a 30 dólares, começam a ser cobiçados quando o preço atinge os 76. É o que está a acontecer em Portugal.
A espanhola Repsol começou os ensaios de exploração na costa algarvia já em 2006, e agora chegou a vez da Galp e da Petrobras se lançarem em testes ao largo da costa de Peniche.
Também a região de Alcobaça tem merecido o interesse dos prospectores, com a empresa Mohave a desenvolver vários trabalhos de prospecção nos últimos anos, tendo encontrado gás.
Bruno Contreiras Mateus /Miguel Alexandre Ganhão, com O.R

A OGMA (Indústria Aeronáutica de Portugal, S.A.) tem mais de 500 trabalhadores abaixo do nível mínimo de formação académica exigido pela Embraer aos seus cerca de 20 mil funcionários.

A revelação foi feita por Maurício Botelho, presidente deste gigante brasileiro na área da indústria aeronáutica. Sobre este facto, o Gabinete de Sócrates reconhece o problema e avança que a OGMA é uma das empresas que aderiram ao programa ‘Novas Oportunidades’ que o Governo lançou para a requalificação dos níveis académicos dos adultos activos.Sócrates aspira a que a indústria aeronáutica seja “um cluster” de Portugal como deixou expresso na sua intervenção nas instalações da empresa brasileira.
A cerimónia serviu para a celebração de um protocolo entre o Estado, a OGMA e a Embraer (que detém 65% da empresa portuguesa) e cujos termos são ainda tão vagos como “a Embraer compromete-se a avaliar futuras oportunidades de crescimento dos seus investimentos na indústria aeronáutica em Portugal”.
Dependendo obviamente a decisão dos brasileiros daquilo a que se comprometem as outras partes: à OGMA caberá “fazer migrar para a restante indústria aeronáutica nacional uma parcela do trabalho a realizar” e o Estado assume o compromisso de “estudar e enquadrar formas de apoio financeiro e de partilha de risco destas actividades com a Embraer e com a OGMA”.
O objectivo é a médio prazo colocar a OGMA no segmento da produções de componentes para os modelos da Embraer.
UM LEGACY PARA SÓCRATES
Enquanto fazia a apresentação dos vários aviões que a Embraer produz, Maurício Botelho pôs especial ênfase no modelo Legacy 600, um pequeno jacto com capacidade para 13 pessoas, grande autonomia, luxuoso e que se transforma num verdadeiro escritório aéreo.
Botelho olhou para Sócrates e provocou: “O avião ideal para primeiro-ministros.”
E este pequeno jacto foi um dos dois modelos que Sócrates visitou em seguida.
O preço ronda os 20 milhões de euros e a Embraer já vendeu 70 para 17 países.
CLIQUE NAS EXPORTAÇÕES
José Sócrates deu, na noite de anteontem, o ‘clique inaugural’ no Centro de Distribuição Electrónico de Produtos Portugueses no Brasil.
Na linha ‘simplex’ e choque tecnológico este serviço virtual (www.exportarptbr.com) promete reunir toda a informação relevante para as empresas portuguesas interessadas em operar no mercado brasileiro e ainda assegurar a distribuição em qualquer ponto do Brasil nas condições financeiramente mais favoráveis.
Este serviço resulta de uma parceria entre o ICEP e a Cisa Trading, um dos maiores importadores do Brasil.
O ICEP pretende lançar serviços semelhantes para Angola, China, Rússia e EUA, até final de 2007.
Na ocasião José Sócrates sublinhou que as exportações para o Brasil subiram 50%, no primeiro semestre deste ano.
BRISA CONCORRE NA AMÉRICA DO NORTE
A Brisa celebrou ontem, em S. Paulo, um acordo com a sua parceira brasileira CCR que visa a entrada no mercado da Europa do Norte.
José Sócrates apadrinhou o aperto de mão entre os dois presidentes das empresa, Vasco Mello (Brisa) e Renato Vale.
Para Vasco Mello “o objectivo comum é garantir o crescimento dos negócios através do desenvolvimento de uma estratégia de internacionalização”.
Quanto à importância desta parceria luso-brasileira que pretende concorrer à concessão de auto-estradas na América do Norte, Vasco Mello considera que “estes dois mercados” (EUA e Canadá) “representam as melhores oportunidades que este sector apresenta na actualidade”.
ESTADO APOIA INVESTIMENTO DA PT
O ministro das Obras Públicas, Mário Lino, anunciou ontem que o Estado apoia o investimento de cerca de 400 milhões de euros que a Portugal Telecom (PT) irá fazer para a “reconversão tecnológica” da empresa brasileira Vivo.
“O Governo apoiará esse esforço da PT”, afirmou Mário Lino em declarações aos jornalistas em São Paulo, onde acompanha a visita oficial do primeiro-ministro ao Brasil.
O ministro frisou que o investimento da PT na Vivo é, agora, “o maior” português no Brasil.
“A Vivo ficaria desactualizada se não fizesse essa reconversão”, afirmou.
A PT, tal como a Telefónica espanhola, detém 35 por cento da empresa.
“A Vivo vai ficar valorizada com a reconversão”, sublinhou, considerando que “mesmo que vingue a OPA da Sonae sobre a PT”, esta operação “será sempre uma mais-valia”, já que é “um investimento relativamente pequeno face aos benefícios”.
Mário Lino lembrou que a desblindagem dos estatutos da PT decorrem da OPA.
Visão
Aviões, auto-estradas e petróleo

Com José Sócrates como padrinho, Portugal e Brasil assinaram acordos importantes em áreas fundamentais, no terceiro dia da visita oficial do primeiro-ministro

Sónia Sapage, no Rio de Janeiro 11 Ago. 2006

Num dia em que a Europa acordou com receio de novos ataques terroristas, desta vez em aviões londrinos, o primeiro-ministro português foi obrigado a fazer três viagens aéreas.
Mas as ameaças terroristas não chegaram ao Brasil, onde Sócrates cumpria o penúltimo dia da sua visita oficial.
Foi para visitar a fábrica de aviões da Embraer (o terceiro maior fabricante de aviões do mundo, parceira das OGMA), que José Sócrates fez o primeiro vôo. Em pouco mais de 15 minutos, o «premiê» português, como lhe chamam os brasileiros, cumpriu o percurso entre S.Paulo e S. José dos Campos, a cidade anfitriã da Embraer.
Aí, Sócrates assistiu à assinatura de um protocolo que, em última análise, ditará o reforço da aproximação entre as OGMA e a Embraer e que pretende contribuir para a construção de um cluster de empresas aeronáuticas em Portugal.
«Queremos que os campeões brasileiros estejam também em Portugal», assumiu o primeiro-ministro.
De regresso a S. Paulo, outro acordo foi assinado sob o olhar atento de José Sócrates. A portuguesa Brisa e a brasileira CCR (parceiras no negócio das auto-estradas) comprometeram-se a desenvolver, em conjunto, a prospecção e eventual exploração subsequente dos mercados dos EUA e do Canadá. Brisa e CCR pretendem concorrer juntas à grande operação de renovação das auto-estradas norte-americanas, que foram construídas depois da segunda guerra mundial, sem nunca mais terem sofrido obras.
Este acordo foi assinado na Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (FIESP), ao almoço de ontem, dia 10, durante o qual o primeiro-ministro voltou a apelar à entrada do investimento brasileiro no nosso País.
«Encontrarão em Portugal um companheiro de estrada para transformar a vossa economia numa economia mais global», disse Sócrates, sublinhando que Portugal é um «país seguro, confiável e com uma economia sólida».
Um terceiro convénio, desta feita na área petrolífera, deverá ser assinado ao fim da manhã de hoje, dia 11, antes de José Sócrates visitar a Cidade do Samba, mais concretamente a escola da Mangueira.
Esse acordo envolve a Galp e a Petrobras (sua congénere brasileira), duas empresas que já estão habituadas a trabalhar juntas nas plataformas de extracção de petróleo no Brasil. Marques Gonçalves, presidente da empresa portuguesa, explicou o espírito do protocolo aos jornalistas que acompanham a comitiva.
«É um acordo estritamente técnico e de cooperação que se destina a avaliar as oportunidades de prospecção de petróleo nas águas profundas da costa ocidental de Portugal, entre Aveiro e Sintra» - mais precisamente ao largo de Peniche.
O investimento neste projecto ronda os cinco milhões de euros.
Para demonstrar o seu aval ao esforço conjunto que as duas empresas vão fazer, José Sócrates visitará esta manhã uma das plataformas exploradas ao largo do Rio de Janeiro pela Petrobras. Só depois se dará a assinatura do documento que formaliza a importante parceria.
Mais uma vez, Sócrates desloca-se à plataforma a voar (mas num helicóptero).