Tinha jurado a pés juntos que não voltaria a intervir no forum PortugalClub, do Casimiro Rodrigues.
Depois dos insultos a Mário Soares ali publicados, não resisti e enviei uma mensagem que, obviamente, o «director-presidente» não publicou.
Aquilo é dele, é ele quem paga ao provedor de Internet e, na lógica da propriedade privada, tem todo o direito de fazer o que quer, a começar por censurar os textos e por só publicar o que bem entende.
Nessa matéria, já estamos falados há muito tempo.
Esse é um dos aspectos em que o Casimiro é sério: só sai o que ele entende que deve sair.
A meu ver, foi infeliz, ao publicar um texto do blog http://arraiamiuda.blogspot.com/ que compara Mário Soares a Milosevic, acusando-o se d ser responsável por milhares de mortos.
Casimiro tem (agora) um ódio de morte a Mário Soares, não se sabe bem porquê, talvez porque é retornado da África e não conseguiu compreender o processo de descolonização.
Mas, em contrapartida, é militante do Partido Socialista - cujo programa seguramente não conhece - e apoia Manuel Alegre que foi um dos mais valorosos combatentes do colonialismo português.
Apesar de o homem adorar o ditador Salazar, a quem tece as mais ardentes loas, e de ter saudades do Portugalinho miserável que o obrigou a partir, almocei há uns tempos com ele em Lisboa, com o respeito que sempre voto às pessoas que, por causa da política obscurantista da ditadura, nunca tiveram oportunidade de atingir um nível médio de escolaridade mas têm a esperteza e a ousadia de fazer coisas notáveis.
Este Casimiro - tiro-lhe o chapéu - conseguiu montar um grupo de discussão frequentado por toda a gente que tem alguma intervenção nas comunidades portuguesas da diáspora. E toda a gente lhe vai ao beija mão e não o contraria, porque se contraria ele tem a tesoura e censura.
Tipo esperto, muito engraçado, atrevido...
É um daqueles protótipos em vias de extinção e por isso é bom que ele continue, para que possa ser visto, lido, observado pela gente que pensa a sociedade.
Não tenho dúvidas em afirmar que o trabalho do Casimiro e a deferência que lhe é dada pelos confrades poderia ser um excelente tema para um doutoramento numa universidade, porque é um caso, julgo que único nas comunidades portuguesas.
Por uma questão de bom senso e de bom gosto, eu não volto a escrever para aquele forum.
Mas vou continuar a lê-lo e a comentá-lo quando for necessário.
Aqui fica a última mensagem que lhe enviei e que, obviamente, não podia ser publicada:
Tinha prometido a mim próprio não voltar a participar no Portugal Club, por ter divergências relativamente à condução que dele faz o Casimiro, que ultrapassam todos os limites do conciliável.
Não significa isso que eu seja inimigo do Casimiro ou que tenha por ele menos consideração.
Bem pelo contrário: acho que é um homem arrojado, com todo o mérito que isso tem.
Respeito as suas posições e o exercício que faz das suas liberdade, de acordo com as suas opções. Mas discordo profundamente tanto das posições como da maneira que ele escolheu para exercer a sua liberdade de escrita.
A questão essencial que nos divide está no seguinte: a meu ver a liberdade de imprensa não pode exercer-se na base do insulto gratuito e do atentado permanente contra o direito à honra dos demais cidadãos.
É nisso que reside um dos pilares da Democracia.
Antes de tudo, eu não posso concordar que o director deste espaço apadrinhe o insulto gratuito a quem quer que seja. Foi Mário Soares, como poderia ser Cavaco Silva ou Jerónimo de Sousa.
Outra coisa são divergências políticas. E essas discutem-se e debatem-se noutro tom.
Se querem falar da descolonização, pois então falemos…
Qualquer pessoa sensata sabia que não éramos mais de dois milhões nas colónias ditas portuguesas; pouco mais do que os emigrantes que nos anos 60 e 70 tinham ido a salto para a Europa.
Toda a gente sabia, desde o princípio da década de 60, que as independências eram uma questão de tempo, pelo que deveriam ter sido preparadas, como o fizeram os países civilizados.
Toda a gente podia aperceber-se de que não havia nenhuma ligação entre o Povo que vivia no Continente e os que viviam nas colónias.
Só foram para a guerra os que não conseguiram evitá-lo…
E não foram apenas os estudantes, como eu era. Foram milhões de homens em idade de poder prestar serviço militar, que fugiram para França, para a Austrália, para a América, para a Venezuela, para o Canadá e para o Brasil, porque não tinham nenhuma quinta nem nenhum interesse para defender em África.
Portugal era, em 1974, um país miserável, com a maior taxa de analfabetismo da Europa, sem serviços de saúde, sem direito à reforma da maioria da população.
Uma viagem de Lisboa ao Porto demorava seis horas e uma viagem de Lisboa a Bragança demorava doze horas.
Hoje vai-se de Lisboa ao Porto em 3 horas e de Lisboa a Bragança em 5.
Tínhamos em 1974 um exército exausto, incapaz de continuar um combate sem futuro. E tínhamos uma população portuguesa nas colónias manifestamente diminuta e impreparada para forçar o jogo democrático.
Era evidente que não poderia essa população continuar a ter o domínio político, pela impreparação da maioria e pelo seu reduzido número.
Era previsível, como acontece em todas as revoluções, que essa população fosse atacada, como se veio a verificar.
Mário Soares e António de Almeida Santos foram os grandes artífices de uma operação de que já ninguém se lembra: a do retorno a Portugal de todos os que quisesse regressar.
Um pequeno país, miserável, à beira da falência conseguiu trazer para casa e integrar mais de um milhão de pessoas, o que correspondia a cerca de 10 por cento da sua população.
Houve danos, como era previsível. Mas foram comparativamente menos graves do que os sofridos pelos franceses na Argélia e no Congo e que os sofridos pelos belgas no Zaire.
A descolonização não foi exemplar, porque não há descolonizações exemplares. Todas foram processos turbulentos e traumáticos…
Mas a nossa descolonização seria muito mais traumática se não fosse a acção de Mário Soares, pelo que é de uma enorme injustiça a onda de calúnias que lhe é dirigida.
Portugal esteve à beira de uma ditadura de sinal contrário em 1975.
Quem veio para a rua defender as liberdades? Quem tomou a liderança do grande combate que conduziu ao afastamento do Partido Comunista da área do poder?
Quem esteve na frente daquela grande manifestação na Fonte Luminosa que foi o princípio do fim do poderio dos comunistas? Quem esteve com os militares moderados do «grupo dos 9» no 25 de Novembro.
Foi novamente Mário Soares, o mesmo que, contra a opinião de Cavaco Silva forçou a entrada de Portugal na União Europeia, que arrancou o país de um quadro de miséria que a todos nos envergonhava.
Estava convencido de que o Casimiro tinha apreço por estes pequenos passos da História e que teria sido por isso que se inscreveu no Partido Socialista.
Estava convencido de que, apoiando como declarou apoiar a candidatura de Manuel Alegre – uma das personalidades mais carismáticas da luta contra o colonialismo português, a partir da rádio «Voz da Liberdade» sedeada na Argélia – não cooperaria na sujice que aqui se fez, insultando-se um cidadão que é, ele próprio, a personificação do Portugal moderno de que todos nos orgulhamos.
Enganei-me e fico triste.
Acho que o melhor que o Casimiro tem a fazer é mesmo demitir-se do Partido Socialista, onde, obviamente não podem caber pessoas que pensam como o senhor pensa. Talvez haja outro partido em que o Casimiro tenha lugar, porque a democracia tem essa enorme virtualidade que não tinha o regime do Dr. Salazar que o Presidente do PortugalClub tanto aprecia.
Espero bem que o Casimiro não venha num dia destes a defender a destruição das pontes e das auto-estradas e o encerramento das escolas, para voltarmos aquele Portugalinho que tanto se distinguia dos demais países europeus, por ser o mais miserável de todos.
Miguel Reis
Lisboa
Não significa isso que eu seja inimigo do Casimiro ou que tenha por ele menos consideração.
Bem pelo contrário: acho que é um homem arrojado, com todo o mérito que isso tem.
Respeito as suas posições e o exercício que faz das suas liberdade, de acordo com as suas opções. Mas discordo profundamente tanto das posições como da maneira que ele escolheu para exercer a sua liberdade de escrita.
A questão essencial que nos divide está no seguinte: a meu ver a liberdade de imprensa não pode exercer-se na base do insulto gratuito e do atentado permanente contra o direito à honra dos demais cidadãos.
É nisso que reside um dos pilares da Democracia.
Antes de tudo, eu não posso concordar que o director deste espaço apadrinhe o insulto gratuito a quem quer que seja. Foi Mário Soares, como poderia ser Cavaco Silva ou Jerónimo de Sousa.
Outra coisa são divergências políticas. E essas discutem-se e debatem-se noutro tom.
Se querem falar da descolonização, pois então falemos…
Qualquer pessoa sensata sabia que não éramos mais de dois milhões nas colónias ditas portuguesas; pouco mais do que os emigrantes que nos anos 60 e 70 tinham ido a salto para a Europa.
Toda a gente sabia, desde o princípio da década de 60, que as independências eram uma questão de tempo, pelo que deveriam ter sido preparadas, como o fizeram os países civilizados.
Toda a gente podia aperceber-se de que não havia nenhuma ligação entre o Povo que vivia no Continente e os que viviam nas colónias.
Só foram para a guerra os que não conseguiram evitá-lo…
E não foram apenas os estudantes, como eu era. Foram milhões de homens em idade de poder prestar serviço militar, que fugiram para França, para a Austrália, para a América, para a Venezuela, para o Canadá e para o Brasil, porque não tinham nenhuma quinta nem nenhum interesse para defender em África.
Portugal era, em 1974, um país miserável, com a maior taxa de analfabetismo da Europa, sem serviços de saúde, sem direito à reforma da maioria da população.
Uma viagem de Lisboa ao Porto demorava seis horas e uma viagem de Lisboa a Bragança demorava doze horas.
Hoje vai-se de Lisboa ao Porto em 3 horas e de Lisboa a Bragança em 5.
Tínhamos em 1974 um exército exausto, incapaz de continuar um combate sem futuro. E tínhamos uma população portuguesa nas colónias manifestamente diminuta e impreparada para forçar o jogo democrático.
Era evidente que não poderia essa população continuar a ter o domínio político, pela impreparação da maioria e pelo seu reduzido número.
Era previsível, como acontece em todas as revoluções, que essa população fosse atacada, como se veio a verificar.
Mário Soares e António de Almeida Santos foram os grandes artífices de uma operação de que já ninguém se lembra: a do retorno a Portugal de todos os que quisesse regressar.
Um pequeno país, miserável, à beira da falência conseguiu trazer para casa e integrar mais de um milhão de pessoas, o que correspondia a cerca de 10 por cento da sua população.
Houve danos, como era previsível. Mas foram comparativamente menos graves do que os sofridos pelos franceses na Argélia e no Congo e que os sofridos pelos belgas no Zaire.
A descolonização não foi exemplar, porque não há descolonizações exemplares. Todas foram processos turbulentos e traumáticos…
Mas a nossa descolonização seria muito mais traumática se não fosse a acção de Mário Soares, pelo que é de uma enorme injustiça a onda de calúnias que lhe é dirigida.
Portugal esteve à beira de uma ditadura de sinal contrário em 1975.
Quem veio para a rua defender as liberdades? Quem tomou a liderança do grande combate que conduziu ao afastamento do Partido Comunista da área do poder?
Quem esteve na frente daquela grande manifestação na Fonte Luminosa que foi o princípio do fim do poderio dos comunistas? Quem esteve com os militares moderados do «grupo dos 9» no 25 de Novembro.
Foi novamente Mário Soares, o mesmo que, contra a opinião de Cavaco Silva forçou a entrada de Portugal na União Europeia, que arrancou o país de um quadro de miséria que a todos nos envergonhava.
Estava convencido de que o Casimiro tinha apreço por estes pequenos passos da História e que teria sido por isso que se inscreveu no Partido Socialista.
Estava convencido de que, apoiando como declarou apoiar a candidatura de Manuel Alegre – uma das personalidades mais carismáticas da luta contra o colonialismo português, a partir da rádio «Voz da Liberdade» sedeada na Argélia – não cooperaria na sujice que aqui se fez, insultando-se um cidadão que é, ele próprio, a personificação do Portugal moderno de que todos nos orgulhamos.
Enganei-me e fico triste.
Acho que o melhor que o Casimiro tem a fazer é mesmo demitir-se do Partido Socialista, onde, obviamente não podem caber pessoas que pensam como o senhor pensa. Talvez haja outro partido em que o Casimiro tenha lugar, porque a democracia tem essa enorme virtualidade que não tinha o regime do Dr. Salazar que o Presidente do PortugalClub tanto aprecia.
Espero bem que o Casimiro não venha num dia destes a defender a destruição das pontes e das auto-estradas e o encerramento das escolas, para voltarmos aquele Portugalinho que tanto se distinguia dos demais países europeus, por ser o mais miserável de todos.
Miguel Reis
Lisboa