quinta-feira, abril 07, 2005

Portugal pode perder para Espanha posição de ‘pivot’ entre Brasil e UE

Escreve Mónica Silvares no Diário Económico:

« A Apex poderá escolher Madrid e não Lisboa para acolher centro de distribuição de produtos brasileiros para Sul da Europa e Mediterrâneo.

Portugal está em vias de perder a sua posição privilegiada nas relações económicas do Brasil com a Europa a favor de Espanha que poderá a vir a ser escolhida como a porta de entrada na Península Ibérica dos produtos e empresas brasileiras junto da União Europeia.

Em causa está a criação de um centro de distribuição de produtos brasileiros numa cidade espanhola, que poderia ser Madrid, ainda, que no total, estejam em consideração quatro cidades espanholas. De acordo com vários jornais brasileiros os governos espanhol e brasileiro vão assinar já em Abril um protocolo para a criação deste centro, que terá como principal função abastecer o mercado ibérico, mas também toda a bacia do Mediterrâneo, inclusivamente, Médio Oriente.

Em todo este processo, Lisboa parece ter sido deixada de fora, mesmo depois do presidente da Agência de Promoção de Exportações do Brasil (APEX), Juan Quirós, ter dito numa conferência, no passado dia 10 de Março, em Lisboa que Portugal tinha “grandes hipóteses de vir a ter também um centro de distribuição”, à semelhança daquele que já foi criado em Hesse na Alemanha, e inaugurado pelo próprio ministro Fernando Furlan, e dos restante sete que vão ser criados por todo o mundo: na Finlândia para servir de base aos Países Escandinavos, na Polónia para o Leste Europeu, mas ainda na Ásia, na África do Sul e dois nos Estados Unidos.

“Escolher Espanha seria um escândalo pois o Brasil estaria a dar um sinal de que privilegia as relações com Espanha e não com Portugal”, disse Filipe de Botton, presidente da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Económico e a Cooperação (ELO) que foi mandatado no I Fórum Empresarial da CPLLP de criar o Conselho Empresarial, que nasceu em Junho do ano passado. Sentindo-se indignado com o desenvolvimento que os acontecimentos estão a levar - e tentando antecipar os factos - Filipe de Botton vai entregar hoje uma carta ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, para lhe dar conta da situação. Uma missiva idêntica foi também entre ao ministro brasileiro das Relações Exteriores, Celso Amorim, ao embaixador português no Brasil, Seixas da Costa, e ao seu homólogo brasileiro.

Este procedimento também já foi seguido por Fausto Costa, secretário-geral da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira, na semana passada. No entanto, o Ministério dos Negócios Estrangeiros, contacto pelo DE, não tinha conhecimento do assunto e que este estaria antes sob a tutela da Economia, que, por sua vez, também não tinha conhecimento do assunto. De facto, Fausto Costa reconhece que não teve qualquer retorno de nenhuma das suas diligências.

“O Governo deve fazer, politicamente, as pressões necessárias para que Lisboa seja, pelo menos, tida em consideração“, explicou Fausto Costa. “A decisão é totalmente política”, acrescentou o responsável.

“Receio que tenha sido a agressividade da diplomacia espanhola que determinou a decisão”, defendeu Filipe de Botton. Mas Fausto Costa acredita antes que o facto tenha passado por uma coincidência de factores como a visita, em Fevereiro, de Zapatero ao Brasil, seguida da do Príncipe das Astúrias enquanto Portugal trocava de Governo.

Filipe de Botton alvitra porém que a escolha de Madrid passe também por razões económica, nomeadamente pela falta de competitividade dos portos nacionais. “Os nossos portos não são competitivos e registam um número avassalador de ineficiências face à vizinha Espanha”, lamentou o empresário. Este ‘incidente’, segundo Botton, poderia servir para as autoridades portuguesas “olharem para o seu umbigo” e de uma vez apostar na modernização dos portos portugueses.

Centros de distribuição
A Apex vai abrir oito centro de distribuição no mundo para ajudar as PME brasileiras a ganhar mercados. Em consideração estão:
 Hesse na Alemanha, que já foi inaugurado.
 Na Finlândia para servir de base aos Países Escandinavos.
 Na Polónia para o Leste Europeu.
 Na Península Ibérica.
 Na Ásia.
 Na África do Sul .
 Dois nos Estados Unidos, um dos quais em Miami.

Centro Ibérico apenas no segundo semestre
A Apex está presentemente concentrada na instalação do centro de distribuição de Miami e só depois vai iniciar os estudos para a criação de um centro na Península Ibérica.

Cláudio Borges, disse ao Diário Económico, que o centro ibérico só começará a ser analisado no segundo semestre deste ano e que o assunto é apenas ainda alvo de estudos internos. “Ainda nem sequer há uma consultora a tratar do assunto ainda”, explicou o director técnico da Apex.

O responsável não se quis pronunciar sobre a possibilidade de o centro ser instalado em Portugal ou em Espanha, alegando que ainda é prematuro discutir o tema e que, neste momento, estão apenas concentrados no centro de Miami.

Só em 2002 Portugal suplantou Espanha
Espanha tem, ao longo dos anos, suplantado largamente o nível de investimentos portugueses no Brasil. Apesar da proximidade cultural entre os dois países, os investimentos não reflectem essa dialéctica, e com excepção de 2002, Portugal nunca conseguiu suplantar o país vizinho.

Diplomacia económica à espera da atenção do novo Executivo
A revisão do modelo de diplomacia económica portuguesa está suspensa à espera de que o novo Governo socialista entre em velocidade de cruzeiro na sua governação. O Gabinete de Assuntos Económicos do Ministério dos Negócios Estrangeiros já entregou em Fevereiro, ao então ministro, António Monteiro, a sua apreciação técnica do projecto de revisão do modelo de diplomacia económica proposto pelo Ministério das Actividades Económicas. O presidente do ICEP, Manuel Carlos (na foto) apresentou o plano “+QI” para fomentar as exportações, mas sabia que o projecto só deveria avançar na legislatura seguinte. Ainda durante a campanha eleitoral os responsáveis socialistas anunciaram que iam rever a diplomacia económica e apesar de apostarem numa estratégia de “continuidade e bom senso, aproveitamento do trabalho já feito, embora reorientando-o se for caso disso”. A tónica iria ser posta na coordenação, nomeadamente, através da criação de uma estrutura governamental de coordenação não só das actividades do MNE e Ministério da Economia, mas de todos os departamentos de relações internacionais dos vários ministérios.»

Fonte: Diário Económico