terça-feira, maio 08, 2007

Furacão - Citação do Público

Acusam José Lello de escolha polémica

Membro do Conselho das Comunidades Manuel Melo afirma que Lello não pode negar desconhecer financiamentos

Numa nota enviada ontem a um fórum de socialistas na Internet, o antigo dirigente do PS Manuel Melo, também membro do Conselho das Comunidades Portuguesas, atribuiu a José Lello e a Paulo Pisco a responsabilidade pela situação "dúbia" criada com as ligações do PS no Brasil. "Aqui está o resultado do rico trabalho de Lello, Pisco e Caio Roque", afirma.
"Há muito tempo que, juntamente com outros dirigentes do PS nas comunidades (Suíça, França, Alemanha e Benelux), denuncio o trabalho sujo desses senhores. Mas a direcção nacional do PS sempre lhes deu cobertura", escreveu. Contactado posteriormente pelo PÚBLICO, Manuel Melo esclareceu o sentido dessa afirmação: "A situação instalada é muito delicada e, certamente, envolverá outro tipo de responsabilidades, para lá da meramente partidária", disse.
Este elemento do Conselho das Comunidades Portuguesas na Suíça contesta ainda as declarações de José Lello ao PÚBLICO na sexta-feira - o dirigente socialista alegava desconhecer quem financiou a campanha de Aníbal Araújo no Brasil. "José Lello não pode negar que desconhecia quem apoiou financeiramente a campanha eleitoral do PS no Brasil porque foi ele que impôs o candidato Aníbal Araújo", sublinha. Nuno Amaral - Publico
acusam José Lello de escolha polémica
A opção por Aníbal Araújo levou a várias demissões. Antigo responsável do PS é acusado de ter "destruído" a federação no Brasil
A escolha do candidato do PS ao círculo fora da Europa em 2005, numa campanha financiada por um dos detidos na Operação Furacão, Licínio Soares Bastos, levou à demissão de alguns elementos socialistas no Brasil, que responsabilizaram José Lello e apelaram ao voto em branco nesse escrutínio.
O desagrado causado pela selecção de Aníbal Araújo chegou mesmo a ser exposto por carta ao então responsável do PS pelas comunidades, José Lello, e a José Sócrates. "No entendimento dos nossos camaradas do Brasil, o Aníbal Araújo não tem nem a confiança nem o prestígio suficiente para poder representar os nossos compatriotas na Assembleia da República. É conhecido na comunidade como um mero angariador de anúncios para uma publicação que poucos conhecem, porque não tem difusão. E nada tem a ver com as comunidades no exterior", escreveu o antigo militante socialista Miguel Reis ao actual primeiro-ministro.
Nas várias missivas que circularam por esses dias, os militantes do Brasil atribuíam a Lello, que coordenou a campanha do PS no exterior, a "responsabilidade" pela escolha do candidato.
A campanha de Aníbal Araújo foi financiada por Licínio Soares Bastos, o empresário português detido por suspeitas de pertencer à "máfia dos bingos" e que chegou a ser nomeado cônsul honorário no Brasil pelo secretário de Estado das Comunidades, António Braga.
Os nomes de Araújo e António Braga são referenciados numa escuta telefónica a outro dos detidos na Operação Furacão como os de elementos capazes de convencer um autarca, também do PS, a desembargar uma obra.
Imposição de candidato
Antes das legislativas de 2005, a Federação do PS no Brasil reuniu-se em congresso e decidiu avançar com o nome de António Almeida Silva, então presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas, como candidato ao círculo fora da Europa - a comunidade portuguesa no Brasil têm um peso estratégico na eleição deste deputado.
Troca de correspondência
Numa extensa troca de correspondência entre a Federação do PS do Brasil e a direcção nacional do partido a que o PÚBLICO teve acesso, a direcção nacional do PS não reconheceu a legitimidade do congresso realizado em Setembro 2004 e avançou com a escolha de Aníbal Araújo. "Não nos merecendo confiança os candidatos apresentados em nome do Partido Socialista e como forma de assegurarmos a autonomia do nosso futuro na escolha dos nossos representantes, decidimos não participar activamente numa campanha eleitoral para a qual não fomos solicitados a participar, nem ouvidos e sequer respeitadas as decisões que democraticamente tomamos", escreveu, em comunicado, Joaquim Magalhães, secretário-coordenador do PS, entretanto falecido.
Como forma de protesto, a federação socialista recomenda o voto em branco e acusa Paulo Pisco, do gabinete de relações internacionais das Comunidades Portuguesas, e José Lello de terem boicotado o processo. "Toda a documentação do congresso foi entregue no partido por duas vezes. Por mim próprio, pessoalmente, quando estive em Portugal no Congresso Nacional do Partido. Se os documentos desapareceram, estaremos perante um caso de polícia que deve ser denunciado. Nada há a discutir com o camarada José Lello sobre a federação. Se, como parece, o camarada também entende que a Federação é falsa... ponto final", escreveu Magalhães a Lello.
O PÚBLICO tentou, insistentemente, ouvir o deputado José Lello, mas, apesar dos diversos contactos realizados, não foi possível recolher declarações do dirigente socialista - nenhuma chamada telefónica foi atendida. O PÚBLICO tentou também, por diversas vezes sem êxito, contactar Paulo Pisco e o assessor de imprensa do secretário de Estado das Comunidades, Eduardo Saraiva (e antigo assessor de José Lello, quando este ocupou o cargo).
Os militantes do PS no Brasil dizem que foi José Lello que coordenou a campanha do partido no exterior.

Nuno Amaral - Publico