Brasil: PS recusa polémica sobre gastos nas últimas eleições legislativas
Lisboa, 08 Mai (Lusa) - O porta-voz do PS, Vitalino Canas, recusou hoje a existência de motivos para polémica sobre os gastos do partido, no Brasil, na campanha das eleições legislativas, dizendo que todas as despesas foram fiscalizadas pelo Tribunal Constitucional.
"Os gastos do PS na última campanha para as eleições legislativas foram feitos de acordo com a lei [de financiamento dos partidos] e as contas foram fiscalizadas pelo Tribunal Constitucional", declarou Vitalino Canas à agência Lusa.
Na edição de hoje do jornal "Público" o ex-militante socialista (de São Paulo) e advogado Miguel Reis, que se demitiu do PS por desacordo com a escolha do cabeça de lista do partido pelo círculo da emigração fora da Europa, disse que na campanha do PS no Brasil "havia dinheiro a rodos para avionetas e acções de grande impacto".
Ainda de acordo com o mesmo jornal, a campanha do cabeça de lista do PS por este círculo, Aníbal Araújo, foi financiada pelo empresário Licínio Soares Bastos, recentemente detido por suspeitas de pertencer à chamada máfia dos bingos e que chegou a ser nomeado cônsul honorário no Brasil pelo secretário de Estado das Comunidades, António Braga.
Miguel Reis afirmou ainda que a estrutura socialista no Brasil escolheu António Almeida e Silva como candidato a deputado do PS nas últimas eleições legislativas - nome que acabou por ser recusado pela direcção nacional do partido, que optou por Aníbal Araújo, de Oliveira de Azeméis, proprietário de jornais e revistas ligados à comunidade emigrante.
Interrogado sobre o processo de escolha do cabeça de lista do PS pelo círculo da emigração fora da Europa, Vitalino Canas assegurou "foram cumpridas rigorosamente todas as normas estatutárias do partido".
Fonte da direcção dos socialistas adiantou à agência Lusa que a escolha de Aníbal Araújo se deveu "à sua reputação de homem sério, residente em território nacional, mas que possui grandes ligações às comunidades lusas nos Estados Unidos, Canadá, Brasil e África do Sul".
Já em relação ao facto de a estrutura do Brasil ter preferido António Almeida e Silva, a mesma fonte referiu que se trata de uma "personalidade de prestígio, mas que se encontra mais próximo do PSD do que do PS".
PMF.
Lusa/fim
Lisboa, 08 Mai (Lusa) - O porta-voz do PS, Vitalino Canas, recusou hoje a existência de motivos para polémica sobre os gastos do partido, no Brasil, na campanha das eleições legislativas, dizendo que todas as despesas foram fiscalizadas pelo Tribunal Constitucional.
"Os gastos do PS na última campanha para as eleições legislativas foram feitos de acordo com a lei [de financiamento dos partidos] e as contas foram fiscalizadas pelo Tribunal Constitucional", declarou Vitalino Canas à agência Lusa.
Na edição de hoje do jornal "Público" o ex-militante socialista (de São Paulo) e advogado Miguel Reis, que se demitiu do PS por desacordo com a escolha do cabeça de lista do partido pelo círculo da emigração fora da Europa, disse que na campanha do PS no Brasil "havia dinheiro a rodos para avionetas e acções de grande impacto".
Ainda de acordo com o mesmo jornal, a campanha do cabeça de lista do PS por este círculo, Aníbal Araújo, foi financiada pelo empresário Licínio Soares Bastos, recentemente detido por suspeitas de pertencer à chamada máfia dos bingos e que chegou a ser nomeado cônsul honorário no Brasil pelo secretário de Estado das Comunidades, António Braga.
Miguel Reis afirmou ainda que a estrutura socialista no Brasil escolheu António Almeida e Silva como candidato a deputado do PS nas últimas eleições legislativas - nome que acabou por ser recusado pela direcção nacional do partido, que optou por Aníbal Araújo, de Oliveira de Azeméis, proprietário de jornais e revistas ligados à comunidade emigrante.
Interrogado sobre o processo de escolha do cabeça de lista do PS pelo círculo da emigração fora da Europa, Vitalino Canas assegurou "foram cumpridas rigorosamente todas as normas estatutárias do partido".
Fonte da direcção dos socialistas adiantou à agência Lusa que a escolha de Aníbal Araújo se deveu "à sua reputação de homem sério, residente em território nacional, mas que possui grandes ligações às comunidades lusas nos Estados Unidos, Canadá, Brasil e África do Sul".
Já em relação ao facto de a estrutura do Brasil ter preferido António Almeida e Silva, a mesma fonte referiu que se trata de uma "personalidade de prestígio, mas que se encontra mais próximo do PSD do que do PS".
PMF.
Lusa/fim
Jornal Público
Socialistas do Brasil enviaram carta a Sócrates a denunciar o caso
08.05.2007, Nuno Amaral, Rio de Janeiro
O nome de Aníbal Araújo desagradou à Federação do PS Brasil, tendo, na altura, alguns militantes apresentado a demissão
A escolha do candidato do PS ao círculo fora da Europa em 2005 pode ter sido "comprada" pelo financiador do candidato, o empresário português Licínio Soares Bastos, detido na Operação Furacão, que desmantelou um grupo ligado à "Máfia dos Bingos", no Brasil. O nome de Aníbal Araújo desagradou à Federação do PS Brasil, tendo, na altura, alguns militantes apresentado a demissão, considerando, em carta enviada a José Sócrates, que José Lello tinha "desautorizado e ignorado as deliberações" da estrutura brasileira. "Numa reunião realizada em Janeiro de 2005, em São Paulo, concluímos, eu e um grupo de amigos, que só qualquer coisa muito forte, que podia significar muito dinheiro, permitia que as deliberações de uma federação partidária, legal e organizada, fosse pisada a pés, com absoluto desrespeito pelas pessoas e, sobretudo, pelos métodos de trabalho que elas haviam adoptado", escreveu o advogado e antigo militante socialista Miguel Reis, no blogue portugalglobal.blogspot.com. Contactado pelo PÚBLICO, o jurista, com escritório em São Paulo, frisou que se demitiu do PS na sequência deste caso. "Não havia quaisquer provas de que as listas haviam sido vendidas, como ainda hoje não há. Mas o que tem vindo a público pode ajudar a esclarecer o enigma. Será que o PS vendeu a lista para as últimas eleições no círculo fora da Europa?", disse ao PÚBLICO. A mesma tese foi exposta por outros socialistas radicados no Brasil, que não se quiseram identificar.
Reis lembra que o congresso de São Paulo, fórum onde se tinha decidido que António Almeida e Silva seria o candidato pelo PS ao círculo fora da Europa, foi ignorado e que a documentação aí lavrada desapareceu. Miguel Reis frisa que José Lello, que na altura coordenava a campanha do PS nas comunidades, sabia desta situação. "Quando constatámos que Lisboa não respeitava a vontade dos órgãos locais e substituía o excelente candidato que era o dr. Almeida e Silva por uns broncos cuja acção mais relevante consistiu em distribuir uma pagela com o Santo Expedito de um lado e uma oração de voto no PS no outro, percebemos todos que interesses mais altos se levantavam", assinalou. Os "sinais" da suspeita, refere, começaram a sentir-se pouco depois. "Depois começou a ver-se que havia dinheiro a rodos para avionetas, acções de grande impacto, etc. E constatou-se que fizeram desaparecer os documentos do congresso constitutivo da federação para branquear a situação", garante.
A campanha de Aníbal Araújo foi financiada por Licínio Soares Bastos, o empresário português detido por suspeitas de pertencer à "Máfia dos Bingos", que chegou a ser nomeado cônsul honorário no Brasil pelo secretário de Estado das Comunidades, António Braga. Os nomes de Araújo e António Braga são referenciados numa escuta telefónica a outros dos detidos na Operação Furacão como os de elementos capazes de convencer um autarca, também do PS, a desembargar uma obra. Contactado pelo PÚBLICO, Paulo Pisco, coordenador do gabinete do PS de Relações Internacionais e Comunidades, optou por não prestar declarações. Apesar das insistentes tentativas, não foi possível recolher declarações do deputado socialista José Lello.
Viagens e obras pagas
Em 2005, um mês depois das legislativas, Aníbal Araújo, que não foi eleito deputado, reuniu-se com a Prefeitura de João Pessoa, capital do estado de Paraíba. "O prefeito em exercício da capital, Manoel Júnior (PMDB), recebeu na manhã desta quinta-feira (14) o comendador da cidade portuguesa de Ovar, Aníbal Araújo. Os dois dirigentes públicos reativaram o convénio de geminação entre as duas cidades e também agendaram para o próximo dia 4 de Julho uma viagem do prefeito Ricardo Coutinho (PSB) ao município português", lê-se numa notícia publicada a 14 de Abril de 2005 no sítio do Governo Municipal da Cidade de João Pessoa. Mais à frente no mesmo texto, frisa-se que Aníbal Araújo convidou uma comitiva para visitar Ovar, alegando que as despesas seriam pagas "por portugueses". "Ele falou ainda que a visita do prefeito Ricardo Coutinho a Ovar poderá envolver também uma comitiva de empresários, artistas, jornalistas e professores (...) proposta de Aníbal Araújo é que representantes da prefeitura possam ir a Portugal e ter todos os gastos de hospedagem e translado financiados por aquele país." No encontro, foi sugerida a construção de uma praça em João Pessoa, "A Praça de Ovar". As despesas seriam igualmente suportadas por "portugueses". "O local ainda não foi definido, mas todo o material para a obra será custeado com recursos portugueses. A Prefeitura de João Pessoa entrará com a mão-de-obra", lê-se no sítio. Contactado pelo PÚBLICO, Manuel Oliveira, o socialista que preside actualmente à Câmara de Ovar, garantiu que "a autarquia não teve qualquer despesa" e adianta que, quando chegou à presidência, em 2006, quebrou o protocolo com a Prefeitura de João Pessoa. "Enviei um ofício dizendo que a geminação só continuaria em termos institucionais, carecendo de formalização os acordos até aí estabelecidos", explicou. Apesar dos contactos realizados, o PÚBLICO não conseguiu ouvir Armando França, antigo presidente da Câmara de Ovar.
O deputado José Lello é acusado de ter "desautorizado e ignorado as deliberações" da estrutura brasileira do PS.