Citação:
«Fontes da comunidade luso-brasileira no Rio de Janeiro garantem ser voz corrente que os dois portugueses presos por ligação com a mafia dos bingos - Licínio Soares Bastos e Laurentino Freire dos Santos - beneficiavam do apoio do deputado José Lello, responsável pela área das comunidades portuguesas do PS.
Um dos líderes da comunidade luso-brasileira no Rio de Janeiro, que pediu para não ser identificado, disse ao DN que Licínio e Laurentino se faziam passar por grandes empresários, com alta influência política.
Um dos líderes da comunidade luso-brasileira no Rio de Janeiro, que pediu para não ser identificado, disse ao DN que Licínio e Laurentino se faziam passar por grandes empresários, com alta influência política.
Ninguém pode provar que deram dinheiro ao PS, mas eles referiam constantemente, nos encontros da comunidade, o apoio que diziam ter do deputado José Lello.
Tudo indica que Licínio seria proprietário do imóvel onde está instalada a sede do PS, na Barra da Tijuca. A ligação dos portugueses com José Lello e o PS é tema de conversa no Rio de Janeiro, mas não se sabe até onde isso reflectirá perdas para o partido.
O PS poderá alegar, em geral, que os políticos se aproximam de empresários influentes e com posses e não de simples trabalhadores ou profissionais da classe média.
As mesmas fontes adiantaram que embora o seu cargo de consul honorário de Cabo Frio não tivesse chegado a ser formalizado, Licínio Soares Bastos era assim que se apresentava e era recebido com distinção nos eventos da comunidade.
Só após o escândalo - do jogo ilegal, operação de máquinas de moedas, proibidas pela justiça - é que a embaixada se apressou a esclarecer que o cargo de consul honorário de Licínio não foi concretizado junto ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
Como o DN já havia adiantado, este grupo português da Mafia dos Bingos tinha projectos para abrir casinos e casas de bingo noutros países, como Portugal, Macau e até mesmo nos Estados Unidos.
O presidente da Casa da Vila da Feira e Terras de Santa Maria - um dos principais centros de reunião da comunidade no Rio de Janeiro - António Simões, afirmou que, para a comunidade, quanto mais depressa for esclarecido o envolvimento de cidadãos portugueses no caso da Operação Furacão - mafia dos Bingos, melhor será para todos.
"Não é agradável ver dois cidadãos portugueses presos por envolvimento com jogo ilegal. Seria bom que a justiça chegasse a uma conclusão sem muita demora ", disse.Observadores afirmam que dificilmente Licínio e Laurentino sofrerão penas muito severas - excepto a execração pública a que estão actualmente submetidos - pois, embora ilegais, os bingos funcionavam com base em licenças dadas pelo poder judicial.
Há presunção de que os bingos faziam lavagem de dinheiro para os chefes do crime - como Anis Abraão David, o "Anísio", presidente da Escola de Samba Beija-Flor e Ailton Guimarães, o "capitão" Guimarães, presidente da Liga das Escolas de Samba, ambos notórios "banqueiros" do ilegal jogo do bicho.
No entanto, provar lavagem de dinheiro sempre foi difícil, mormente depois de os bicheiros negarem conhecer os portugueses e estes deram depoimentos no mesmo sentido. Quanto ao uso de máquinas de moedas, se não for provada relação com a importação ilegal, trata-se de crime menor.
SÉRGIO BARRETO MOTTA, Rio de Janeiro