Não me interessa hoje saber se alguém ganhou muito dinheiro ou não com a campanha eleitoral no circulo Fora da Europa.
O que sei é que as contas sobre as quais tive o cuidado de me informar não espelham, nem de perto nem de longe, o espalhafato que a equipa liderada por José Lello para a promoção de Araújo desenvolveu.
Mas nem isso tem, para mim, nenhum interesse. Nunca vivi à conta do partido ou do Estado e sempre paguei as minhas viagens os meus alojamentos quando se tratou de participar em actividades políticas, mas não invejo os que não agem assim e preferem comprometer o futuro com compromissos privados sem os quais nunca teriam alcançado os postos que têm.
Não vamos, com isto criticar as prostitutas; temos que lhes reconhecer o direito à liberdade, mas, em simultâneo reclamar a liberdade de o não ser e a afirmação do princípio de que só é puta quem quer.
Todos aqueles que, há alguns anos, convivem com as comunidades portuguesas da diáspora sabem que há umas enorme promiscuidade de interesses na actividade política que se desenvolve nestas comunidades.
As comendas, por mais respeitáveis que sejam os presidentes da República, são muitas vezes vendidas, mesmo que quem as «vende» nada tenha feito para que o beneficiário as obtenha. Claro que estas coisas não se falam a ninguém e ninguém fala delas excepto quanto há precipitação.
Lembra-me isto uma prática de alguns advogados que pedem aos clientes dinheiro para dar aos juizes, com a promessa de devolução de 50% se eles não proferirem decisão de libertação de determinada pessoa.
Se o advogado tem sucesso e obtém a libertação, fica com a totalidade do que se «destinou» ao juiz e o cliente fica satisfeito porque o suborno deu resultado. Se não teve sucesso, fica-lhe igualmente grato, porque o homem correu um risco e até podia ser preso.
Ninguém dá nada de grande valor a ninguém, a não ser que tenha contrapartidas. E ninguém aceita correr riscos em matéria de «esquemas de dinheiro» se disso não houver vantagens.
Isso é o que resulta da experiência comum...
Não acredito que alguém invista numa campanha política ostentatória, com aviões e publicidade na rádio e na televisão sem que que lhe sejam prometidas contrapartidas.
No caso da campanha do PS no Rio de Janeiro, o desaforo foi de tal modo ostensivo que o PSD se viu obrigado a apresentar queixa na Comissão Nacional de Eleições, o que provocou a repulsa de alguns dirigentes de São Paulo, especialmente do meu amigo Joaquim Magalhães, que receava poder confundir-se a sua gente com aquelas manobras.
Não havia dúvidas de que rolava muito dinheiro, mas não se sabia de onde ele vinha.
Pensavam que era de uma escola de samba, mas logo isso foi desmentido, ficando no ar o enigma, porque as relações era muito tensas e havia sido perdida a confiança entre o grupo do Rio, ligado ao Lello e ao Paulo Pisco e a Federação de São Paulo.