A Operação Furacão, desencadeada pela Policia Federal do Brasil, vem revelando todos os dias novos dados, que se afiguram da maior importância para a percepção de alguns enigmas da política portuguesa.
O elemento mais surpreendente é o de que dois dos presos teriam sido os financiadores da última campanha eleitoral do Partido Socialista no circulo «fora da Europa».
Não sei se isso é verdade ou se é mentira.
Se for verdade estaremos a meio caminho de demonstrar que aconteceu alguma coisa que tem que ser qualificado como gravíssimo na vida política portuguesa.
Temos que ser muito prudentes e que analisar cuidadosamente todos os dados disponíveis, tomando sempre em consideração o sagrado princípio da presunção de inocência,
Mas a política é política e tem que ser encarada como tal.
Hoje estou absolutamente liberto das obrigações partidárias para reflectir sobre esta matéria, em público e sem nenhumas restrições.
Nunca fui dirigente do Partido Socialista, em que militei mais de trinta anos.
Fui sempre um militante de base e um militante activo. Por isso não resisti à tentação de ajudar os companheiros que, no Brasil, se empenharam, a partir de 2003, numa tentativa de criar uma estrutura que permitisse desenvolver um trabalho político sério, visando obter uma clara vitória eleitoral no círculo de fora da Europa, nas primeiras eleições que se realizassem.
Participei em dezenas de reuniões, convivi com centenas de pessoas, falei com a maioria dos lideres das comunidades do Brasil, da Argentina e do Canadá, troquei milhares de e_mails.
Procurei contribuir, à minha maneira, para o fim da política colonialista de Lisboa sobre as estruturas externa do Partido Socialista, defendendo como princípio fundamental o de que os deputados da diáspora devem sair das próprias comunidades.
Assisti a um trabalho metódico e sério feito pelos companheiros do Brasil, centrados em São Paulo.
A direcção do Partido Socialista decidiu escolher como cabeça de lista para as eleições de 2005 no circulo de fora da Europa o Sr. Aníbal Araujo, personalidade que nada tinha a ver nem com as Comunidades, como as entendemos, nem com o Partido Socialista.
Numa reunião realizada em Janeiro de 2005, em São Paulo, concluimos, eu e um grupo de amigos, que só qualquer coisa muito forte, que podia significar muito dinheiro, permitia que as deliberações de uma federação partidária, legal e organizada, fosse pisada a pés, com absoluto desrespeito pelas pessoas e, sobretudo, pelos métodos de trabalho que elas haviam adoptado.
Não havia quaisquer provas de que as listas haviam sido vendidas, como ainda hoje não há.
Mas o que tem vindo a público pode ajudar a esclarecer o enigma.
Será que o PS vendeu a lista para as últimas eleições no circulo fora da Europa?
Vamos tentar perceber se isso faz sentido, devagarinho, nos próximos dias.