quarta-feira, novembro 08, 2006

EDMUNDO PEDRO - MEMÓRIAS

«Uns três meses antes de fugir de casa dos meus tios entrou ao serviço uma senhora cuja idade andaria entre os cinquenta e cinco e os sessenta anos. A dona Rosa (assim se chamava) era uma senhora de feições delicadas e onde eram ainda bem visíveis os traços da pretérita beleza. Enviuvara algum tempo antes de se empregar. Aquele era, aliás, o seu primeiro emprego. Nunca trabalhara fora de casa. A morte do marido deixara-a numa situação difícil. Por isso, fora forçada a aceitar aquele emprego que, visivelmente, a humilhava.
Tal como tinha acontecido com outras, transformei-a, rapidamente, em minha confidente. A dona Rosa não tivera filhos. Lamentava esse facto, visto que, depois de enviuvar, acabara por ficar só.
Depressa se estabeleceu entre nós uma grande confiança. Percebendo a minha carência afectiva, começou, como acontecera com outras, por me prodigalizar os seus carinhos maternais. Depois de confessarmos mutuamente as nossas frustrações, a mãe recalcada que nela existia veio ao de cima. Deve ter visto em mim, no início do nosso relacionamento, o filho que lamentava não ter tido. Eu estava próximo dos quinze anos. As carícias que passou a prodigalizar-me – que se revestiam, no início, de cunho manifestamente maternal – constituíam para mim, no meio do ambiente gelado que me rodeava, um enorme lenitivo. A partir de certa altura, porém, a ternura da dona Rosa começou a assumir o carácter de uma intimidade que era tudo menos maternal...
O complexo de Édipo tolheu, durante algum tempo, a minha iniciativa. Mais do que mãe, sentia-a minha avó... Mas o sexo, que despertara em mim, e as carícias cada vez mais audaciosas da dona Rosa, depressa venceram as minhas hesitações...
Uma noite, depois do meu regresso da escola, anunciou-me, no decurso do jantar que me preparara (e que, por via de regra, acompanhava), que deixaria a porta do quarto aberta para que eu, se o desejasse, fosse ter com ela...
. Escusado será dizer que me pediu para tomar todas as precauções de modo a evitar que meus tios se apercebessem da minha eventual incursão nocturna... Fiquei, como se compreende, excitadíssimo com aquela agradável proposta...»