Recomendo vivamente a visita à favela da Rocinha, a todos os que visitarem o Rio de Janeiro.
É a única que pode ser visitada, com segurança, desde que o visitante seja a acompanhado por um guia turístico acreditado.
Na Rocinha vivem 150.000 pessoas, que repartem meticulosamente o espaço entre elas.
As construções, nascem coladas à montanha e vãos sendo acrescentadas, à medida das necessidades.
As ruas - com excepção da principal, que é uma antiga pista de corridas de automóveis - lembram-me as da Alfama. São estreitas e ingremes, com escadinhas que substituem a malhação dos utentes.
«O pessoal da Rocinha não precisa de fazer academia» - comentou, a propósito a guia que me acompanhou.
A Rocinha tem inúmeros estabelecimentos com todas as mercadorias, cabeleireiros, médicos, advogados, igrejas de todas as religiões.
Gente vestida de forma humilde mas limpa, gente de trabalho, convive com traficantes encobertos, que não se sentem no meio, mas que existem.
«Não incomodam ninguém e substituem o Estado nas obras sociais» - disseram-me.
O poder político não está organizado em termos constitucionais. É exercido por cinco associações, apoiadas por várias ONG's que repartem entre si um poder de facto.
As poucas pessoas que votam... não votam na Rocinha mas na luxuosa São Conrado, que com ela vive paredes meias.
Aquela gente não vai nunca sair dali, porque tem um certo encanto a vivência da favela.
«Vivemos numa imensa paz, só perturbada de vez em quando pela polícia» - disse-me um comerciante ali residente.
Nas cinco horas em que percorri a favela, apercebi-me que há uma profunda reacção ao Estado.
A favela é uma espécie de zona de offshore, onde não se pagam impostos e onde não entra ninguém para além dos residentes.
Aprendi meia história e cheirei o ambiente, mas apercebi-me que, para além disto, há uma outra realidade, marcada por códigos secretos que serão revelados a ninguém.
Esse fascínio justifica, por si só, a visita.
Mas, como me foi referido pela minha guia, ninguém deve tentar entrar na favela sem ser acompanhado por alguém credenciado.
O estranho é aconselhado a voltar para trás e não não voltar mais. Se entrar... tudo pode acontecer, nomeadamente se alguém suspeitar que é um espião.