Ainda estou no «país dos mensalões» e cai-me na caixa de correio um interessante telegrama da Lusa sobre uma promessa de apoio às «empresas de cristalaria que sejam viáveis»
Diz o telegrama:
«Marinha Grande, Leiria, 17 Set (Lusa) - O ministro do Trabalho, Vieira da Silva, disse hoje à Lusa que o governo vai apoiar as empresas de cristalaria que sejam viáveis.
Vieira da Silva falava à Lusa à margem da inauguração do Centro de Formação Profissional para o Sector da Cristalaria (Crisform), na Marinha Grande.
"Estamos empenhados em favorecer as condições para que as empresas viáveis possam ultrapassar as dificuldades", adiantou Vieira da Silva, que, no entanto, deixou claro que o Governo não ajudará a manter "artificialmente unidades que não são viáveis".
O ministro - que é da Marinha Grande - adiantou que, "do ponto de vista estratégico e da competitividade", o Crisform "é um passo muito importante porque aqui se vai moldar uma nova geração, que vai pegar um pouco no testemunho dos vidros da Marinha Grande e vai adaptá-la à exigência dos novos tempos".
Em relação ao mercado, Vieira da Silva disse que "existe uma procura de produtos do sector", realçando que "é uma procura que aposta e exige diversidade e qualidade do produto".
"Já não existe a velha procura de produtos banalizados de baixo preço e suportado por baixos salários", sustentou.
Para a evolução do sector, o governante salientou no discurso de inauguração "o carácter estratégico e decisivo do Centro em que se dedicar à formação contínua", a qual considerou de extrema importância.
Na cerimónia inaugural, o Crisform formalizou dois protocolos - com a Universidade de Aveiro e com o Instituto Politécnico de Leiria - "com vista a equiparar alguns dos cursos com o grau de bacharel", disse à Lusa Figueiredo Nunes, presidente do Centro.
Um outro protocolo foi assinado com o Colégio de Vidreiros, constituído por "oito mestres com grande experiência, que podem dar formação e servir de incentivo aos mais jovens", disse o mesmo responsável.
O edifício do Crisform, instalado na Zona Industrial da Marinha Grande, representou um investimento de "três milhões de euros, 2,5 milhões dos quais para o edifício e o restante em equipamentos", disse Figueiredo Nunes.
Comparticipado integralmente pelo Instituto de Emprego e Formação Profissional, via FEDER, o edifício foi concebido como uma mini-fábrica, tendo fornos e equipamentos para que todos os processos possam ali ser ensinados.
Sete salas de formação, gabinetes de apoio, uma mediateca e um auditório com 83 lugares, compõem o Crisform, que se divide em dois pisos.
Infra-estruturas "com condições para dar formação actual, que responde às necessidades das empresas", disse Figueiredo Nunes, esclarecendo o plano de formação para 2006 está a ser feito com base na auscultação de empresários, associação e peritos do sector e do Centro de Emprego local.»
Defendo há muito tempo que a questão dos subsídios e dos apoios do Estado à indústria da cristalaria deveria ser investigada pelas autoridades policiais, por haver fortíssimos indícios de favorecimento pessoal e de discriminação, para além de tudo indicar que os «esquemas» adoptados para a gestão dos fundos públicos indiciarem mecanismos de fraude na obtenção dos subsídios.
O Estado investiu milhões no projecto Vitrocristal e na Crisform. Para quê? Quais são os resultados? Que vidros se produziram e que vidros se exportaram? Quais são os valores?
Em contrapartida, tudo fez o Estado e tudo fizeram as instituições da Segurança Social para estoirar e conduzir ao encerramento da única empresa que nos últimos anos, apesar de todas as dificuldades, sempre teve fluxos crescentes de encomendas, que só não realizava integralmente porque foi completamente estrangulada - a Jorgen Mortensen Lda.
É um escândalo que o governo venha prometer apoios às empresas de cristalaria «que sejam viáveis» e tenha deixado fechar, sem qualquer apoio a fábrica dos Mortensens, que poderia ser reposta em funcionamento com a simples capitalização dos subsidios de desemprego.
Sobre a matéria escrevi uma carta ao ministro da Economia, da qual não obtive sequer resposta acusando a recepção.
A generalidade das empresas deve centenas de milhar de euros ao fisco e à Segurança Social. Como podem estas empresas ser subsidiadas?
No que se refere à formação profissional, a ideia que tenho é que o Centro de Formação não passa de um expediente para encobrir o desemprego. Como pode funcionar um centro de formação na cristalaria sem ter um forno?
Como se pode falar de formação quando, tanto quanto sei, a dita está absolutamente ultrapassada, não dominando os formadores o essencial das técnicas modernas da alta cristalaria?
Criminoso é que, em contrapartida - e como que para acabar as referências de qualidade - se faça tudo para destruir uma equipa qualificadissima, como é a da Jorgen Mortensen, quando bastariam uns reduzidos cobres para a repor em laboração.
Pena tudo isso não ocorrer no Brasil... Já haveria uma investigação policial.
O que se passa na Marinha Grande no sector do vidro é muito mais grave que algumas das histórias dos «mensalões» que ocupam os jornais brasileiros.