Curto e grosso o texto de Manuel de Melo sobre o Conselho das Comunidades Portuguesas.
Não estou de acordo com ele, em boa parte. Mas há uma coisa que é verdade e que eu digo há já muito tempo: a construção deste conselho está, desde a sua origem marcada por um pecado original - o da mentalidade colonialista e tacanha da generalidade dos dirigentes políticos em matéria de emigração.
Defendo, há muito, a criação de autarquias de base não territorial.
Porque é que os residentes no estrangeiro não hão-de ter a sua Câmara com competências que não colidam com a soberania dos estados da residência?
Porque é que não se incentiva a sua organização numa instituição que possa assumir a posição de parceiro social, em pé de igualdade com as confederações patronais e sindicais?
Para mim a resposta é simples: porque a classe política lisboeta tem medo e não tem a menor consideração pelos portugueses residentes no estrangeiro.
Parece-me é que o Manuel de Melo, em vez de lamuriar deve tomar iniciativas.
Não é pelo facto de o Prof. Freitas do Amaral o ter passado à reforma que deve baixar os braços. Essa sanção será extremamente útil se lhe catalizar um justo sentido de revolta e se ele se dedicar ainda mais afincadamente (com mais raiva, Manuel) à denúncia das irregularidades e à defesa dos interesses dos seus compatriotas.
Tenha cuidado - porque lhe pode acontecer alguma coisa desagradável - mas não desista Manuel de Melo...
Não volte a faltar às reuniões do Conselho e não deixe de se candidatar nas próximas eleições. A sua voz, tem ali um som mais elevado. E agora tem, pelo menos, a vantagem de poder falar mais á vontade.
Eles não podem continuar a querer controlar o que você pensa e o que você diz.
«Criado em 1997 para representar os portugueses no estrangeiro junto do poder central português, o Conselho das Comunidades Portuguesas (CCP) representa hoje um conjunto de expectativas frustradas, com os seus dirigentes a fazerem apenas o papel de figurões de um órgão que é completamente ignorado por todos — emigrantes , comunicação social e governo.
Em declarações à Agência LUSA (01.07.2005) o recém-eleito presidente do Conselho Permanente do CCP, Carlos Pereira, é peremptório: «Este órgão de consulta só tem nome. Demasiadas vezes é completamente ignorado». Não se compreende pois, as recentes lamúrias de Carlos Pereira, na RTP-internacional.
Há muito que Carlos Pereira e os seus pares estão conscientes de que este CCP não serve para nada, a não ser para a sua projecção pessoal junto das comunidades onde estão inseridos. O plenário mundial do CCP que teve lugar há dias, em Lisboa, deixou completamente a nu as muitas debilidades do actual Conselho das Comunidades e dos seus líderes. O manifesto aprovado «Por uma política global para as Comunidades Portuguesas» de tão medíocre que é — está ao nível dos seus autores — não mereceu a mínima atenção do poder político e representa ele mesmo o falhanço do actual CCP.
Durante três dias o poder político (governo), num frente-a-frente com os conselheiros, foi dizendo bem nas barbas destes últimos aquilo que pensa fazer em termos de políticas para as comunidades: acabar com os destacamentos de professores para o estrangeiro; a não constitucionalização do Conselho; reestruturar o próprio CCP; tornar o recenseamento obrigatório, etc., etc..
Confrontados com as reais intenções do poder político com aquilo que se prevê seja uma política desastrada para as comunidades, os dirigentes do CCP não foram capazes de aproveitar o palco soberano que era a Assembleia da República para dar um murro na mesa e dizer basta! Deixem-se de brincar com os emigrantes portugueses! Vamo-nos todos embora...! Bem ao contrário, preferiram enveredar pelo caminho da lamúria, enterrando ainda mais o CCP e afundando-se a eles próprios.
O governo agradece e tem agora uma oportunidade soberana para acabar com o Conselho das Comunidades Portuguesas que, como já se viu, apenas serve para sorver uns milhares de euros e somar sucessivos atropelos à lei, com renúncias de presidentes anunciadas há já dois anos, e a entronização de um novo presidente que mais não é do que uma marioneta nas mãos de terceiros.
Pergunta-se então a quem tem beneficiado o CCP ? Naturalmente que aos seus dirigentes (passeatas sucessivas e alguma visibilidade individual) e, pior do que isso, ao Partido Comunista, que através do Conselho das Comunidades Portuguesas tem conseguido a visibilidade que nunca não conseguirá por intermédio das eleições legislativas.»