quinta-feira, janeiro 20, 2005

A miséria a abrir a campanha eleitoral...

No contexto do que escrevi no post anterior, merece especial interpretação esta notícia do primeiro acto público relevante da cabeça de lista do PS para a Europa:

«Paris, 19 Jan (Lusa) - A acção social e as necessidades das comunidades portuguesas nesta área em França foram hoje objecto de uma reunião da candidata do PS pelo círculo da Europa, Maria Carrilho, com o presidente da Misericórdia de Paris.
"Recolhemos documentação e fizemos um ponto da situação da acção da Misericórdia de Paris", disse Maria Carrilho à Agência Lusa no final do encontro.
O envelhecimento da comunidade portuguesa e a partida para a reforma da primeira geração de emigrantes, o baixo valor das pensões e eventual o regresso a Portugal foram algumas das questões debatidas.
"Os lares das Misericórdias em Portugal têm listas de espera extensas e o presidente da Misericórdia de Paris (Aníbal Almeida) comunicou o interesse em criar unidades que aceitassem emigrantes, com uma parte dos rendimentos a reverter para os mais necessitados", referiu a candidata socialista.
"É uma ideia interessante, que até pode incluir a iniciativa de privados", frisou.
Outra questão é o enquadramento dos emigrantes com baixas reformas e poucos recursos, que poderão querer voltar para Portugal, onde o custo de vida é mais baixo.
"A tendência é que muitos milhares de portugueses queiram voltar a Portugal e isso preocupa-nos", disse Maria Carrilho, que esteve acompanhada pelo secretário nacional do PS para as Comunidades, José Lello, e do director do departamento de comunidades, Paulo Pisco.
Maria Carrilho afirmou que o PS "quer encontrar bases para a coesão social" e que esta inclui os portugueses residentes no estrangeiro.
Declarou ainda que esta iniciativa foi "simbólica" e que os contactos com instituições de solidariedade serão retomados "depois das eleições" de 20 de Fevereiro.
"Seguem-se três semanas com a agenda cheia", concluiu.»
Isto é absolutamente chocante a vários títulos.
Primeiro, porque deixa no ar a ideia de que a comunidade portuguesa em França é uma comunicade de miseráveis e de marginais, o que não é verdade.
Segundo, porque se confessa que Portugal não quer que os portugueses mais carenciados - que são felizmente uma minoria - regressem ao País. Não podem interpretar-se de outro modo a afirmação de que a candidata a deputada está preocupada com o facto de muitos milhares de portugueses quererem regressar a Portugal.
O que resulta da notícia é a preocupação de empandeirar essa gentes aos franceses, talvez com aquele discurso do «comeram-lhes a carne, comam-lhe agora os ossos...»
Que tristeza...