É espantosa a arrogância, a incompetência e a insensibilidade da nossa diplomacia...
Veja-se esta noticia do Macau Hoje, edição de 3 de Janeiro...
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«A embaixada portuguesa em Banguecoque assinalou a passagem de ano com um “encontro” nas instalações diplomáticas. A entrada em 2005 ficou também marcada pela primeira visita dos representantes de Lisboa às duas famílias portuguesas que ainda se encontravam hospitalizadas. Seis dias depois do maremoto. Depois, o embaixador falou aos jornalistas. Não soube dizer quantos passaportes foram emitidos pela embaixada nem quantos portugueses precisaram de ajuda financeira. O facto de haver várias famílias portuguesas na Tailândia, em busca de familiares desaparecidos, não fez com que a representação diplomática portuguesa em Banguecoque deixasse de festejar a entrada no novo ano, com um “encontro” entre funcionários e embaixador. O acontecimento não deixou de causar espanto junto dos portugueses que se encontram na capital tailandesa, no rescaldo da tragédia que assolou a Ásia. É que à mesma hora, na mesma cidade, duas famílias portuguesas – uma residente em Macau, outra em Paris –, por exemplo, entravam no ano de 2005 em camas de hospitais. Foi precisamente no primeiro dia do novo ano, seis dias contados da tragédia que atingiu também cidadãos de nacionalidade portuguesa, que o embaixador na Tailândia, Lima Pimentel, foi visitar os portugueses hospitalizados: uma família de três elementos, pais e dois filhos, residentes de Macau, que continuam à procura da mulher e mãe; no segundo caso, a família Bleck, mãe e filho, residentes em Paris (ver texto nestas páginas).
Ao final da tarde, o embaixador, acompanhado pelo director geral dos Serviços Consulares, Sequeira e Serpa, bem como mais um elemento destes serviços, encontraram-se com um familiar de um dos cinco portugueses residentes em Macau que estão desaparecidos há mais de uma semana.
Após a reunião, num dos muitos centros de voluntários da capital tailandesa, na Universidade de Tamasat, Lima Pimentel falou com jornalistas de Macau que se encontravam no local.“Acção prolongada”Depois das queixas que foram sendo feitas ao longo da semana, relativas à falta de acção da embaixada portuguesa, Lima Pimentel assegurou que está a ser feito tudo que é possível. Interrogado pelo Hoje Macau sobre os meios que a embaixada está a disponibilizar para ajudar quem tenta, neste momento, encontrar familiares desaparecidos, o embaixador disse estar a fazer “tudo aquilo de que tenho podido, aperceber-me e que me têm dito.” Explicando que “está a decorrer uma acção naval”, foi dizendo que “quer aqui, quer noutros locais, vamos ter provavelmente uma acção prolongada, pelo que não vai ser fácil.” Referiu-se ainda ao facto de haver “pessoas em unidades de cuidados intensivos, onde o acesso é compreensivelmente difícil” e “os corpos que ainda estão por reconhecer.”
Lima Pimentel assegurou, nesta conversa ao final de sábado, que ontem, domingo, mais iria ser feito para ajudar as pessoas que, desesperadamente, procuram os familiares nas listas de corpos não identificados e nas duas dezenas de hospitais da capital onde se encontram pessoas não identificadas, mas que se encontram impossibilitadas de falar: “Uma das coisas que vamos fazer amanhã, justamente na sequência da conversa que acabo aqui de ter, é procurar através da entidade tailandesa competente, saber exactamente em que hospitais estão corpos por identificar, no sentido de se poder depois transmitir àquelas pessoas que estão em condições de os identificar. Será o que a partir de amanhã de manhã procuraremos pôr em marcha.” Uma acção que, refira-se, foi iniciada seis dias antes pelos familiares das vítimas, que, sozinhos, passaram a pente fino hospitais de Phukhet e de Banguecoque, em buscas de pistas que se revelaram, para já, inúteis.Perante a informação da existência de muitos corpos por identificar nos hospitais de Banguecoque, os jornalistas quiseram saber quais as medidas que a embaixada tinha, até sábado passado, levado a cabo. A resposta de Lima Pimentel é elucidativa: “Em primeiro lugar, não somos nós que os podemos identificar, são apenas as pessoas que os conhecem, a não ser que haja alguns elementos, como por exemplo alianças de casamento, que tenham nomes. Se houver esses objectos, sim, podemos pegar neles. A segunda acção que está agora a ser desenvolvida, é o recurso ao DNA, nomeadamente em relação àqueles corpos que estejam irreconhecíveis. Disponibilizámos cinco médicos legistas portugueses.”
Acerca dos testes de DNA, Lima Pimentel explicou que “no hospital onde fui visitar a família em que há uma senhora desaparecida, iam agora tirar amostras, sei que a acção já começou a ser executada.” Interrogado sobre a recolha de DNA entre a família dos três luso-descendentes desaparecidos, e depois de uma confusão do embaixador com a outra família portuguesa residente em Paris (que estava hospitalizada), o responsável do Governo português em Banguecoque admitiu não saber "neste momento". "Só sei que a acção do DNA já começou a ser executada, mas não posso dar essa informação.” Rematou com a frase: “A acção está em curso porque estão a chegar os especialistas.”
Quanto a medidas para identificar pessoas que estão em estado muito grave, e que não se conseguem identificar, o embaixador disse haver “três tipos de casos: há os corpos, as pessoas que estão em coma e as que estão em unidades de cuidados intensivos. Relativamente aos dois primeiros casos, é possível actuar-se no sentido que eu referi. Quanto às pessoas que estão nas unidades de cuidados intensivos, teremos que aguardar, porque os médicos recusam o acesso de pessoas exteriores.”
Ausente da representação diplomática pela qual é responsável, encontrando-se em Lisboa, só na quinta-feira passada é que Lima Pimentel voltou à Tailândia. Sobre o número de documentos de viagem que a embaixada teve que emitir a pessoas que ficaram sem eles durante o maremoto, o embaixador começou por perguntar ao funcionário dos Serviços Consulares, que foi de Lisboa para Banguecoque, dizendo depois não saber. Acrescentou, de imediato, ter “ideia de que foram poucos, porque houve muita documentação que foi trazida para cá que não foi necessária.”
“Eu pessoalmente dei instruções num caso, o encarregado da secção consular, que tem também competência para determinar a atribuição de fundos de emergência, terá dado noutros. Ele é que poderá dizer quantos foram.” Sobre o valor da ajuda dada, escusou-se a “entrar nesse tipo de pormenor”, dizendo apenas que “naquele caso foi limitada.”
Às críticas relativas ao facto de na embaixada não se encontrar ninguém no dia do maremoto, quando outras representações europeias tinham já constituído grupos de trabalho e linhas telefónicas especiais, Lima Pimentel explicou os jornalistas que “têm que compreender que na embaixada estavam duas pessoas. Isto diz tudo. Houve seguramente muitas horas em que os telefones estavam a ser atendidos. É impossível ter um atendimento 24 horas.” E quanto ao facto de segunda e terça-feira a embaixada ter fechado a horas normais, sem prolongamento do horário de serviço, dada a dimensão da tragédia? “É impossível,” diz o embaixador, que nesses dias estava ainda em Portugal.
“Os contactos que estava a haver de Lisboa decorriam a todas as horas, de manhã e de noite, com pessoas que estavam na embaixada.”As queixas de pessoas que dizem terem telefonado para a embaixada e terem sido “atendidas” por uma gravação também têm uma justificação de Lima Pimentel: “A embaixada tem várias linhas telefónicas. Há os telefones da chancelaria, que são públicos, e que não têm gravação.”Sobre as declarações do Primeiro Ministro português, que assegurou que o possível mau funcionamento da embaixada ia ser investigado, o diplomata disse ter lido “nos jornais”, explicando que “o embaixador Sequeira e Serpa está em Banguecoque e se tiver observado que algo se passou mal, isso será analisado.”“Levantamento” começa uma semana depoisLima Pimentel considera ainda que, neste momento, as pessoas que estão na embaixada são suficientes para resolver os casos pendentes e prestar apoio aos portugueses que tentam encontrar os familiares desaparecidos. Não excluiu, no entanto, a hipótese de recorrer a voluntários que, segundo souberam os jornalistas em Banguecoque, estão dispostos a ajudar e têm como mais-valia dominarem as línguas tailandesa e portuguesa. O embaixador afirmou que todos os funcionários da representação diplomática estão a trabalhar neste caso, “a começar por mim próprio, o encarregado da secção consular, três funcionários administrativos que temos, mais um reforço de Lisboa, o motorista, o telefonista, todos têm uma função nesta acção.”Serão estas pessoas as responsáveis por um levantamento que, segundo as declarações de Lima Pimentel no sábado passado, seria ontem iniciado nos hospitais de Banguecoque: “A partir de amanhã, vai ser feito um levantamento. À medida que a coisa for ocorrendo, se se verificar que precisamos de nos socorrer do trabalho desses voluntários, vamos fazê-lo, isso é mais que evidente.”
Confrontado com as críticas sobre o tempo de resposta da diplomacia portuguesa face a tragédia que se vive na Tailândia, Lima Pimentel remeteu a resposta para o director geral dos Serviços Consulares. Sequeira e Serpa justificou os procedimentos e os tempos da diplomacia portuguesa: “Aqui nunca há tempos adequados, pode ter havido um ligeiro atraso, mas dentro das possibilidades e tendo em conta a situação com que nos deparámos, de um momento para o outro, foi o tempo possível. O fenómeno verificou-se às dez da manhã aqui, na Tailândia. Quando pudemos constituir uma célula em Lisboa, cerca da uma hora da tarde, é evidente que passaram umas horas e não se tinha exactamente a noção da tragédia. Mas houve uma reacção imediata, imediata com estes condicionalismos, obviamente.”Sequeira e Serpa saiu também em defesa da representação em Banguecoque: “Da parte da embaixada, a partir de domingo que se constituiu uma equipa, muito pequena, que não dava para atender a todas as necessidades, mas que começou imediatamente a funcionar e que se manteve em funcionamento até agora.”Só na quarta-feira é os dois funcionários do Consulado Geral de Portugal em Macau chegaram a Phukhet.
Questionado sobre a razão que esteve na origem das 72 horas de intervalo entre o maremoto e a partida dos dois elementos para a Tailândia, o responsável lembrou primeiro que “uma das pessoas que veio de Macau estava em Lisboa, a funcionária que se encontrava vocacionada para este tipo de situações estava em Portugal e foi contactada logo no domingo.” E o outro funcionário, que estava em Macau? “O outro funcionário estava em Macau, mas entre o momento em que tivemos a informação e o momento em que foram possíveis as disposições para o enviarmos para Banguecoque, só conseguimos formalizar essas instruções a partir do momento em que o Consulado de Macau começou a funcionar e nós próprios começámos, na parte administrativa, a funcionar também.”No que toca à existência de alegadas falhas que o Primeiro Ministro português tenciona investigar, Sequeira e Serpa diz não perceber “essa pergunta, porque acabei de dizer que a embaixada e os serviços em Lisboa têm estado a trabalhar 24 horas por dia.” Mais uma vez, o argumento de que os contactos de Lisboa para Banguecoque foram sempre possíveis: “A embaixada, tanto quanto eu sei, pelo menos da nossa parte, esteve sempre contactável. O que não podemos exigir é que uma pessoa atenda 4 ou 5 telefonemas simultaneamente. Da nossa parte, a qualquer hora do dia ou da noite, sempre que precisámos de contactar com a embaixada e com o pessoal da embaixada conseguimos, com algumas dificuldades, é certo.”