Escreve José Manuel Fernandes no Público :
As listas do PSD são uma gargalhada. As do PS, mesmo sem chegarem a idênticos limites de extravagância, não deixam de criar o maior dos incómodos. E de revelar o estado em que está o outro partido que, a par com o PSD, tem sido um dos pilares da nossa democracia. Pelos mais diferentes motivos.
Primeiro, Paulo Pedroso, mesmo para os que estão convictos da sua inocência, mesmo para os que simpatizam com ele - assuntos sobre os quais não tenho nem devemos pronunciar-nos - concordam que alguém que tem um processo como o que ele tem não devia, pura e simplesmente, aceitar ser candidato.
Primeiro, porque está num lugar elegível se o PD obtiver, como deseja, a maioria absoluta. Depois porque é uma falácia afirmar que não ocupará o seu lugar enquanto tudo não estiver resolvido nos tribunais - e é uma falácia porque entretanto está a pedir o voto dos eleitores. Leonor Beleza esteve anos fora da Assembleia e de cargos políticos por causa do processo dos hemofílicos - que custaria a Pedroso, que tem uma carreira universitária, fazer o mesmo? Segundo, Matilde Sousa Franco.
Alguma vez fez política? Alguma desempenhou um cargo político? Conhece-se-lhe outra qualidade além de viúva de Sousa Franco? Não, não e não. E como Portugal não é (pelo pelos julgamos que não é) nem as Filipinas nem a Nicarágua, para não citar outros exemplos terceiro-mundistas, onde ser viúva de um líder político é meio caminho andado para o poder, a sua candidatura chega a ser mórbida. E só existe para explorar sentimentos populares que nada têm a ver com a nobreza da política.
Terceiro, Helena Roseta. Foi uma grande deputada. Protagonizou momentos de enorme coragem e lucidez, quer no PSD, quer no PS. Teve a sua evolução política, absolutamente legítima. Sobretudo pelo desassombro e frontalidade. Dela recordamos a melhor intervenção a defender a despenalização do aborto na penúltima vez que uma lei foi votada - tal como recordamos que a melhor intervenção contra esse projecto de lei foi a do seu marido, Pedro Roseta. Ambos ficam de fora do próximo Parlamento, um proscrito pelo PSD, outro pelo PS. É o Parlamento e o país que perdem.
Quarto, o nepotismo. O que faz uma filha de Mesquita Machado nas lista socialista de Braga? E a irmã de Manuel Alegre na de Coimbra? E certas figuras das relações próximas de Narciso Miranda nas listas do Porto? Quinto, o aparelhismo. Que quer dizer cinzentismo. Impreparação. Carreirismo. Luta por um "tacho".
Muitos estão em lugares elegíveis, outros à "babugem" dos lugares que ficarem livres quando os que estão à frente saírem para o Governo, como todos os socialistas esperam. É assim que até antigos assessores de imprensa de Guterres poderemos ver sentados em São Bento, ao mesmo tempo que ficam de fora deputados com provas dadas. Finalmente a ideia de que não existe real abertura do partido ao exterior.
Luís Braga da Cruz é um bom nome para o Porto? Talvez, mas esteve no Governo de Guterres na sua fase descendente. Manuel Pinho é um independente por Aveiro? Seguramente, mas neste momento é tudo quando Sócrates tem para mostrar como rosto para a Economia e finanças, e é muito pouco a avaliar pela pobreza das suas intervenções públicas. Se as listas queriam que voltássemos "a acreditar", então falharam. Comparadas com elas havia, pelo menos na aparência, mais frescura nas listas de Ferro Rodrigues. Uma frescura que, mesmo assim, foi sol de muito pouca dura.
Muitos portugueses subscrevem esta análise...