O Presidente Jorge Sampaio veio, à beira de uma nova campanha eleitoral, sustentar que é nessessário alterar o sistema político, de forma a que ele permita maiorias absolutas.
Parece-me mal que se suscite este tema neste momento. Ele serve para centrar o debate político em torno de uma quesão teórica, desviando a atenção dos eleitores.
E isso é especialmente grave quando ainda não se ouviu uma ideia concreta para o País.
Os partidos não passam de generalidades; não há respostas para as grandes questões nacionais.
A entrevista de Sampaio foi uma autêntica pedrada no charco.
O PS veio dizer que concorda... e eu acho mal. Agora estamos numa maré de maioria, mas virão outros tempos e temos que nos lembrar deles.
O BE e o PC vieram dizer que Sampaio está a favorecer o PS. Não é certo que assim seja. Pode até prejudicá-lo, porque provoca uma reacção que não é simpática para muitos eleitores.
O dirigente do Bloco de Esquerda, Fernando Rosas, acusou o Presidente da República de condicionar o sentido de voto dos cidadãos nas eleições legislativas antecipadas ao defender um sistema eleitoral que facilite maiorias absolutas.
«Em início de campanha eleitoral é um pouco inusitado vir discorrer sobre o sistema político», afirmou Fernando Rosas, argumentando que as declarações de Jorge Sampaio ajudam o Governo a «desviar as atenções da questão principal - o julgamento da sua própria actuação - para uma questão secundária».
Não podemos deixar de lhe dar razão.
O que o país precisa de saber neste momento é que soluções têm os partidos políticos para Portugal.
Falando no Porto, no quadro das Novas Fronteiras, José Sócrates afirmou subscrever a necessidade de reforma do sistema eleitoral no sentido de proporcionar a estabilidade das maiorias absolutas.
Anota o Diário de Notícias que o líder do PS entrou em contradição com as posições defendidas ontem pelo seu porta-voz, Pedro Silva Pereira, que, em declarações ao DN, afirmou o desejo socialista de apenas reformar a lei eleitoral, abrindo a porta a círculos uninominais.
«Compreendo muito bem as preocupações do Presidente da República. O País precisa de estabilidade política, precisa de políticas que vão para além dos meros ciclos eleitorais», disse José Sócrates.
É uma declaração branca e contraditória, mas que vai além do que disse o Presidente. Sócrates fala de um desejo de durabilidade das políticas para além dos ciclos eleitorais, o que é muito diferente do que foi trazido à liça pelo chefe do estado.
Novos sonhos de um bloco central? O bloco central de interesses sonha há muito com essa estabilidade.