terça-feira, novembro 22, 2005

Comentário de Eulália Moreno à visita de Cavaco Silva a S. Paulo

A visita do professor Cavaco e Silva teve início na quinta-feira, dia 17 de Novembro cujo primeiro compromisso foi um Jantar Privado às 20h30 na residência do sr. Cônsul Geral de Portugal em São Paulo, Luis Barreira de Sousa, à custa do Contribuinte Português portanto à custa de verbas públicas. Recordo que o dr. Mario Soares foi igualmente convidado para jantar na casa do sr. Cônsul e declinou do convite para o qual estavam convidados mais de 30 pessoas que até a última hora acreditavam que o referido jantar aconteceria, embora o dr. Mario Soares tivesse informado, com uma antecedência de três dias, o sr. Cônsul Geral de que não compareceria a jantares privados pagos com verbas públicas.

A Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil foi a responsável pelo almoço/conferência do dia seguinte, contratando junto à directoria da Casa de Portugal o aluguer do Salão de Festas porque contava com 400 presentes que pagariam 90 reais pelo almoço servido pelo Buffet Dona Urraca.

Friamente recebido à entrada da Casa de Portugal, abordado com especial interesse pelos jornalistas correspondentes das emissoras portuguesas e pela imprensa luso-paulistana , o professor manteve-se sempre na rigidez habitual, contraído, enfastiado e enfatuado .Houvesse um fundo musical adequado para o momento teria sido um dos clássicos de Ivan Lins na voz de Elis Regina: " Paz, eu não aguento mais, me deixa em paz, sai de mim, me deixa em paz". O dr. Mario Soares puxa conversa, responde aos jornalistas com cordialidade, deixa toda a gente à vontade. O professor Cavaco e Silva não tem essa qualidade . Maneiras de ser de cada um. Há no olhar do professor Cavaco e Silva algo frio e distante que, certamente os poucos anos em que viveu na Inglaterra não explicam.

Com o dr. Mario Soares eu me sinto , de facto, num Abril seja qual for o mês, Com o professor Cavaco e Silva, parece ser sempre Novembro, sem castanhas, sem magustos nem vinho novo.

O almoço, que seria conferência, conforme o convite, ficou-se pelo almoço e num breve pronunciamento do professor Cavaco e Silva que nada disse de útil ou convincente, além dos lugares comuns dos elogios a todos os Emigrantes. E uma promessa de que , caso seja eleito presidente, criará uma secretaria, para trabalhar ao lado da Presidência sómente com o encargo de tratar de assuntos relacionados às Comunidades. Sequer nesse momento, de total e completa abstracção, de " viagem na maionese", conseguiu o professor empolgar os 196 presentes. Ah,,já me esquecia: o " sombra" do professor Cavaco e Silva aqui em São Paulo foi o professor primário José Cesário, o secretario de Estado das Comunidades, o tal de triste memória, o que correu o mundo com a sua assessora de imprensa, Ana Folhas, que nunca marcou uma colectiva entre os jornalistas da imprensa luso-brasileira e o seu "chefe". De repente, imaginei que a imaginária secretaria será entregue ao Cesário, cuja competência é fruto da imaginação de Durão Barroso, seu amigo de infância.

O almoço durou aproximadamente 60 minutos, o professor ainda se prestou a receber cumprimentos de alguns empresários presentes( a maioria deles brasileiros) e retirou-se , sem palmas nem manifestações de entusiasmo.

Embora não constasse do programa de visita ao Brasil distribuído pelo atabalhoado assessor Fernando Lima ,que nem o tinha em número suficiente, consta que dali o professor seguiu para a Portuguesa de Desportos. Nessa mesma noite seguiria para Santos. Ontem, sábado dia 19, para o Rio de Janeiro , regressando a Lisboa.

Além de toda a frieza sentida na Casa de Portugal , saliento que emissoras de televisão convidaram o professor Cavaco e Silva, como anteriormente o tinham feito ao dr. Mario Soares, para entrevistas e participação no programa "Canal Livre" . O professor Cavaco e Silva declinou de todos os convites. Afinal, o que lhe interessam os votos de meia dúzia de parolos que insistem em ser portugueses como os do Reino? Pretendendo ser presidente de Portugal, ele devia prever que aos empresários brasileiros e ao povo brasileiro, em geral, interessa conhecer aquele que está em campanha para governar o país que é o berço da nossa Língua e Cultura. Mas o professor não está para esses ajustes, tampouco para " cavaqueiras" e como sempre declarou, enquanto primeiro-ministro e via os seus ministros "caindo feito tordos" com as escandaleiras denunciadas pelo jornal Independente, que " sabe sempre o que faz e que nunca teve qualquer tipo de dúvidas", é de se supor que saiba o que está fazendo, muito embora as sondagens já apontem uma preocupante queda nas intenções de voto para a sua pessoa.

A minha simpatia pelo dr. Mario Soares não é segredo para ninguém. Sempre assumi publicamente que o meu voto foi, é e sempre será PS.

Jamais coloquei em dúvida a idoneidade moral do professor Cavaco e Silva. Nunca nada foi denunciado por nenhum jornalista contra ele . Até, enquanto primeiro-ministro, executou pequenas obras no seu até modesto apartamento, ele pediu licença à Câmara Municipal de Lisboa, como se de apenas um cidadão comum se tratasse. Portanto, em honestidade, nada há que se lhe aponte. Mas, como os meus pais me ensinaram que honestidade não é qualidade, é OBRIGAÇÃO , penso que o professor Cavaco e Silva , com a sua frieza e distanciamento, precisava de algo mais do que ser honesto. Falta-lhe aquela nossa Alma portuguesa, que o moçambicano Rui Guerra e o brasileiro Chico Buarque tão bem retrataram na peça de teatro "Calabar" : "ou de imediato a nossa mão, cega, executa, ou no minuto seguinte, o nosso coração perdoa".

Falta ao professor Cavaco e Silva a capacidade de transmitir o calor, o aconchego de um pai , ou se preferirem, de um avô . E, nos dias de hoje, amor e tolerância são bens mais preciosos do que contas e tecnocracia.

Respeitando ,como sempre, a opinião alheia, a todos os candidatos que se consideram capazes de serem presidentes de Portugal e de todos seus cidadãos , estejam onde estiverem, desejo Boa Sorte. A Boa Sorte deles, será também a nossa Boa Sorte.