Confirmado o inimaginável: o Cônsul Geral de Portugal em S. Paulo ofereceu ontem à noite um jantar em honra do candidato presidencial Aníbal Cavaco Silva, que ocorreu na chamada «residência oficial».
Segundo as informações que me chegaram, foram convidados e estiveram presentes, entre outros, todos os conselheiros do Conselho das Comunidades Portuguesa, o deputado do PSD José Cesário, o representante do Banco Millenium, o presidente do Banco Luso-Brasileiro e o representante do ICEP no Brasil.
Compreendo a gratidão do actual cônsul geral relativamente aos governos do PSD, que montaram em S. Paulo esta macacada de um embaixador sem embaixada, que não pode deixar de ser interpretada como um favor pessoal.
Mas não posso aceitar como normal este envolvimento de uma repartição pública portuguesa na campanha eleitoral de um dos candidatos à Presidência da República.
Objectivamente, esse envolvimento redunda no envolvimento de dinheiros públicos numa das campanhas, o que, por si só só merece a maior censura.
Porém o mais grave não é isso: é a quebra da independência que o Consulado deveria manter por relação a todos os candidatos, manifestamente ofensiva da confiança que, na base da postura imparcial, um serviço público como este deve manter.
Estes banquetes custam muito dinheiro, o que, só por si, justificava que se não fizessem nestes tempos de contenção. Mas mais do que o desperdício, choca a promiscuidade da mistura de interesses e, sobretudo, a impunidade.
Claro que não vai acontecer nada e que um acto desta gravidade vai ficar impune, como fica impune tudo o que de censurável se faz sob a alçada do actual Ministro dos Negócios Estrangeiros.
Martins da Cruz e José Cesário continuam a mandar no Ministério, como se viu deste desafio que o Cônsul em S. Paulo fez a Freitas do Amaral.
É uma pouca vergonha...
O Sr. Cônsul e a Srª Vice-Cônsul de Portugal em S. Paulo têm todo o direito de apoiar Cavaco Silva e de se envolver na sua campanha eleitoral. Como tal, tinham o direito de promover um jantar de homenagem como o que promoveram.
Não podiam era fazê-lo em representação do Estado e usando as instalações que estão afectas às funções públicas que desempenham nem fazendo pagar as despesas com dinheiros públicos.
Estamos, objectivamente, perante um ilícito eleitoral, mesmo que estejamos ainda na pré-campanha.