terça-feira, novembro 15, 2005

Resposta à Eulália Moreno

Querida Eulália:

Obrigada pelas tuas palavras, que são excessivas no que toca à minha pessoa.
Procuro ser um profissional competente. Mas procuro ser, antes de tudo, um cidadão respeitável.
Por mais que isto doa a muita gente, a questão do Miguel é apenas mais uma bolha provocada pela peste.
O que é preciso é debelar esta peste que nos agride a todos, mas agride de forma especial os mais fracos.
Nem eu nem ninguém é capaz de resolver os problemas se o próprio sistema os cria a um ritmo e com qualidades que ficam encobertas na imensidão do silêncio.
Nunca se saberá quem está a ser prejudicado e ofendido.
Porque é gente anónima, que não tem recursos nem acesso aos advogados.
Dos que têm meios, não tenho muita pena. Eu ou alguém lhes resolve os problemas. Eles pagam para isso.
E os outros, os pobres, os desprotegidos, os que nem sequer sabem ler?
Até é que residente o fulcro da desumanidade.
Pronta intervenção? Enganas-te. Intervenção de desespero: nosso e da família.
O escritório tem este caso desde Junho e nunca os meus colegas conseguiram aceder ao Consulado. Foi preciso fazer escândalo na porta para que o António Miguel e a mulher conseguissem entrar sem advogado. Para lhe dizerem que era impossível fazer o que acabaram por fazer.
Foi preciso eu, no dia seguinte, chamar uma estação de televisão e fazer outro escândalo na porta, para me deixarem entrar e, apesar de eu ter explicado o que era preciso fazer e o que a lei estabelece nestes casos, disseram-me que não faziam.
Achas que isto é «pronta intervenção».
A pronta intervenção é impossível em S. Paulo. O que podia resolver-se numa hora, custou dezenas de horas.
E isto era um caso simplicíssimo, sem nenhuma dificuldade. Imagina os que são mais complexos.
Os cidadãos estão entregues aos bichos.
Abraço do
Miguel Reis