quarta-feira, novembro 09, 2005

Desgostos do Sporting... e do PS

Ficar uns dias de molho dá jeito para meditar.
Quando se passa o meio século é melhor fazê-lo no isolamento.
À medida que se muda de calendário ficamos mais sensíveis relativamente à imaginação e à inteligências das crianças e mais intolerantes relativamente às garotices dos adultos.
Mas também suportamos mais facilmente os desgostos que esta coisa das desilusões deixa calo.
O Dr. Anibal dizia-me ontem - a propósito de uma das possíveis causas da minha febre - que dentro de quatro ou cinco anos não vai haver operações de coração aberto.
Estivemos duas horas a falar sobre robótica, limpeza de artérias, modos de combater o stress (ele acha que o clássico, isto é uma bela namorada ainda é o mais eficaz), fantasias para ser feliz, tudo com uma gana de construir que só tem quem tem muita vontade de viver. Nós dois, por exemplo...
O segredo dos 50 anos está em não perder a esperança de mudar o mundo mas, ao mesmo tempo, criar uma blindagem que evite o sofrimento causado por todos os que nos traiem.
É desagradável quando o Sporting perde. Mas é uma estupidez ficar a sofrer com isso... Se perdeu, perdeu. Que mal vem ao mundo? Vamos agora mudar de clube por causa disso, quando ser do Sporting, do Benfica ou do Porto não passa de um fétiche dos novos gregarismos do século passado?
As coisas são mais complicadas quando se trata de política.
Há quem pense que os partidos políticos são o eixo do mal, uns porque adorariam ter soluções autocráticas e outros porque, pura e simplesmente, têm inveja dos que têm as lideranças.
Eu penso que os partidos, apesar de todas as suas deficiências, são essenciais à manutenção dos regimes democráticos e que é importante que eles tenham o máximo de cidadãos nos seus ficheiros.
Um cidadão isolado tem muito mais força cívica se for militante de um partido político, mesmo que faça uma militância individual, do dia a dia, da influência no café, na escola, no emprego.
Os partidos políticos democráticos são agremiações de pessoas em torno de ideias de programas; não são clubes de carneiros ou obediências organizadas para veneração de um lider.
Quem, no fim de contas, tem a legitimidade maior para denunciar os desvios dos partidos do governo são os próprios militantes desses partidos.
É claro que nem tudo o que os partidos prometem nas campanhas eleitorais pode ser cumprido no imediato. Há ponderações a fazer, na base das concretas limitações orçamentais e do sagrado princípio da boa fé, que também aqui deve funcionar.
Mas há outras questões cuja solução se prometeu ao eleitorado cujo cumprimento é absolutamente viável.
É chocante quando essas questões se não resolvem e quando o que antes se denunciou agora se branqueia.
Isso não é honesto e é politicamente inaceitável.
Mas, mais do que isso, é intolerável quando antes se levantaram suspeitas sobre irregularidades financeiras alegadamente cometidas sob a tutela dos governos anteriores.
É óbvio que o PS se está a portar muito mal relativamente à questão do Consulado Geral de Portugal em S. Paulo.
As pessoas que antes atiçaram lenha para a fogueira e que suscitaram as maiores suspeitas sobre as questões económicas conexas com a mudança do Consulado Geral da Avenida da Liberdade para a Rua do Canadá meteram a viola no saco agem agora como se quisessem branquear toda a situação.
Onde estão as facturas, quem pagou as obras, que concursos foram feitos para a sua ajudicação, que empresas estiveram envolvidas no negócio e que facturas emitiram? Há personalidades políticas ligadas a essas empresas? De que partidos?
Tendo havido subsidios da Caixa Geral de Depósitos e de empresas cotadas em bolsa foram cumpridas as formalidades legais dessas transferências de dinheiro. Como e a quem foram prestadas as contas do destino dados a essas dezenas de milhar de contos?
Tudo isto era perguntado há meses por pessoas do PS que agora nem sequer querem ouvir falar do assunto e que procuram silenciá-lo a todo o custo.
Dá-me desgosto... mas já não sofro com isto. Rio-me com a superioridade de quem não muda quando muda o poder.
Traduzindo melhor: sorrio para mim próprio com aquele sorriso próprio do desprezo.
Tulio Cícero tinha para esta gente um fabuloso provérbio: «Camelus cupiens cornua volerat audies perdidit».
Ps - Desculpem mas desta vez não traduzo