quinta-feira, novembro 10, 2005

Terça-feira, 16 horas

Chegamos ao Consulado e assumo a liderança.
«Sou advogado em Portugal e no Brasil, estão aqui os meus documentos. Venho acompanhar estes clientes que querem proceder ao registo do nascimento de um menor. Já estiveram cá ontem».
Resposta do segurança: «O Sr. que é advogado não pode entrar. As pessoas não podem entrar acompanhadas de advogados».
Ergui a voz e ordenei: «Faça favor de chamar o responsável. Eu tenho o direito de falar com ele».
O homem telefonou e insistiu que eu não poderia entrar, mas que os clientes podiam.
Ripostei que não entravam sem mim.
Entretanto recebi o telefonema da Band... E falei alto para que todos os da segurança ouvissem.
«Não nos deixam entrar. Isto está muito tenso. Claro que esperamos por vocês aqui e que falamos para a televisão. Aliás não sairemos daqui antes de fazer o registo. Nem que passsemos aqui a noite... Mas para que programa é? Para o Jornal da Band... Sim ficamos à vossa espera».
Passados menos de cinco minutos os seguranças abriram a porta repentinamente e quase nos empurraram para entrar.
Ficamos na sala de espera durante mais de meia hora.
Fomos finalmente recebidos por um funcionário, o mesmo que atendeu os clientes no dia anterior, muito simpático, educado e incomodado que me disse depois de me ouvir: «Oh Sr. Dr. desculpe mas nós não sabemos fazer isso».
Mas então eu ajudo, tenho aqui os códigos, vamos lá com calma resolver este problema. Isto é tão simples. E se tiver dúvidas telefone ai para a Conservatória dos Registos Centrais. Há uns funcionários zelosos que ainda atendem a esta hora, vá lá...
A calma do homem e a sua sinceridade devolveram-me a calma. Fez-me pena...
O homem levantou-se foi até lá ao fundo a um gabinete onde estava a Consul Adjunta e veio acompanhada com ela.
Sem ouvir nada, a senhora começou aos gritos: «Nós não fazemos nada. Não fazemos nada sem marcações e sem estudarmos os documentos».
«Mas não tem que estudar documentos nenhuns... É uma declaração de nascimentos. Temos aqui ambos os pais... O Sr. funcionário já disse que não sabem fazer isto. Se não sabem, eu ensino; estou aqui para ajudar...»
«O Sr. está a faltar-me ao respeito. Baixe a voz...» - ripostou sem argumento quando eu estava a falar, propositadamente num mais baixo.
Ai elevei a voz para lhe dizer que «a senhora é que me está a faltar ao respeito».
Constatei que a má vontade era enorme e que dali não levávamos nada.
Coloquei de novo a voz em tom muito baixo e disse: «Então por favor dê-me o livro de reclamações. É só para fazer prova com vista ao artº 294º do Código do Registo Civil».
Aí a Cônsul Adjunta saiu, foi buscar o livro de reclamações e regressou muito mais calma.
O artº 294º do Código do Registo Civil diz que «os funcionários do registo civil, os párocos e os agentes diplomáticos e consulares que não cumprirem os deveres impostos neste Código respondem pelos danos a que derem causa».
Nunca me passou pela cabeça que pudesse funcionar como calmante.